O cineasta francês Guillaume Canet é também o protagonista do novo filme "Astérix & Obélix: O império do meio", que estreia esta quinta-feira nas salas. O artista fala ao JN de todo o processo da nova comédia de aventuras em imagem real.
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Baseado numa história original, depois vertida para álbum de BD, as personagens criadas por Goscinny e Uderzo voltam à tela com "Astérix & Obélix: O império do meio", numa viagem que os leva à China para ajudar a libertar a imperatriz derrubada por um golpe de estado. Guillaume Canet, realizador, é também Astérix e Gilles Lellouche o novo Obélix. O filme está recheado de pequenas aparições, entre as quais, e é a mais truculenta, o popular futebolista sueco Zlatan Ibrahimovic. O filme chega amanhã às salas de cinema de todo o país. O JN foi a Paris falar com Guillaume Canet.
De repente, realiza um filme da série Astérix e encarna a personagem. Como foi?
O meu produtor, com quem fiz todos os meus filmes, telefonou-me a perguntar se estava interessado em ler um tratamento de 20 páginas escrito por dois autores que tinham ganho um concurso. É a Hachette, que detém os direitos da personagem, quem escolhe quem vai produzir um novo projeto e lembraram-se de nós.
Mas o que pensou, assim que leu essas 20 páginas?
Achei a ideia entusiasmante e que havia matéria para fazer algo diferente do que tinha sido feito nos outros filmes. Havia alguma matéria nova que eu podia trazer para este projeto, para fazer uma comédia mas também um filme de aventuras. E que podia colocar Astérix e Obélix no centro da história, o que não era o caso nos últimos filmes.
Foi difícil encontrar um novo ator para Obélix?
Já não era possível ter o Gérard Dépardieu, que não tinha vontade de voltar. E eu queria refrescar a série. Mas quem poderia suceder a Dépardieu? Era difícil, ele tinha sido tão perfeito no papel... A ideia não foi encontrar alguém parecido, mas alguém que pegasse de forma diferente na personagem.
De quem foi a ideia de trazer o Gilles Lellouche para dar corpo a Obélix no projeto?
Eu tinha visto o Gilles num filme do Luc Besson, onde ele tinha ganho bastante peso. E ele era formidável, tinha um lado um pouco infantil. Eu conheço-o, sei que tem esse lado de criança e que era capaz de interpretar bem a personagem. Era preciso um ator que tivesse a coragem de ser Obélix. Ele teve essa coragem, fez um trabalho extraordinário, ganhou 20 quilos para o papel!
No seu caso, o que o levou a aceitar fazer de Astérix, além de realizar o filme?
De início eu queria interpretar o papel de César. Depois abandonei a ideia, mas não pensava fazer de Astérix. Foi numa reunião com todos os produtores que me perguntaram: mas, por que não tu mesmo? Eu não queria realizar e interpretar, mas a decisão estava tomada.
Foi difícil, dado o enorme orçamento do filme?
Foi um trabalho muito complexo, mental e fisicamente. Foi uma grande carga de trabalho - eu era sempre o primeiro a chegar e o último a ir para casa. Havia sempre imensos problemas para resolver de manhã e muita preparação ao fim da tarde, para o dia a seguir. Mas, estranhamente, estive sempre muito calmo.
Qual foi a sua poção mágica para resolver todos esses problemas?
Foi fazer meditação. Descobri-a durante o filme, porque percebi que ia perder o juízo com tantos problemas para resolver. Foi um osteopata que me disse que tinha de saber respirar e o melhor era fazer meditação, caso contrário não chegaria ao fim do filme. Encontrei uma aplicação no telemóvel e tinha um prazer enorme ao fechar-me cinco ou dez minutos e respirar fundo. Tornei-me a personagem do filme ao descobrir as vantagens da medicina oriental.
O filme volta a ter grandes atores em pequenos papéis...
É uma imagem de marca da série. Mas queria que tivessem realmente alguma coisa para fazer. E o público adora, é uma produção tão cara, queremos que as pessoas tenham vontade de o ir ver, que seja um acontecimento.
Como é que o futebolista Zlatan Ibrahimovic reagiu ao convite?
Disse-lhe que era para interpretar o braço direito de César [Antivírus] e ele perguntou-me como é que César podia interpretar o braço direito de César! [risos] Depois perguntou-me: e quanto é que vou ganhar? Quando lhe disse que isso era com os produtores, disse-me que aceitava. Mas esperava que não fosse pago com um passe anual do Parque Astérix [risos]!
O Guillaume tem feito filmes mais intimistas e filmes de grande espetáculo...
Gosto de fazer as duas coisas. O cinema é necessário para a minha sobrevivência. Gosto de me exprimir através do cinema, caso contrário dou em louco. De maneira física e emocional quando interpreto, mas também de forma psicológica, quando realizo. Contar histórias é importante para mim. E também divertir as pessoas. A arte e a cultura são muito importantes para a sobrevivência das pessoas e para o equilíbrio da sociedade. Apesar de muitos presidentes não pensarem assim, entre os quais o nosso Emmanuel Macron.