Carlos Avilez morreu, esta quarta-feira, aos 88 anos, vítima de paragem cardio-respiratória, no Hospital de Cascais. "Mestre", "mentor", "um dos pilares" do teatro em Portugal, são algumas das reações de pesar à sua morte. "É um bocadinho do palco que fica mais escuro".
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Numa mensagem de pesar publicada no site da Presidência da República, o chefe de Estado considera que "Carlos Avilez ficará como figura fundamental de uma geração que mudou o teatro português entre as décadas de 1960 e 70, e com continuidade bem depois disso", da qual também fizeram parte figuras como Joaquim Benite ou Jorge Silva Melo.
Marcelo Rebelo de Sousa recorda que teve o prazer de condecorar Carlos Avilez em 2018 com as insígnias de membro honorário da Ordem do Mérito em nome do Teatro Experimental do Porto (TEP), "enquanto presidente da República, e enquanto seu espectador, admirador e amigo, em reconhecimento de seis décadas de arrojo, entusiasmo, persistência e generosidade".
Destaca, ainda, o exercício das "funções de diretor dos dois teatros nacionais, o S. João e o D. Maria II, e a fundação da Escola Profissional de Teatro de Cascais", acrescentando que se deve a esta escola "a descoberta e formação de muitos jovens atores".
"Um apaixonado e incansável homem do teatro"
"Carlos Avilez era um apaixonado e incansável homem do teatro. O seu legado na vida cultural portuguesa é imenso, pelo contributo que deu para a modernização teatral do país, desde a fundação do Teatro Experimental de Cascais às produções memoráveis que encenou", salientou António Costa na mensagem que publicou sua conta na rede social X (antigo Twitter).
Para o primeiro-ministro, Carlos Avilez "será também recordado pela criação da Escola Profissional de Teatro de Cascais, que tantos jovens talentos tem revelado ao longo dos anos".
"Como é próprio dos mestres, o teatro era, para ele, um espaço de circulação e transmissão entre diversas gerações", acrescentou.
"Um dos nossos maiores atores e encenadores"
"A morte de Carlos Avillez entristece todos quanto amam o teatro. Ele é um dos nossos maiores atores e encenadores, e assim permanecerá. Ao Teatro Experimental de Cascais, de que foi fundador, e à sua família, sentidas condolências", escreveu o presidente do parlamento na sua conta na rede social X (antigo Twitter).
"Um mestre e um mentor"
Num comunicado partilhado na conta oficial do Ministério da Cultura na rede social X, o ministro Pedro Adão e Silva recorda que, "tendo trabalhado com figuras internacionais que revolucionaram a arte da representação no século XX, Avilez teve em Portugal um papel igualmente inovador".
"Para sucessivas gerações de atores, que continuou a dirigir e ensinar até à semana passada, foi um mestre e um mentor", salienta o governante.
"Um dos pilares" do teatro em Portugal
Os diretores artísticos dos teatros nacionais D. Maria II, em Lisboa, e S. João, no Porto, veem na morte de Carlos Avilez a perda de "um dos pilares" do teatro em Portugal, deixando o palco um pouco "mais escuro".
O diretor artístico do Teatro Nacional S. João, Nuno Cardoso, recordou à agência Lusa o "pedagogo, o criador, gestor" Carlos Avilez, que "trouxe inúmeras exceções e mudanças ao nosso panorama", antes e após o 25 de Abril, afirmando que a sua equipa "está triste, profundamente triste", porque "quando uma coisa destas acontece, é um bocadinho do palco que fica mais escuro".
O diretor artístico do Teatro Nacional D. Maria II, Pedro Penim, por seu lado, disse à Lusa que a morte de Carlos Avilez representa a "perda de um dos pilares importantes do teatro português".
Acrescentou que há "gerações de novíssimos atores que têm no Carlos quase um ídolo, e que certamente ajudarão a carregar esta marca que nos deixou".
A propósito citou um "jovem ator" com quem tem colaborado recentemente e que saiu da Escola de Cascais considerando que tem "uma preparação técnica e artística de muito relevo", e onde "é notório o dedo do rigor e da inventividade do Carlos Avilez".
Fez sempre "a ponte entre o velho e o novo"
O encenador João Mota lamentou a morte do amigo Carlos Avilez, que conheceu quando começou a trabalhar no Teatro Nacional D. Maria II, no início da carreira, e que "conseguiu sempre fazer a ponte entre o velho e o novo".
"O Carlos Avilez para mim é mais que um colega, é um amigo, é o amigo Carlos", frisou o diretor do Teatro da Comuna, recordando que tinha 15 anos quando conheceu Carlos Avilez, com quem partilhou camarim no D. Maria II, na então companhia Rey Colaço-Robles Monteiro.
Recordando o percurso profissional de Carlos Avilez, João Mota afirmou que conseguiu "sempre fazer a ponte entre o velho e o novo". "Todos passámos por lá, todos trabalhámos com ele", observou.
"Uma enorme perda para quem não o conheceu"
A atriz e encenadora Maria do Céu Guerra manifestou-se "muito triste" com a morte do encenador Carlos Avilez, considerando-a uma "grande perda" para quem o conheceu e uma "enorme perda" para quem não o conheceu.
"Ele deu a tanta gente tanto da cultura teatral. Penso que devem ter sido muito poucas as pessoas que deram tanto ao teatro português, ele deu a sua vida ao teatro", frisou a atriz e encenadora. Por isso, o desaparecimento de Carlos Avilez representa uma "grande perda" para quem o conheceu e conhece a dimensão do seu trabalho; por isso, é também uma perda maior, uma "enorme perda" para quem não o conheceu e não conseguiu tomar contacto com a dimensão desse trabalho.
Câmara de Cascais decreta dia de luto municipal para quinta-feira
O presidente da Câmara de Cascais, Carlos Carreiras, lamentou a morte de Carlos Avilez, fundador do Teatro Experimental de Cascais, e decretou um dia de luto municipal para quinta-feira. Numa nota, publicada nas suas redes sociais, o autarca destacou que é "com profunda tristeza" que se despede "de um amigo e de um homem de cultura" que deixou um "extraordinário legado" e formou "tantas e tantos talentos".
Carlos Carreiras afirmou ainda que irá decretar quinta-feira como dia de luto municipal. "Estou certo de que este meu pesar é partilhado por todos os eleitos e colaboradores municipais, muito em especial os da Cultura", sublinhou, realçando que "a inteligência e a sensibilidade que marcavam o talento do excecional homem de teatro eram por ele generosamente distribuídas quer no âmbito da sua atividade profissional quer no trato pessoal".