Além dos grandes palcos, a festa do jazz na Cidade Berço prolonga-se nas jam sessions após os concertos.
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A 31ª edição do Guimarães Jazz, entre 10 e 19 de novembro, tem o cartaz mais português de sempre. Este será também o cartaz com mais vozes, a começar pelo concerto inaugural de Dianne Reeves.
Ivo Martins, o programador do festival, assume-se orgulhoso quando verifica que muitos nomes agora consagrados regressam a Guimarães "onde já tocaram nas jam ou com a Banda da ESMAE". Ainda assim, o cartaz mais português de sempre "não foi montado de propósito, aconteceu", confessa. Compara a forma como o festival vai sendo programado com fazer jazz de improviso. "Se pudéssemos fazer isto em qualquer data...", suspira, "mas temos de encaixar aquilo que queremos naqueles dias e conjugar isso com a disponibilidade dos artistas".
Foi das manobras com os "imponderáveis" que este ano, "aquilo que inicialmente parecia impossível, afinal aconteceu" e Dianne Reeves vai abrir o Guimarães Jazz, no dia 10 de novembro, no Grande Auditório Francisca Abreu, do Centro Cultural Vila Flor. Num ano em que o festival tem mais vozes do que alguma vez teve, começar com alguém que é considerada uma herdeira do legado de vozes como a de Ella Fitzgerald, é um bom arranque. A Big Band da Escola Superior de Música e Artes do Espetáculo (ESMAE) também terá cantores em dois ou três temas e o projeto Porta Jazz (dia 13) inclui três cantores. "Decidimos arriscar. Temos tido uma certa relutância, uma desconfiança relativamente a algumas vozes que andam entre o jazz e a música de casino, mas este ano decidimos arriscar", afirma o programador.
JÁ FORAM VENDIDOS 335 BILHETES
Nomes como os da diva norte-americana ou do saxofonista Archie Shepp, que toma conta do palco maior do Vila Flor, no dia 11, justificam o bom movimento na bilheteira. Segundo A Oficina - organizadora do festival, em parceira com a Associação Convívio e a Câmara Municipal -, já há 335 bilhetes vendidos e 130 assinaturas.
Este será também, um Guimarães Jazz de cruzamentos artísticos, bem ilustrados pelo cabeça de cartaz para o dia 12, sábado, o percussionista Hamid Drake. Dança, spoken words, trompete contrabaixo, aparatos eletrónicos, vibrafone e, claro, bateria e percussão, mesclam-se nesta homenagem à música de Alice Coltrane.
No domingo, dia 13, a Big Band da ESMAE será dirigida pelo trompetista e compositor Victor Garcia. Esta é a oportunidade que os alunos de jazz têm de, anualmente, se apresentarem neste grande palco e de trabalharem com músicos reconhecidos. Victor Garcia, nome proeminente da cena de Chicago, volta no último dia, dessa vez em quinteto (teclas, contrabaixo, bateria e a vocalista Jill Katona).
A colaboração entre o Guimarães Jazz e o Projeto Sonoscopia, iniciado há cinco anos, tem como objetivo mostrar ao público propostas musicais tangenciais ao jazz. Em 2022, a proposta é o duo constituído pelo australiano Will Guthrie e o português David Maranha. Um emaranhado de drone music, psicadelismo, krautrock e jazz.
LIGAÇÃO AO TERRITÓRIO
Ao longo dos mais de 30 anos de existência o festival vimaranense tem cultivado uma ligação com o território e com a comunidade. Uma das formas mais visíveis, nos últimos anos, é a ligação com a Orquestra de Guimarães. Este ano, a Orquestra vai tocar, no dia 17, uma reinterpretação do albúm "Ibéria", de Manuel de Oliveira (compositor e guitarrista vimaranense), sob a direção musical de Carlos Garcia.
Com três décadas, o Guimarães Jazz, por vezes, vai repetindo nomes. A organização aposta em apresentar o maior número de músicos permitindo uma maior "amplitude de descoberta" ao público. Contudo, há nomes que se tornaram "uma inevitabilidade". Esse estatuto, este ano, é reclamado pelo saxofonista David Murray - presente na edição de 2014, com o Infinity Quartet -, desta vez em octeto (saxofe alto, trompete, trombone, guitarra, contrabaixo, piano e bateria).
JAZZ NOITE DENTRO
Ao longo dos dias do festival, no Café Concerto do Vila Flor e no Convívio Associação Cultural, entre a meia-noite e as duas da manhã, há jam sessions, com a habitual informalidade que permite dar dois dedos de conversa ou beber um fino com os músicos. A entrada nas jam é gratuita para quem tiver bilhete do concerto no Grande Auditório e custa três euros para os outros.
Os bilhetes, sem desconto, variam de 10 a 15 euros, com desconto, de 7,5 a 10 euros. Há três assinaturas: 90 euros, para todo o festival, 45 euros para quatro concertos e 35 euros para três concertos