Gary Oldman é um dos atores de “Parthenope”, de Paolo Sorrentino, já nos cinemas.
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Quem não se lembra do Drácula de Coppola, do Sirius Black da saga "Harry Potter" e de tantos outros papéis inesquecíveis, como o recente Harry Truman do “Oppenheimer” de Christopher Nolan. Por detrás, o mesmo ator, o grande Gary Oldman, que vemos agora interpretar o escritor John Cheever em algumas sequências inesquecíveis de “Parthenope”, de Paolo Sorrentino. Estivemos a conversar com o lendário ator.
O que pensou quando leu o guião? É um papel um pouco secundário.
Há muitos anos que sou fã do Paolo Sorrentino. Para ele, representaria qualquer coisa. Há tempos alguém me perguntou com quem gostaria de trabalhar. Respondi que tinha o primeiro nome na minha lista seria Paolo Sorrentino, mas achava que seria pouco provável. Só que alguém chamou a atenção dele. E contactou-me, disse que era um papel pequeno, mas uma personagem interessante.
O escritor John Cheever, que interpreta, é uma personagem verídica.
É verdade que a personagem é o John Cheever, mas é mais uma construção ficcional e romantizada. É o Cheever do Paolo, da imaginação dele, que aliás conhece muito melhor a obra dele do que eu. Mas há uma coisa que reconheci e que podia interpretar, esta espécie de alcoólico, muito triste e melancólico, que ele era.
O que o atraiu no cinema de Sorrentino?
Sempre que sei que há um novo filme do Sorrentino não posso esperar para o ver. Gosto da filosofia dele, da forma como olha para o mundo. Gosto da inteligência dele, do seu humor, das belas pessoas que pôe em cena. Podemos identificar-nos com elas, mesmo que não sejamos italianos e por mais excêntricas que sejam. E gosto da forma como ele conta uma história visualmente. Ficamos sempre surpreendidos com os filmes dele.
O filme é também sobre Nápoles. Com que impressão ficou da cidade?
Eu adoro a Itália. Já lá estive várias vezes. Mas não a conheço o suficiente. Quando viajo para um lugar, na maior parte dos casos é em trabalho e não consigo ver quase nada. Tenho a certeza que há locais em Nápoles onde é perigoso ir, mas agora gostava de lá voltar, apenas como turista.
No filme, o John Cheever está retirado em Nápoles. Já pensou fazer o mesmo?
Já o faço, vivo em Palm Springs. Entre temporadas da série estive sete meses parado. Pelo meio trabalhei cinco dias no filme do Paolo e um no do Chris Nolan. Tenho o que se pode considerar uma vida em férias. Tenho sol, um céu bonito, montanhas. Longe de toda a porcaria deste mundo. Mas um dia vou retirar-me, não quero continuar a fazer este trabalho quando tiver 80 anos, se chegar lá. E tenho outros interesses na vida.
Como por exemplo?
Sempre gostei de fotografia. De tirar e revelar. É esse o meu hobby, o lugar onde tenho prazer. Tenho imensas máquinas fotográficas, torna-se um vício. Tenho uma boa coleção de lentes do século XIX. E estou a escrever um argumento para um filme.
O que gosta mais de fotografar?
Pessoas. Paisagens. A topografia da Califórnia é muito interessante. Depois dou as fotografias, ponho-as na parede, olho algum tempo para elas, depois guardo-as na gaveta. Por vezes olho para uma fotografia a preto e branco e gostava de ter estado naquela fotografia. Gosto muito do século XIX, mesmo que não gostsse de viver nessa época.
O que pensa da personagem de Parthenope?
Há alguns paralelos entre Cheever e Parthenope. Ela tem essa aspiração de um dia poder vir a ser uma escritora. Quando ela o encontra, não sabe quem ele é. Há uma espécie de sedução entre os dois. Ele serve como um aviso para ela, mostra-lhe como acabou. Com uma existência isolada e solitária. É assim quando se escreve ou se pinta, acaba-se fechado numa sala. Mesmo se queremos ser atores, temos de fazer sacrifícios e não pensar em mais nada. Ser artista é uma ocupação muito egoísta.
A cena final entre ambos é magnífica…
Há essa frase maravilhosa que ele lhe diz: não quero tirar-te um minuto que seja da tua juventude. Ele regressa para o mundo da escuridão em que vivia e ela vai na direção oposta, vai viver a vida. Torna-se antropóloga. O filme é também antropologia, uma viagem pela vida.