Em processo de lançamento do seu primeiro romance, Luísa Sobral foi a última convidada das conversas musicadas, no Festival Literário de Guimarães. Uma conversa entrecortada por momentos musicais, entre Luísa Sobral e o jornalista Sérgio Almeida, marcou o último momento do Húmus, esta quarta-feira, no Teatro Jordão.
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A cantora, produtora, letrista, escritora de livros infantis e agora também romancista, falou do seu processo de escrita, do peso das palavras, da presença nas redes sociais e cantou, acompanhada pela sua viola. No final, a vice-presidente da Câmara de Guimarães, Adelina Paula Pinto, afirmou que este formato de conversas musicadas será para continuar nas próximas edições.
Partindo da frase de Raul Brandão - o patrono do festival - “As árvores para dar fruto há-de-lhes doer”, Luísa Sobral começou por dizer que “se sofrer já não me apetece escrever”. Porém, acabou por admitir que “agora às vezes sofro, porque preciso de ir a certos lugares”. Ainda assim, não escreve quando está em sofrimento, “não seria capaz”, diz que precisa de “algum distanciamento para processar a tristeza”.
Desafiada pelo jornalista sobre se a música é a mais completa das artes, disse que não sabia. “Mas é a mais acessível”, acrescentou. “Um acorde pode valer mais que dez capítulos”, afirmou. “Há pessoas que nunca leram um livro ou que nunca foram ao teatro, mas todos ouvimos música, desde a barriga das nossas mães”, referiu.
Depois de dois livros infantis - “Quando a porta fica aberta” (2022) e “O peso das palavras” (2024) -, o primeiro para ajudar um dos filhos a enfrentar os medos noturnos e o segundo para explicar a outra filha (são quatro no total) o peso das palavras, Luísa Sobral lançou-se no romance. O primeiro livro, “Nem todas as árvores morrem de pé”, passado, na sua maior parte, na antiga República Democrática Alemã, num período entre os anos 1950 e a queda do Muro (1989), foi um “risco”, como lhe chamou Sérgio Almeida.
Ficcionou um passado para uma personagem que a inquietava
Luísa Sobral assumiu as taquicardias que o processo lhe causou, “até que descobri que a investigação que tive que fazer podia ser inspiradora”. O livro fala de uma história de amor, mas também da divisão familiar provocada pelo Muro.
Quem esteve no Teatro Jordão teve oportunidade de ouvir, entre outros temas, “Maria Feliz”, a canção que não foi suficiente para acalmar a inquietação da autora e que a lançou no romance em que ficciona um passado para esta Maria.
No encerramento do Festival Literário - Húmus, a vice-presidente da Câmara de Guimarães fez um balanço positivo desta edição e do formato de conversas musicadas, que deverá ser para manter em próximas edições.