Festival Dias da Dança arranca esta terça-feira e ocupa três cidades: Porto, Matosinhos e Gaia. Até ao dia 30, há 46 récitas com artistas de nove nacionalidades.
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A contabilidade é simples: a partir de hoje e durante 13 dias, Porto, Matosinhos e Gaia acolhem 28 espetáculos, em 46 récitas distribuídas por 14 palcos que edificam o 7.0 DDD - Dias da Dança, festival dedicado à dança contemporânea. Foi idealizado por Tiago Guedes, atual diretor da Maison de la Danse de Lyon, e agora entra em movimento com a direção bicéfala de Cristina Planas Leitão e Drew Klein.
O quartel-general é o Teatro Rivoli, a que se juntam, no Porto, o Teatro Campo Alegre, Campus Paulo Cunha e Silva, Serralves - Museu de Arte Contemporânea, Coliseu Porto Ageas, Palácio do Bolhão, Estação de Metro de São Bento, Avenida dos Aliados, Alameda das Fontainhas e Parque da Cidade. Em Matosinhos há duas salas (Teatro Constantino Nery e Casa da Arquitetura) e em Gaia o DDD passa pelo Auditório Municipal e pela Afurada.
"É um tipo de besta diferente, o DDD", disse Drew Klein ao JN, "é uma besta muito exigente para a sua audiência".
A festa é diversificada por 65 artistas, de nove latitudes do planeta dança: Portugal, França, Alemanha, Itália, Albânia, Turquia, Cabo Verde, Brasil e EUA.
A força telúrica brasileira tem dois grandes destaques no cartaz: Lia Rodrigues, nome recorrente das programações nacionais, abre o Rivoli, esta terça-feira, com a estreia nacional de "Encantado", tributo à tradição afro-brasileira onde os "encantados", entidades entre o céu e a terra que à sua passagem transformam tudo em lugares sagrados. Outro dos momentos imperdíveis é "Nebula", de Vania Vaneau, em Serralves, no domingo, que evidencia o nexo com a Natureza.
Virtuosa Tânia carvalho
Tânia Carvalho, portuguesa com uma linguagem inimitável e vigente, sem prejuízo do virtuosismo clássico, recentemente nomeada Cavaleira das Artes e das Letras pelo Governo francês, chega em dose dupla com "Versa-vice", no domingo, e o concerto "Madmud", na segunda, ambos no Rivoli.
Matosinhos será também palco de "Neighbours", um dos espetáculos mais apetitosos da programação. Os coreógrafos Rauf "Rub ber Legz" Yasit e Brigel Gjoka, inspirados pela obra "A quiet evening of dance", do portentoso William Forsythe, partiram para uma criação abraçando as suas raízes curdas e albanesas. É uma amálgama incomum entre dança urbana, clássica e contemporânea.
Nos regressos aparatosos da programação inscreve-se o nome da canadiana Catherine Gaudet, com "The pretty things", dia 29, no Teatro Campo Alegre, e Flora Détraz, outra repetente de assombro, desta feita com "Muyte maker", uma exploração de imagens medievais, cantigas triviais e pinturas grotescas, no dia 23, no mesmo Teatro.
Linguagem expandida
Nos destaques internacionais da programação, duas estreias nacionais: a norte-americana Faye Driscoll, vencedora do Prémio Doris Duke, traz "Thank you for coming: space", uma instalação intimista onde constrói um réquiem para o corpo humano num mundo em constante mutação. E também "Ara! Ara!", dos italianos Ginevra Panzetti & Enrico Ticconi, duo da plataforma europeia Aerowaves Twenty 19.
No espaço público, programado em parceria com o Balleteatro, o DDD Corpo + Cidade vai estrear "B Girls", de Max Oliveira, no dia 21, às 18 horas, na Avenida dos Aliados - é o fulgor da linguagem do breakdance interpretada no feminino.
Ponto superior do DDD - e amostra do desejo de uma abordagem pluridisciplinar, expandindo o vocabulário da dança contemporânea - será ainda "Art liberates ball", organizado pela Vogue PT Chapter, de Mother Nala Revlon & Piny 007, a 29 de abril, Dia Mundial da Dança, no Coliseu.