A série de animação mais duradoura de sempre chegou à TV há 27 anos. Hoje, têm mais de 200 milhões de espectadores.
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Foi há 27 anos que o mundo ficou a conhecer aquela que viria a tornar-se uma das mais célebres famílias do mundo. Nos Estados Unidos já tinha sido vista, de relance, no Tracey Ullman Show, mas só a 17 de dezembro de 1989 é que "Os Simpsons" tiveram direito a um primeiro episódio com nome próprio.
Criada por Matt Groening, a série tem existência garantida até, pelo menos, 2018. Independentemente disso, já é a produção mais duradoura de sempre da história da televisão. Até agora foram transmitidos mais de 600 episódios. Imunes ao desgaste, "Os Simpsons" têm mantido fãs em todo o mundo, somando mais de 200 milhões de espectadores. Em Portugal, a produção é transmitida pela Fox Comedy, que este sábado lhes dedica uma emissão especial, e pela RTP2.
"Facilmente a melhor, mais louca e inteligente estreia da temporada 1989-90 é Os Simpsons. É feita em pequena escala, mas perfeitamente concebida e executada. O que temos aqui, do criador Matt Groening, é uma rara confluência - escrita deliciosa, desenhos e vozes a ajustarem-se como um Matisse", descrevia Howard Rosenberg, do jornal "Los Angeles Times", no final da primeira temporada.
Premonitória ou clarividente, a verdade é que a série permanece como uma obra de arte intemporal até aos dias de hoje, mantendo-se transversal a várias gerações. De uma história em torno das asneiras e peripécias de Bart transformou-se numa trama em torno de Homer, o pai que representa o pior e o melhor dos Estados Unidos. Isto acentuou o caráter de "sitcom animada" que a série foi afirmando ao longo dos anos, centrando-se nas vivências de uma família remediada que tem em Springfield um universo infinito de situações e problemas.
À família, constituída também pela mãe Marge, pela filha-prodígio Lisa e pela bebé cheia de personalidade Maggie, juntaram-se várias vezes figuras públicas e ainda a população daquela que é uma cidade caricatural e o retrato mais próximo daquilo a que poderíamos ter numa América dos Pequenitos.
Mais: "Os Simpsons" consegue ter uma postura política marcada, identificada com os setores mais liberais e progressistas da política norte-americana, o que, no entanto, não a impede de satirizar todos os quadrantes partidários.
Um fenómeno de sucesso que rapidamente alastrou para fora do ecrã e já deu origem a livros de banda desenhada, um filme lançado nos cinemas em 2007 ou ainda vários álbuns musicais inspirados nos temas originais.
Os espectadores podem ainda ter a sua própria experiência Simpsons com os videojogos, que começaram a ser lançados ainda durante os anos 1990, ou ainda numa das atrações dos parques de diversões dos Universal Studios em Hollywood e Orlando, intitulada Simpsons Ride.
A previsão de Trump...
Em 2016 foi a política que pôs a série na berlinda, pois esta previra, em 2000, a eleição de Donald Trump. No episódio "Bart to the future", Lisa Simpson surge como a primeira mulher a assumir a presidência dos Estados Unidos. Esta situação acontece depois de um mandato do multimilionário, que abandona o cargo deixando uma enorme dívida pública e tendo estimulado a criação de "uma geração de supercriminosas ultrafortes".
De acordo com os criadores da série, isto foi pensado como "um aviso para a América". Em declarações ao "The Hollywood Reporter", explicam que "é importante destacar que Lisa chega à presidência quando o país está na corda bamba. É essa a condição deixada por uma presidência Trump."
O argumentista Dan Greaney refere que na altura precisaram, para desenvolver a personagem, que ela "tivesse problemas maiores do que aqueles que poderia resolver, que tudo fosse pior do que podia alguma vez ser" e, por isso mesmo, imaginaram "um mandato de Trump antes do dela".
"Uma potencial presidência Trump pareceu-nos, em termos de lógica, a última paragem antes de batermos no fundo, soou-nos coerente com a visão de uma América a atingir a loucura", disse Greaney.
... e outras previsões
Esta não foi, no entanto, a única vez que a série previu acontecimentos. E alguns deles foram bem menos sérios. Como uma ferramenta útil para a maioria dos pais: a possibilitasse de tradução do choro dos bebés para uma linguagem percetível. Esteve em 1992 em "Os Simpsons" e parecia obra de ficção científica. Há dois anos, foi inventada uma aplicação que cumpre essa função.
No mesmo ano, ninguém sabia o que era o Snapchat, o Instagram ou uma "selfie". Mas Bart já experimentava tirar uma fotografia íntima a si próprio. Na altura de revelar as imagens, o embaraço foi algum. O que nos faz recordar fotografias polémicas que algumas celebridades preferiam não ter visto reveladas.
Dois anos depois, a série retratava um produto da Apple com dificuldade em compreender aquilo que o seu proprietário lhe transmitia. Como acontece, na vida real, com as confusões causadas pela Siri ou pelo imprevisível corretor automático. Em 2013, os designers da marca admitiram que este episódio foi uma das influências que usaram para melhorar o seu trabalho.
E em meados dos anos 1990, no episódio "O casamento de Lisa", o noivo já tinha algo semelhante a um "smartwatch", utilizando o relógio para comunicar com outras pessoas. Uma invenção que só chegaria 20 anos depois à vida real. No mesmo ano, os telemóveis modernos eram mostrados como tendo recurso a videochamadas. Em 2010, a Apple viria a inventar o Facetime.
E quem diria que o mundo se iria tornar tão estranho que iria criar um aquecedor de orelhas no formato de hambúrguer? Não é muito popular, mas existe. Mais uma vez, a série já o tinha previsto, em 1998.