Festival Internacional de Marionetas do Porto arranca com récitas esgotadas e workshops muito concorridos.
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Um empurrão nas fronteiras da ética inaugurou, com lotação esgotada, o 33.º Festival Internacional de Marionetas do Porto (FIMP), na sexta-feira à noite no Teatro Rivoli.
A peça "Still life", do Ljubljana Puppet Theatre, é inusual e destacou-se. Partindo do pressuposto que a marioneta é um corpo inanimado, o encenador esloveno Tin Grabnar decidiu, em plena pandemia, contactar taxidermistas e comprar coelhos empalhados. "Queríamos empurrar a fronteira da marioneta; não é um ser vivo, é um ser que já esteve vivo", disse ao JN.
Nesta pesquisa, muito bem descrita em cena, contactou vários especialistas para saber dos seus processos. Se existem profissionais que trabalham apenas com animais que morreram em acidentes ou em controlos de pragas e têm uma perspetiva romântica de prolongamento da vida e da beleza, outras descrições roçam o sadismo com uma excessiva preocupação em preservar a qualidade da pele do animal, mais do que a vida.
Este "complexo de Deus da época vitoriana, em que o Homem é colocado acima da Natureza e tem o dom de criar e tirar a vida, faz-nos pensar a nossa perspetiva sobre a Natureza", contou ainda o encenador.
Os exemplares bons são anatomicamente preservados em posições verosímeis, e depois há os fantásticos, como os "jackalopes", coelhos com cornos de veado. Para cada exemplar foi construído um esqueleto, em 3D, para que a manipulação fosse possível. O rigor técnico da movimentação dos coelhos é absolutamente assombroso e capaz de devolver vida aos leporídeos. Como contou Tin Grabnar "estes coelhos não estão aqui para nos entreter; o nosso intuito é devolver dignidade ao que foram as suas vidas".
Ontem à tarde, o Teatro Constantino Nery, em Matosinhos, recebeu a primeira edição dos Fimpalitos - workshop de construção e manipulação de marionetas. Um programa que se realiza ininterruptamente no FIMP desde 2010 e que é sempre muito procurado pelo público familiar.
Cabeças de cassete
A família Loureiro reunida em torno da mascote do FIMP, um fimpalito de madeira, estava numa verdadeira azáfama. Isabel, a mais nova das irmãs, não se coibia, mesmo depois de ter trilhado um dedo numa porta, com uma curita devidamente enfeitada, de construir a sua mascote com todo o afinco. Em torno dos caixotes repletos de materiais de cenografia, e acessórios sobrantes das peças do Teatro de Ferro, as crianças escolhiam as ideais para fazer as suas marionetas.
Nas mesas, as pistolas de cola quente e os serrotes faziam surgir ideias geniais: cabeças de autocarro, olhos de tomadas, vestidos de cabos elétricos. Ao fim de quatro edições, Sofia Silva, formadora não perde a capacidade de se espantar: "As crianças levam as coisas por caminhos que ninguém espera, a criatividade delas não tem limites", assegura. Para a semana a iniciativa repete no Teatro Carlos Alberto, no Porto.
Próximos espetáculos:
Jardim da Cordoaria
A tradição portuguesa está este domingo presente no centro do Porto. O Vumteatro apresenta hoje, às 16 horas "Teatro Dom Roberto". Récita gratuita.
Teatro Campo Alegre
Jordi Gali apresenta este domingo, às 19 horas, o espetáculo "T".
Teatro Helena Sá e Costa
A companhia Alma d"Arame apresenta este domingo, às 21 horas, no FIMP, o espetáculo "Apolo descapotável".
Coliseu Porto Ageas
Na terça-feira será apresentado, às 21.30 horas, o espetáculo "A última batalha", pelo Leirena Teatro. Trata-se de uma recriação de Aljubarrota com música de Surma.