Cineasta britânico Mike Leigh volta a assombrar-nos com “Verdades difíceis”. O filme estreia esta quinta-feira nos cinemas.
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Um dos grandes autores do cinema contemporâneo, o octogenário Mike Leigh regressa em grande forma com “Verdades difíceis”. Conhecido pela forma como observa a mente humana, utilizando a câmara como um bisturi, serve-se normalmente de atores cúmplices, pondo em prática uma metodologia própria, que parte da ausência de guião.
Leigh é autor de obras que ficarão para sempre na memória de quem gosta de cinema, como “Nu” ou “Vera Drake”, “Tudo ou nada”, “Um ano mais” ou “Segredos e mentiras”, que venceu a Palma de Ouro e conferiu a Brenda Blethyn o prémio de interpretação em Cannes, e seria candidato a cinco Oscars.
De entre estas cinco nomeações, a de melhor atriz secundária foi para Marianne Jean-Baptiste, que o realizador convida, quase 30 anos depois, para protagonista de “Verdades difíceis”. E que espantoso trabalho tem a atriz. No filme, é Pansy, uma mulher da classe média britânica, vivendo com o marido e o filho adulto – mas indigente. Pansy está mal com o mundo em seu redor, com a família, com a vizinhança, com a empregada do supermercado. Qualquer coisa a irrita, é desagradável para toda a gente, não se cala. Só a irmã, cabeleireira, consegue ter uma conversa com ela.
Todos nós conhecemos uma Pansy. Já nos cruzámos com ela, ou temos alguém assim na família. Fugimos a sete pés do seu convívio, já não temos paciência para gente assim. Mas o que Mike Leigh consegue, surpreendentemente, é criar uma enorme empatia com ela – apesar de a detestarmos.
Porque percebemos que o mundo à nossa volta é um potencial gerador de Pansys. Porque somos todos seres humanos, mas somos todos diferentes. Doença ou feitio, Pansy é um produto do que nós somos. E quando amamos alguém assim, como aquela família a ama, não os podemos deixar cair.