Este sábado à noite, na sala Gnration, o festival bracarense de Media Arts apresenta as derradeiras performances: Dmstfctn ft. Evita Manji e Kode9. Até domingo há ainda exposições para ver.
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Parece incontestável – ainda antes mesmo do término do evento – assinalar Lawrence Abu Hamdan como o grande nome da segunda edição da Bienal de Arte e Tecnologia - Index. Não trouxe ao festival das Media Arts apenas um projeto – trouxe três. E ainda participou numa conferência. O destaque, para um artista que é também investigador e, em certa medida, um jornalista de ouvido em riste, é mais do que merecido.
O investigador – que se apelida de “privateear” (“ouvido privado”, numa tradução literal para o português) – mostra que a realidade ultrapassa a ficção e que não são precisos artifícios ou pretensiosismos para se fazer arte. A arte está à nossa volta, mais assustadoramente próxima do que podemos pensar, como ficamos talvez a refletir depois de assistir a um projeto de Abu Hamdan.
A presença do artista no Index 2024 arrancou “ao vivo” logo na segunda noite, com a performance “Air Pressure”. O mote estava explícito: tratava-se de uma performance-conferência.
Mas o que aconteceu no Theatro Circo no dia 10 de maio foi uma mostra de arte poucas vezes possível de assistir em Portugal. Numa integração sublime entre realidade, investigação, política, oratória e tecnologia, Lawrence Abu Hamdan apresentou ao público, que se ia dispersando pelas cadeiras da sala bracarense, a denúncia de um tema desconhecido para estes lados do ocidente: o som como arma.
Arte para lá da sala
Para os interessados – quer os que estiveram presentes e queiram aprofundar o tema, quer os curiosos que não tiveram oportunidade de assitir – o projeto estende-se através de um site próprio (www.airpressure.info) onde se pode ficar a conhecer a história que Abu Hamdan nos veio contar. E desmaterializando e desmistificando o conceito de “sala de exposições”.
“Air Pressure”, tal como os projetos referidos de seguida, são a cola que tantas vezes falta ao Mundo artístico para se integrar com a comunidade. Nesta arte não há requisitos de conhecimento, interpretações rocambolescas ou significados ocultos.
As Media Arts e a bienal provaram, com este setor de programação (onde podemos também inserir o projeto “Empire’s Island”, de Jonas Staal), ser efetivamente para todos e todas. Todos e todas aqueles que tenham a curiosidade de ficar a conhecer uma (ou várias) história que não passará despercebida a ninguém.
Últimos concertos e exposições
Durante todo o Index, e até este domingo, Lawrence Abu Hamdan tem ainda patente outros dois projetos com cariz de denúncia, ambos expostos no Salão Nobre do Theatro Circo, um mais do que outro com ligação à “política do som”, como o artista refere por vezes o seu tema de estudo.
“45th Parallel” é uma vídeo-instalação que nos dá a conhecer um uma biblioteca dividida pela fronteira entre os Estados Unidos da América e o Canáda, contando ainda a história de um processo judicial que nos provoca a reflexão sobre a coexistência num espaço que pode ser considerado cinzento.
Já “Rubber Coated Steel” quer ser um “julgamento à revelia” para quatro adolescentes desarmados que foram mortos a tiro por soldados israelitas na Cisjordânia ocupada (Palestina), em 2014. As balas letais foram camufladas como sendo de borracha e Lawrence Abu Hamdan procura, neste trabalho, dar aos jovens assassinados a justiça que nunca chegou a tribunal, criando um julgamento fictício com base em provas reais.
Dmstfctn e ainda Kode9
Desde o passado dia 9 que Braga recebeu nomes internacionais das Media Arts. Este sábado à noite, pelas 21.30 horas, há ainda hipótese de assistir às duas últimas performances desta bienal.
Dmstfctn ft. Evita Manji trazem a peça interativa “Waluigi’s purgatory” à sala blackbox do Gnration. Num teatro que conta a história de como a Inteligência Artificial opera num purgatório, o público é convidado a decidir o enredo através do uso do seu telemóveis.
Na segunda parte deste sábado, o DJ, produtor, escritor e figura central da eletrónica britânica, Kode9, encerra o ciclo performativo do Index 2024 com a sua nova peça sonora “Escapology".