Funk brasileiro: crescer ao ritmo de música sexualizada e misógina
Pais que ouvem os filhos (nalguns casos, bem pequenos) cantar letras obscenas sem saber o que estão a dizer; crianças que, em casa ou nos recreios, dançam inocentemente canções erotizadas; adolescentes que crescem a assistir à banalização do sexo e da objetificação da mulher. O funk brasileiro soma e segue entre os mais novos e há demasiados adultos a fechar os olhos aos riscos, alertam especialistas.
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Bárbara, mãe de 48 anos, lembra-se do momento em que lhe soaram as sirenes. A filha, então com oito anos (hoje tem 12) andava a cantarolar e a dançar pela casa, quando percebeu que das letras que a garota tão alegremente entoava constavam termos como macetar (frequentemente usado como sinónimo de uma relação sexual impetuosa), xoxota (jargão brasileiro para vagina), entre outros. O estado de alerta foi imediato. "Fui logo ao YouTube perceber que tipo de músicas ela andava a ouvir." O que descobriu deixou-a apreensiva. "Músicas com linguagem completamente obscena. Não era só dizer "carvalhos" ou coisas que tais, eram coisas mesmo explícitas de "enfio aqui", "chupas ali", "queres é sentar aqui e lamber acolá". Além de gestos assumidamente sexuais. Não é como em algumas músicas tradicionais portuguesas, em que há uma brincadeira ou outra com as palavras. São músicas mesmo muito más, com linguagem e coreografia totalmente impróprias, nem sei como são lançadas." Se uma grande parte dos autores daquelas músicas, maioritariamente de funk brasileiro, eram para Bárbara perfeitos desconhecidos, também encontrou temas de artistas mainstream que a deixaram de cabelos em pé. "A Anitta, por exemplo, tem uma música em espanhol, que é a "Envolver", que tem uma letra muito má e o vídeo é péssimo", partilha, preocupada. Quanto à filha, não fazia ideia do que andava a reproduzir. "Cantava inocentemente porque não percebia o que estava a dizer, até porque há muitas palavras em brasileiro, sobretudo as que se referem às partes íntimas, que são muito diferentes das que nós usamos."