Roteiro de exposições até final do verão marcado pela tentativa de retoma após 16 meses de forte retração.
Corpo do artigo
Não é ainda a muito esperada retoma plena da dinâmica artística, devastada pelos efeitos da pandemia. Mas, no meio dos reveses constantes desde março do ano passado, os museus e galerias lograram apresentar um conjunto de propostas que têm como missão convencer os céticos de que a visita a estes espaços pode ser feita num ambiente de segurança.
Para quem evitava deslocar-se aos museus no verão devido à sobrecarga habitual de visitantes, sobretudo estrangeiros, os próximos meses são uma rara oportunidade para um regresso tranquilo.
Antes de mais, porque a afluência de turistas estará distante da dos anos recentes, mas também pelo facto de a lotação ter sido reduzida a metade, não sendo ainda certo que o plano de desconfinamento vá avançar nos prazos inicialmente propostos, em função do aumento claro do número de casos nas últimas semanas.
Oferta em crescendo
Sem que possam atingir as cifras de visitantes a que os museus portugueses se habituaram, há exposições suscetíveis de atrair públicos vastos.
De entre estas, o destaque recai sobre "Rapture", de Ai Weiwei, eleito em 2020 o artista mais popular do Mundo. O ativismo que marca o seu percurso está muito presente, tal como a componente da fantasia, nesta mostra, patente até ao fim de novembro na Cordoaria Nacional.
Ainda em Lisboa, a Fundação Gulbenkian revela "Tudo o que eu quero", itinerário artístico do ponto de vista feminino, composto por 40 artistas, do início do século XX ao presente.
Com o encerramento forçado durante três meses, muitos museus optaram por prolongar a duração das mostras. Foi o caso de Serralves. Três das quatro exposições patentes ao público (Louise Bourgeois, Manoel de Oliveira e Olafur Eliasson) foram inauguradas antes de janeiro. A exceção é a de Jorge Molder, inaugurada no início de abril e que pode ser visitada até 3 de outubro.
No MMIPO (Museu e Igreja da Misericórdia do Porto), as apostas recaem por inteiro sobre "Capturar o invisível", exposição conjunta de Alberto Giacometti e Peter Lindbergh que se prolonga até 24 de setembro.
Reaberto ao público há um mês após um ano de obras, o Museu Nacional Soares dos Reis elegeu as exposições temporárias como parte fulcral da sua nova estratégia. Em curso estão três mostras: "A Índia em Portugal - um tempo de confluências artísticas", "José Régio: [Re] Visitações à Torre de Marfim" e "Depositarium... 1".
Os frequentadores de bienais têm duas opções válidas: a de fotografia do Porto pode ser visitada até dia 27 em 16 locais da cidade, enquanto a gaiense, na antiga Companhia de Fiação de Crestuma, está patente até 20 de julho.
226 anos para abrir museu
Se a época estival concentra já amplos motivos de interesse, será preciso esperar até novembro para assistir à abertura ao público da nova ala do Palácio da Ajuda, na qual ficará alojado o Museu do Tesouro Real.
O acervo de ourivesaria da antiga Casa Real - composto por um milhar de peças - passa, deste modo, a ficar disponível para visita, 226 (!) anos depois de ter sido lançada a primeira pedra.
Só em 2016 o projeto saiu do papel. Os 31 milhões de euros gastos na empreitada, viabilizados em grande parte pelo Fundo de Desenvolvimento Turístico de Lisboa, vão permitir ainda recuperar o pátio, as fachadas e os espaços exteriores do Palácio Nacional da Ajuda.
Dividido por 11 núcleos, o tesouro real inclui ouro e diamantes do Brasil, moedas e medalhas da coroa, salvas e pratas quinhentistas e joias da família real.