Morreu o jornalista José Queirós. Natural do Porto, foi uma figura marcante do jornalismo português das últimas décadas e chefe de redação do "Jornal de Notícias". Tinha 67 anos e sucumbiu ao tão cruel cancro.
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Na memória daqueles que o conheceram de perto, fica a imagem de "um homem firme com uma inteligência muito viva", assume José Pacheco Pereira, escritor, político e amigo de José Queirós.
Com mais de três décadas de trabalho no jornalismo, José Queirós deu os primeiros passos na carreira no diário "O Primeiro de Janeiro", em 1977. Transitou, anos mais tarde, para o jornal "Expresso", onde liderou, na década de 1980, a expansão da delegação portuense do semanário.
"No jornalismo deixou uma marca exemplar. Era rigoroso, de uma exigência quase doentia em relação a si próprio", sublinha Pedro Bacelar de Vasconcelos, político e amigo de longa data. "Conhecemo-nos com 17 anos", lembra. "Deixou um padrão de grande exigência, objetividade. Do ponto de vista social era um bom amigo, notívago... tinha um grande amor à vida".
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Foi aqui que germinou a ideia de fundar um novo diário, tendo sido particularmente ativo, com Vicente Jorge Silva, na conceção do jornal "Público", de que foi um dos principais fundadores e onde integrou várias direções editoriais.
"Conheci-o ainda antes do 25 de abril", recorda Pacheco Pereira. "Dedicou-se à carreira de jornalista, uma carreira que ele gostava muito. Como diretor do 'Público', fez parte de uma geração de facto muito importante. Tentou fazer um jornal de referência, muito diferente dos outros", assume.
Em 2002 chegou ao JN, como chefe de redação, e abraçou de novo um momento de mudança. Deu, a quantos com ele trabalham, muito do seu acumulado saber e portas para uma diferente forma de estar no jornalismo, valorizando o processo participativo e o debate de ideias.
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"Penso que via com muita tristeza a situação do jornalismo nos dias de hoje", lamentou Pacheco Pereira. "Nós tínhamos uma relação de proximidade. Era um homem, firme, muito vivo, tinha uma inteligência muito viva e uma grande capacidade analítica", descreveu o político.
Em 2008, saiu do JN e dedicou-se ao mundo editorial, na Figueirinhas, mas o apelo da profissão de sempre não podia deixar de prevalecer, o que o levou a aceitar, em 2010, o cargo de provedor do leitor do "Público", deixando algumas páginas que se tornaram antológicas sobre o exercício do jornalismo e a ligação deste com os leitores.
"Deixa uma herança preciosa para os jornalistas", admite Bacelar de Vasconcelos.
Era, também, o mais velho de três irmãos jornalistas, tendo no "Público" partilhado o espaço com João Queirós, prematuramente desaparecido, e Luís Miguel Queirós, que ali continua a exercer funções. A toda a família, o JN expressa solidariedade.
"É sempre difícil dizer o que é que as pessoas que morrem deixam no outro. Recordações, conversas em comum, troca de ideias (umas que deram origem a coisas concretas, outras que ficaram nas intenções)... De qualquer maneira, faz parte de um conjunto de pessoas cuja biografia, cujo trajeto, cuja atividade, sempre acompanharei. Tínhamos uma relação de amizade que não precisava de agenda especial", recorda Pacheco Pereira.
O corpo de José Queirós estará em câmara-ardente esta sexta-feira à tarde, no Tanatório de Matosinhos, e o funeral realiza-se sábado, às 14 horas.