Procura de passes e bilhetes diários iguala ou excede o nível dos melhores anos. Cartazes são robustos e alguns recintos crescem.
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Nem guerra na Ucrânia, nem inflação, nem a turbulência da política interna. Nada parece refrear a ânsia do público pelo verão e pelos concertos. "Já chega o resto do ano cheio de pessoas sisudas e indignadas", diz José Barreiro, diretor do Primavera Sound. Procura de bilhetes a igualar ou a exceder os melhores anos, cartazes a estourar de húbris, ampliações e melhoramentos nos recintos. As crises não passam por aqui.
Veja-se o Primavera Sound, que irá decorrer no Parque da Cidade, no Porto, de 7 a 10 de junho: além de acrescentar um dia à sua duração, beneficiou das obras de expansão do parque e irá contar com mais cinco a seis hectares de área disponível, o que permitirá acolher mais cinco a dez mil pessoas, sendo esperadas, segundo José Barreiro, 40 a 45 mil por dia. O responsável diz ser ainda cedo para apresentar números relativos às vendas, mas vai adiantando que está perante a "melhor reação de sempre".
"Começámos a vender logo após a edição de 2022. Esses primeiros bilhetes, mais baratos, são uma forma de premiar quem compra no escuro", diz Barreiro. "Até ao lançamento do cartaz, as vendas eram sobretudo para estrangeiros, que parecem confiar mais em nós (risos). Mal foi conhecido o alinhamento, dispararam as vendas internas".
grandes investimentos
Com uma proposta que inclui Kendrick Lamar, Rosalía ou Pet Shop Boys, o diretor do Primavera fala no "maior investimento de sempre" e acredita que o regresso dos Blur, já com duas datas em Wembley esgotadas, irá provocar uma "invasão de ingleses".
Já o Nos Alive, que se realiza entre 6 e 8 de julho no Passeio Marítimo de Algés, regressa ao formato habitual dos três dias, depois da exceção em 2022 (em que durou quatro), e as vendas recuperaram os níveis de 2019, tendo sido já adquiridos cerca de 50% dos passes e bilhetes. "Quando se atinge a estabilidade não se procuram recordes", diz Álvaro Covões, diretor do festival.
"Temos esgotado todos os anos e a expectativa é que em 2023 seja igual. A partir daqui, o grande investimento tem de ser no cartaz". Com nomes de vulto já confirmados, como Red Hot Chili Peppers, Arctic Monkeys, Sam Smith ou Lizzo (que faz a sua estreia em Portugal), o cartaz do Alive está ainda por encerrar e haverá novidades já na próxima semana, diz Covões.
Voltando ao Norte do país, onde se celebra, entre 16 e 19 de agosto, os 30 anos do Festival Paredes de Coura, há já registo de 30% de bilhetes vendidos para apenas 20% de cartaz apresentado. Há nomes interessantes - Wilco, Dry Cleaning, Fever Ray, Kokoroko -, mas faltam ainda as armas pesadas. "Vai depender tudo do mercado. Estamos a analisar as tournées das bandas. No início de janeiro lançamos mais alguns nomes e em fevereiro teremos o cartaz completo", afiança João Carvalho, diretor do certame, que assinala um crescimento da procura internacional. Mas não haverá mudanças substantivas no recinto, diz o responsável: "Haverá melhorias nas condições do campismo, nos acessos, nos WC. Mas não queremos aumentar a lotação, apenas construir um cartaz ao nível dos melhores anos e manter Coura como produto gourmet".
A temporada dos grandes festivais arranca já entre 31 de março e 2 de abril, com a segunda edição do Sónar Lisboa. Focado nas eletrónicas, o evento aponta para 7 mil pessoas por dia e 70% dos bilhetes já vendidos foram para o estrangeiro.