Jesse Eisenberg escreveu, realizou e interpretou “A Verdadeira Dor”, ao lado de Kieran Culkin, vencedor de um Globo de Ouro e candidato a um Óscar.
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Jesse Eisenberg e Kieran Culkin são dois primos, de feitios muito distintos, que vão numa viagem organizada à Polónia em homenagem à avó, recentemente falecida, confrontando-se com a o passado da sua família e com a própria História. O filme chama-se “A Verdadeira Dor”, está já em exibição e levou-nos a uma conversa com Jesse Eisenberg e Kieran Culkin.
Jesse, até que ponto esta história é autobiográfica?
Jesse - Tudo começou com uma viagem que fiz com a minha mulher, em 2008, aos locais que mostro no filme. Tirámos imensas fotografias que quinze anos mais tarde se tornaram imagens do filme, como fotografias que a minha mulher me tirou em frente a estátuas. Desta vez, sou eu que tiro as fotografias ao Kieran. E a casa que visitamos da avó que faleceu, é a mesma casa em que a minha família viveu até 1939.
Como é que interagiram os dois, durante a rodagem?
Jesse - Para mim, foi um sonho tornado realidade. Ele é um ator genial e uma pessoa completamente despretensiosa e é muito difícil encontrar essas duas características na mesma pessoa. Ele é absolutamente inacreditável no filme, como toda a gente pode ver.
Kieran – Fiquei muito entusiasmado por fazer este filme. Percebi imediatamente a personagem ao ler o argumento. Bastaram-me as duas primeiras páginas para perceber a história dos dois. É o melhor elogio que se pode dar à forma como o guião está escrito.
Como foi ser ao mesmo tempo realizador e ator principal?
Jesse – Foi uma oportunidade única fazer este filme também como realizador. Tínhamos um plano de trabalho muito apertado e andávamos sempre de um lado para o outro. Mas sendo realizador, podia determinar o ritmo à minha medida e podia ir aos locais que me interessava filmar. Pude controlar tudo, o que calhou bem com a minha personagem, que também é alguém que gosta sempre de controlar tudo.
Que inspirações tiveram para construir as personagens?
Jesse – No que se refere à construção da personagem do Kieran, pensei em pessoas que são muito mais inteligentes e divertidas do que eu, mas que têm obstáculos pessoais que tornam as suas vidas mais difíceis do que a minha. Invejo-as ao ponto de por vezes desejar sofrer de algumas das suas terríveis dores. A personagem do Kieran é em grande parte o inverso da minha. Não é só uma pessoa irritante, também é uma pessoa encantadora e maravilhosa. Tudo o que o Kieran é no filme são características que eu gostava de ter.
Kieran – É curioso que foi só depois de ver o filme que fui capaz de identificar coisas que são parecidas com a vida que levo. Nunca tinha pensado nisso antes. Algumas pessoas podem pensar que a minha personagem é um idiota, mas não a vejo nada assim.
Porque escolheu integrar os dois primos num grupo mais largo de visitantes?
Jesse – Já participei em alguns destes grupos, na Polónia e em outros países. Acho muito divertido, mas também um pouco estranho um grupo de pessoas tão diferentes querer participar numa viagem como esta. Há uma tentativa de reconciliação, de lidar com a nossa dor. Há algo ao mesmo tempo dramático e cómico.
Kieran, ao ver o Jesse realizar e interpretar pensou que talvez também o pudesse fazer no futuro?
Kieran – Nunca tive o desejo de realizar. Mas ao olhar para o Jesse, se alguma vez o fizer quero fazê-lo desta maneira. O Jesse escolheu pessoas em quem confiava para o rodearem. E dirigiu as filmagens dando a todos a impressão de que estávamos mesmo a fazer o filme juntos. Tenho resistido a alguns convites, fiquei muito satisfeito por fazer este filme, mas no fim só queria ir para casa para perto dos meus filhos.
Como é que foram recebidos na Polónia?
Jesse – Talvez olhassem para mim como mais um americano que vem ao país deles para fazer mais um filme sobre o Holocausto. Tinha consciência disso, mas não ao ponto de pensar que eles não me queriam lá. Pelo contrário, trabalhámos com a melhor equipa polaca que podia encontrar, foi uma experiência maravilhosa.
No final, quando coloca uma pedra à porta da casa da avó que faleceu, há um homem que não está muito contente com a chegada deles…
Jesse - A sequência final é a única em que as personagens interagem com pessoas polacas e o que quis mostrar é que as gerações mais velhas não querem que nada mude. Mas há uma personagem mais nova que aceita que estejam a colocar aquelas pedras. Apenas quis mostrar pessoas normais. Aquele velhote rabugento é igual a um de Nova Iorque. Não quis fazer nenhum comentário sobre os polacos em geral.