O cineasta Luis Moya é o autor de "Por detrás da moeda", uma longa-metragem baseada nos músicos das ruas do Porto que pretende ser, acima de tudo, "um filme sobre pessoas". A estreia nas salas é já nesta quinta-feira,
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"Por detrás da moeda", de Luís Moya, é o primeiro documentário que divulga os músicos de rua da cidade do Porto e pretende olhar e conhecer a história para lá da moeda que se deixa a estes músicos.
"Quem olha, diz que isto é sobre músicos de rua, mas é mais que isso. Acima de tudo, é um filme sobre pessoas", confessa Luís Moya ao JN. O cineasta traz um documentário com várias histórias, várias vidas de artistas e acaba também por fazer "um tributo à cidade do Porto", acrescenta
Luís Moya nasceu no Porto e acaba por conhecer bem todas as ruas e os vários artistas de rua da cidade: "O Porto é o maior palco do mundo inteiro", refere.
A longa-metragem estreou em 2020 e foi vencedora do prémio do público Fantasporto 2020. Exibiido nesse ano no Teatro Rivoli no Porto, o filme foi recebido com muita emoção e "um grande calor humano", admitiu o cineasta.
Ao fim de uma semana, Luís Moya viu-se obrigado a parar a divulgação do seu filme , uma vez que havia sido decretado o confinamento, resultado da pandemia covid-19. O cineasta confessa ter ficado "desanimado e já não vejo o filme desde aí".
Agora, ao fim de dois anos, o filme, com já dez prémios na carteira, volta a ser recuperado para finalmente ser dado a conhecer ao público português. Produzido pela Filmógrafo, o filme chegará a salas de cinema do Porto, Lisboa, Setúbal, Leiria, Ovar e Castelo Branco, e terá exibições pontuais noutras localidades.
O cineasta e repórter de imagem confessou que já não estava com muitas esperanças que o filme fosse exibido aos portugueses. "Agora estou extremamente feliz de que, ao fim destes anos todos, o filme chegou às salas", acrescenta, na expectativa que o público o aprecie e faça com que a exibição seja prolongada.
"Daqui a muitos anos vai-se olhar para o filme como um marco histórico", acrescenta Luís Moya, considerando que muitos artistas já morreram ou desapareceram e determinados locais também desapareceram ou são renovados.
"Dos palcos para as ruas e das ruas para os palcos"
Luís Moya assume que "é um filme independente, em que sozinho, fui para a rua com uma câmara filmar músicos de rua".
Esta ideia surgiu exatamente com um músico de rua - enquanto almoçava numa esplanada viu um senhor "na casa dos 60" a "dar o concerto da vida dele", descreve o cineasta. Luís Moya, que tinha acabado de ganhar o prémio Cinema Português no FantasPorto 2013, com a curta metragem "Mia mia sudan tamam tamam", estava com uma grande ânsia de começar outro filme e foi ali que viu essa oportunidade.
Levantou-se da mesa e sentou-se no chão daquela rua, conversando e cantando com o que viria a ser a personagem principal do Documentário. O nome deste senhor é Alexandre Amorim ('Alex'), um músico que fundou, em conjunto com Miguel Cerqueira, a banda de rock Pippermint Twist nos anos 80, que fez parte duma coletânea do Rock Rendez Vous. Também chegou a tocar com os Xutos e Pontapés, mas Moya já só conheceu a realidade de um artista de rua. O cineasta só soube desta sua carreira passados três anos e meio de o ter conhecido: "Foram tempos controversos que ele passou e não queria voltar a reviver.", refere.
Estando a par deste passado, Luís Moya reformulou o documentário e passou a incluir a uma primeira abordagem com vários músicos de rua da cidade do Porto - mostrar ao público o que é e como é ser um artista de rua - a história de Alexandre Amorim, como tudo começou, que relação ainda mantém com Miguel Cerqueira (atual membro da banda Trabalhadores do Comércio) e entender o porquê de ter ido parar às ruas.
O documentário é narrado por Nuno Norte, um ex-músico de rua da cidade do Porto, mais especificamente das ruas Santa Catarina. Em 2003 ganhou o programa "Ídolos" e conseguiu passar para os palcos. Assim, Luís tenta, desta forma, dar as duas perspetivas, a "dos palcos para as ruas e das ruas para os palcos".
Mas foi nas ruas que o cineasta montou a sua história: "Ia da Zona da Boavista até ao Jardim do Morro, à procura de músicos". Quando os encontrava tentava criar uma relação e um laço de amizade, antes de lhes propor filmar. Chegou a passar tarde com eles, a conversar e muito do seu tempo foi dedicado a estes artistas. Assume que teve algumas dificuldades, considerando que "são um pouco fechados", mas ganhando a confiança, o processo de filmagem tornava-se mais fácil.
Luís Moya destaca os "punks de Santa Catarina que já tocam lá há mais de 20 anos" como os mais difíceis de abordar. Foram necessários dois anos e meio para conseguir falar com eles.
E no meio deste processo, envolvendo pré e pós produção e processos burocráticos, o filme demorou cerca de cinco anos a ser realizado. Luís Moya, como independente, teve também que conciliar com a sua profissão paralela (repórter de imagem).
Olhando agora para trás, o cineasta admite que mudava muita coisa, mas que "isso faz parte do crescimento". Já se passaram sete anos e "a vida foi mudando, eu fui mudando, a própria cidade do Porto foi mudando", não deixando de estar muito satisfeito com o seu trabalho.
"Acho que a obra nunca está concluída, mas teria que ser terminada algum dia", acrescenta.