Músico, compositor, cantor, escritor e produtor continua ativo e em digressões com dezenas de concertos.
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Chamam-lhe baiano, ou "leãozinho" como um dos seus maiores temas, mas poucos não o conhecerão pelo nome: Caetano Veloso, o quinto de sete filhos de um funcionário público e uma mãe dedicada, "Dona Canô", que educou dois dos maiores nomes da música brasileira (Maria Bethânia é sua irmã), celebra 80 anos de vida este domingo.
A muitos níveis, Caetano é único: na sua ascendência há elementos afro-brasileiros, portugueses, indígenas. Além dos mais de 60 anos de carreira como músico, compositor, escritor e produtor, tem uma história de vida tão complexa e rica que não cabe toda nestas linhas: homem de muitos mundos, viagens e influências, intelectual, filósofo, mostrou gosto pela música e pelas artes desde muito novo, começando a fazer gravações para a família com 10 anos.
Depois de uma experiência no Rio de Janeiro, pais e irmãos mudam-se para Salvador em 1960 e Caetano ganhou o seu primeiro violão, passando a acompanhar a irmã, Bethânia, em bares. Entre estudos na Faculdade de Filosofia e uma primeira apresentação no Festival da Música Popular Brasileira, tornou-se um dos impulsionadores do Movimento Tropicalista no Brasil, do qual fizeram parte nomes como Gal Costa e Gilberto Gil, introduzindo as guitarras elétricas no som brasileiro. Eterno ativista e humanista, o seu percurso nem sempre foi isento de polémicas e dificuldades e inclui ainda um exílio forçado em Londres, depois de ser detido em 1969 pela ditadura militar brasileira. De regresso ao Brasil, viveu a explosão da sua carreira onde se incluem já mais de 30 discos, milhares de concertos em todo o mundo, Grammys, mais de dez filmes e livros.
Em "Verdade Tropical", livro que editou em 1997, uma espécie de autobiografia sobre o seu percurso mas também sobre o Brasil dos anos 60 e 70, as convulsões, a música e a sua reinterpretação pelos Tropicalistas, escrevia: "do fundo escuro do coração solar do hemisfério sul, de dentro da mistura de raças que não assegura nem degradação nem utopia genética, das entranhas imundas (e, no entanto, saneadoras) da internacionalizante indústria do entretenimento, da ilha Brasil pairando eternamente a meio milímetro do chão real da América, do centro do nevoeiro da língua portuguesa, saem estas palavras". Noutro ponto, dizia ser a música "a mais eficiente arma de afirmação da língua portuguesa no mundo, tantos insuspeitados amantes esta tem conquistado por meio da magia sonora da palavra cantada à moda brasileira".
Influenciador mundial
A sua importância e influência continuam a deixar, em todo o mundo, impactos inegáveis. Quase todos os estilos vivem na obra de Caetano, da Bossa Nova ao Samba, do rock ao pop e reggae. Da música portuguesa diz-se fã: não é incomum vê-lo em tertúlias musicais com nomes que admira declaradamente, como a fadista Carminho ou Salvador Sobral.
Em 60 anos de carreira sempre inovou, sempre refletiu nas suas canções movimentos, emoções, pessoais e globais, questões políticas, convulsões, e sempre conseguiu manter a coerência. A propósito dos seus 80 anos sumarizou mesmo esta semana o seu percurso na música: como "coerente e surpreendente".
Segundo um levantamento do jornal "G1" a propósito da data, das milhares de gravações do artista baiano registadas na sua carreira, "Sampa" parece ser a mais popular: foi a canção mais tocada nos últimos 10 anos, seguida de "Você é linda".
A escrever, como a cantar, no trato profissional, e pessoal, Caetano Veloso é elegante e dedicado. E aos 80 anos, continua ativo. Em 2021 editou o primeiro disco de originais numa década, "Meu Coco", segue com digressões na estrada que já tantas vezes o trouxe a Portugal - a última no ano passado, com sete concertos esgotados - e tem dezenas de concertos no Brasil ainda este ano. Nas redes sociais comunica novidades e fotos antigas ao seu vasto público; tem mais de dois milhões de seguidores no Instagram.
Festa de anos celebrada com filhos e irmã em palco
Neste domingo, dia do aniversário, o cantor é protagonista de uma homenagem única, um Especial 80 anos, que inclui uma apresentação ao lado dos filhos e da irmã Maria Bethânia, na Cidade das Artes, no Rio, com transmissão ao vivo no Multishow e Globoplay. Ambos são pagos mas esta festa é, garante a Globo, aberta e gratuita. Pelo aniversário redondo, Caetano não quer presentes: pede que ajudem a causa #SOSTVPelourinho, para manter viva a TV Pelourinho, instituição de alcance social na formação de jovens. A propósito do dia de anos e do concerto que o irá celebrar, Caetano dizia esta semana nas redes: "o mais importante é ter Bethânia, Moreno, Zeca e Tom comigo no palco. Meus filhos e eu agimos como uma banda modesta mas com luz própria". A mesma luz que o acompanha, há já 80 anos.