Era eletrotécnico em Gaia quando se apaixonou pela arte do fingimento aos 33 anos. Deixa um legado único no cinema, sobretudo em dramas de Manoel de Oliveira, mas também na TV, onde fez três vezes de padre nas novelas. Artista morreu aos 95 anos.
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“É com grande pesar que anunciamos a morte do nosso José Pinto, tendo falecido calmamente em sua casa na passada noite", informa a mensagem endereçada esta sexta-feira aos "estimados amigos" do ator.
"Aproveitemos este momento não apenas para lamentar esta triste notícia, como para celebrar a vida e obra de um homem que sempre procurou dar o melhor de si aos outros, seja através do pequeno ou grande ecrã, teatro ou cara a cara com aqueles que lhe foram mais próximos”, pode ler-se na página dedicada ao ator nascido em 1929.
Aos 95 anos, José Pinto era uma figura omnipresente da ficção portuguesa: participou em muitas novelas dos vários canais RTP, SIC e TVI, como “Cidade despida”, “Perfeito coração” e “Amanhecer”, sendo património ficcional de várias gerações.
Foi padre por três vezes
Curiosamente, o artista desempenhou três papéis de padre nos três canais e durante três anos consecutivos.
Em 2007 foi o Padre Antunes de “Conta-me como foi”, na RTP; no ano seguinte converteu-se no Padre Manuel, na telenovela “A outra”, da TVI; e em 2009 deu vida ao Padre Cunha, na série “A vida privada de Salazar”, na SIC.
Mas, a sua estreia televisiva aconteceu em 1972, aos 43 anos, com o personagem Procópio, na série “As profecias do Bandarra”.
Há também aqueles para quem José Pinto, com a sua voz grave e perfil austero, será o eterno António Oliveira Salazar depois de ter personificado o ditador português no filme de 2015 “Capitão Falcão”, de João Leitão.
É no cinema que José Pinto deixa um legado único: participou em mais de 30 filmes, sendo um dos mais destacados intérpretes do realizador Manoel de Oliveira, em dramas como “Vale Abraão”, “Viagem ao princípio do Mundo”, “Inquietude”, “Palavra e utopia” ou “Cristóvão Colombo - O enigma”.
Funeral é este sábado
A sua relação de amor com a arte do fingimento começou aos 33 anos, corria o ano de 1962, no Teatro Experimental do Porto, na peça “Gorgónio”. Antes, não teve qualquer carreiraq ligada às artes e trabalhava apenas como eletrotécnico em Vila Nova de Gaia.
Durante as décadas de 1980 e 1990 foi presença assídua nas produções teatrais da Seiva Trupe, do Porto. Em 2016 entrou também na obra “A vida de Galileu”, de Kuniaki Ida, onde contracenou com António Capelo, no Teatro do Bolhão.
A família de José Pinto informa que “para quem queira prestar uma última homenagem ao nosso José", o seu corpo está em câmara ardente na Igreja do Candal, em Gaia, desde a manhã desta sexta-feira.
O funeral realiza-se já este sábado, às 10 horas.