"Mal viver" e "Viver mal" estreiam mundialmente no próximo mês no Festival Internacional de Berlim. Com a atriz Kirsten Stewart no júri, há mais coproduções portuguesas no certame alemão. É de 16 a 26 de fevereiro.
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Já corriam bons rumores no meio cinematográfico e as expectativas confirmaram-se. João Canijo leva os seus dois novos filmes a Berlim, e ambos em competição, "Mal viver" está na corrida oficial pelo Urso de Ouro; "Viver mal" surgirá a concurso na mais recente secção Encounters.
Os títulos dos dois filmes indiciam, desde logo, uma relação entre ambos, tendo sido salientados esta manhã pelo diretor artístico do certame alemão, Carlo Chatrian, como um dos acontecimentos da 73.ª edição do Festival Internacional de Cinema de Berlim, que se realiza entre 16 e 26 de fevereiro, na capital da Alemanha.
Rodado num hotel do norte do país, o Hotel Parque do Rio, em Ofir, "Mal viver" é, segundo a produtora do filme, a história de uma família de várias mulheres de diferentes gerações, que arrastam uma vida dilacerada pelo ressentimento e o rancor, e que a chegada inesperada de uma neta vem abalar. Tudo acontece no tempo de um fim de semana.
Por seu lado, e em paralelo, "Viver mal" coloca em cena três grupos de hóspedes do hotel: um casal à beira da separação; uma mãe que encoraja o casamento da filha para poder manter uma relação clandestina com o seu marido; e outra mãe que impede a filha de ser feliz, ao projetar-se nela e assim anular a sua vida. "Viver mal" é, de certa forma, o espelho, o negativo, o irmão siamês de "Mal Viver".
Elenco de luxo a dobrar
Continuando a sua boa relação de trabalho com a Midas Filmes, João Canijo continua também a dirigir algumas das maiores atrizes e atores do cinema português, como Anabela Moreira, Rita Blanco, Madalena Almeida, Cleia Almeida e Vera Barreto, no primeiro filme, e Nuno Lopes, Filipa Areosa; Leonor Silveira, Rafael Morais, Lia Carvalho; Beatriz Batarda, Leonor Vasconcelos e Carolina Amaral, no segundo.
Uma curiosidade: ambos os filmes têm direção de fotografia da também realizadora Leonor Teles, responsável pelo primeiro Urso de Ouro da curta-metragem para o cinema português, em 2016, com "Balada de um batráquio".
Kirsten Stewart é a presidente do júri
O festival, que homenageará Steven Spielberg, terá como presidente do júri internacional Kirsten Stewart. Além de "Mal viver", o Urso de Ouro poderá sair de um conjunto de filmes onde, entre outros, se encontram as últimas obras de Philippe Garrel, Margarethe von Trotta, Emily Atef, Christian Petzold ou Nicolas Philibert, num total de 18 títulos que chegam ainda de Espanha, China, Canadá, Austrália, Japão ou México.
Já na secção Encounters, Canijo terá a concorrência de outros 15 títulos, entre os quais os mais recentes do coreano Hong Sangsoo e do espanhol Lois Patiño, além de filmes da Argentina, Bélgica, Hungria, Finlândia ou Letónia, entre os quais vários documentários e animações.
Há mais coproduções portuguesas
O cinema português, que tem na Berlinale uma histórica rampa de lançamento para algumas das suas novas produções, já tinha assegurado a presença de outros títulos nas diversas secções em que o festival se desdobra.
Assim, o Forum Expanded mostrará "AI: African Intelligence", de Manthia Diawara, uma coprodução com o Senegal e a Bélgica, um ensaio que coloca em paralelo rituais ancestrais de possessão e a emergência de novas fronteiras tecnológicas, como a inteligência artificial.
Ainda no Fórum Expanded, outra coprodução portuguesa, desta vez com França e Estados Unidos. "Last things", de Deborah Stratman, combina ciência e vanguarda, abordando a evolução e a extinção e introduzindo a geo-biosfera como um lugar de possibilidade evolutiva, onde os seres humanos desaparecem, mas a vida perdura.
Susana Nobre regressa ao Fórum, uma das mais históricas secções paralelas da Berlinale, dois anos depois de aí apresentar "No táxi do Jack", agora com "Cidade Rabat". O filme conta a história de Helena, interpretada pela atriz Raquel Castro, uma mulher de 40 anos que acaba de perder a mãe. O luto de Helena, na relação por vezes vertiginosa com o seu quotidiano, ganha um significado e valor inesperados, relata-nos a sinopse oficial, divulgada pela produtora Terratreme.
Comprovando a cada vez maior capacidade de internacionalização do cinema português, ao nível da produção, a secção Generation 14 Plus apresenta um filme coproduzido com Singapura, Taiwan e França, "Tomorrow is a long time", obra de estreia de Jow Zhi Wei. Atos de violência trazem repercussões para o exterminador Chua e o seu filho Meng. O serviço militar oferece ao jovem a fuga para a selva, um mundo desconhecido que o poderá aproximar da compreensão da sua própria natureza.
Comédia romântica a abrir
Apresentando um total de cerca de três centenas de filmes e realizando ao mesmo tempo um dos mais importantes mercados internacionais do cinema, a Berlinale anuncia iniciativas especiais de solidariedade com a Ucrânia e o Irão, incluindo numerosas projeções, entre as quais a de um documentário sobre o encontro de Sean Penn com o presidente Zelensky.
A 73.ª edição da Berlinale abre no dia 16 de fevereiro com a estreia mundial de "She came to me", uma comédia romântica escrita e dirigida pela norte-americana Rebecca Miller e interpretada por Peter Dinklage, Marisa Tomei, Joanna Kulig, Brian d'Arcy James e Anne Hathaway.