Autor de "Astériz e o grifo" fala com o JN sobre o álbum que seja esta quinta-feira a Portugal.
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"Astérix e o grifo" é o título do 39.º álbum das aventuras do pequeno guerreiro, lançado esta quinta-feira em Portugal pela ASA, acompanhando a edição mundial que terá uma tiragem global de cinco milhões de exemplares.
Neste novo álbum, os gauleses vão até às estepes russas, onde os romanos procuram capturar o mítico grifo, um animal com corpo de leão e cabeça e asas de águia. Esta viagem dos gauleses foi o pretexto para o JN fazer uma entrevista, que decorreu online, com o atual argumentista da série, Jean-Yves Ferri, que assina a sua quinta história de Astérix.
Há leitores que cresceram a ler os álbuns de Goscinny e Uderzo, e que agora olham para os vossos e dizem: "Não está mal, mas...". Que lhes diria?
Normalmente, respondo que estou de acordo: não são Goscinny, não são Uderzo [risos]. Mas também digo que eu próprio sou um grande leitor dos álbuns deles e interesso-me pela época histórica de Astérix. Os tempos hoje são outros. É preciso aceitar a ideia da retoma da série com outro tom, outras ideias. Eu e Conrad somos diferentes de Goscinny e Uderzo.
Porquê esta localização para a nova aventura?
O álbum decorre num território entre a Rússia, a Mongólia e o Cazaquistão. Prestava-se a uma história com a neve como elemento fundamental. Um território indefinido permitia criar um país imaginário. Foi um grande desafio. Tem mais a ver com aquilo de que gosto do que com aquilo que sou.
Conrad, neste álbum, já assimilou as influências de Uderzo e utiliza um traço pessoal. Concorda?
Sem dúvida. A história agradou bastante ao Conrad, que teve muito prazer a desenhá-la. Havia o desafio da neve, o conceito de "álbum branco". Tinha de encontrar formas de mostrá-lo sem se tornar monótono e continuar legível. Para um desenhador, é estimulante.
Este álbum não tem poção mágica para tornar Astérix mais humano?
A poção mágica facilita demasiado a vida aos heróis. Mesmo Goscinny criava obstáculos que a poção não conseguia resolver, para que Astérix e Obélix tivessem de dar o melhor de si mesmos. Foi divertido arranjar uma forma de a afastar do relato. Panoramix chega a dizer que, a baixas temperaturas, os trevos de quatro folhas tornam-se instáveis. Um pouco como os componentes da bomba atómica! [risos]
Ao contrário dos álbuns anteriores, nesta aventura Astérix e Obélix têm menos protagonismo. Porquê?
Os tempos são diferentes, já não estamos nos anos 60, quando os heróis eram primordiais. As situações resolvem-se em conjunto, em equipa. Isso permitiu centrar a história em diferentes aspetos, dar mais protagonismo às mulheres guerreiras, a Panoramix, a Ideiafix....
E não há grifos, ficam só no título.
Isso é muito importante. Contraria tudo o que os romanos fantasiavam sobre o Mundo, em especial sobre as regiões que consideravam bárbaras. Para eles, a captura do grifo tinha um objetivo militar: servia para mostrar a superioridade romana, exibir o animal no circo para a afirmar, talvez até utilizá-lo na guerra. Mas, afinal, os grifos não existiam....É um pouco uma metáfora da mentalidade militar dos ocidentais.
Há quatro anos, em "Astérix e a Transitálica", um vilão era um certo coronavírus quando ainda ninguém tinha ouvido falar dele... Devemos temer ataques de grifos nos próximos meses?
[Risos] Tem razão, vou estar atento! Sempre me disseram que se inventasse algo irritante ou perigoso que depois se concretizasse, iriam acusar-me disso. Mas, atenção, não fui eu que criei a covid!
BD póstuma
Talvez um "Astérix no circo"
Anne Goscinny, filha do cocriador de Astérix, revelou ao jornal alemão "Der Spiegel" ter encontrado uma história que o pai deixou incompleta quando morreu, em 1977. Intitulada "Astérix no circo", a BD deveria suceder a "Astérix entre os belgas". Goscinny deixou escrito o argumento das primeiras 20 pranchas. Mesmo considerando ser "muito complicado" terminar a narrativa, Anne Goscinny não pôs de parte a ideia, garantindo que, "se um dia o tentarmos, será uma aventura extraordinária".