Leia Mulheres é um clube de leitura e de diálogo feito de mulheres para mulheres. Todos os meses há uma escritora chamada à leitura e à conversa para resgatá-las do esquecimento.
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"Ele vinculou-se verdadeiramente a ti quando começou a odiar-me". Paula Groff, de 34 anos, lê uma passagem do livro "A Fúria" da escritora argentina Silvina Ocampo e não disfarça o encantamento que a historia lhe provocou: "Estou a flutuar. É de longe uma das melhores escritoras que já li na minha vida".
Paula é brasileira está no Porto há três meses e sente que o clube de leitura Leia Mulheres é " a sua casa fora de casa". Leia Mulheres é um clube de leitura e de diálogo, conversa de mulheres para mulheres. O encontro acontece todos os meses, ora no "Dona Mira", ora no "Bar of Soap", no Porto, ao final da tarde. "As sessões servem para discutir um livro previamente escolhido entre nós. As moderadoras escolhem os livros do ano, deixámos dois livros à escolha das participantes", conta ao "Jornal de Notícias", Alice Teixeira, de 34 anos, dinamizadora do grupo.
Iniciativa atravessou o oceano
A história do clube inicia-se no Brasil em 2015, e atravessa o Atlântico em 2018 pelas mãos de Juliana Gomes, Juliana Leuenroth e Michelle Henriques. Alice, entretanto, recém-chegada do Brasil ao Porto envolve a sua vida no clube como participante, e desde 2020 como organizadora, juntamente com a amiga Juliana Garbayo. Volvidos sete anos desde a sua inauguração, o clube já conquistou leitoras na Alemanha e nos EUA.
A escritora em discussão na última sessão do Leia Mulheres é a argentina Ocampo que criou sentimentos contraditórios no grupo. São sete participantes nesta sessão e umas gostaram do que leram, outras nem por isso. Sentam-se ao redor de uma mesa no café do Porto leem e conversam sobre a obra entre goles de vinho e de cerveja.
Há uma regra definida: que seja uma mulher em leitura e em discussão, tal como sublinha Alice: "O nosso objetivo é recuperar essas mulheres que sempre estiveram presentes na história mas que foram deixadas um pouquinho de lado, e agora temos esta preocupação de resgatá-las, até porque enquanto participantes sentimos que sempre tivemos muito mais contacto com literatura escrita por homens e desejamos redescobrir essas mulheres".
E remata a participante Paula Groff: "Tudo passa por uma veia feminista, se é mulher, está do próprio lado".
A escritora que estará no centro da mesa redonda, no próximo mês, será a brasileira Carolina Maria de Jesus, com o livro "Quarto de despejo".