Dezenas de milhares de pessoas manifestaram-se este domingo em Bruxelas num protesto que juntou mais de 200 organizações da sociedade civil a exigir o fim das relações da Bélgica com Israel por alegados crimes cometidos em territórios palestinianos.
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Segundo descreve a agência espanhola EFE, vestidos de vermelho, carregando faixas feitas à mão e milhares de bandeiras palestinianas, os manifestantes formaram uma maré vermelha que marchou pela cidade, da Gare du Nord até ao coração do Bairro Europeu.
Foi a segunda edição da chamada "Linha Vermelha por Gaza", que em junho passado reuniu cerca de 100 mil pessoas com as mesmas reivindicações.
Os manifestantes também demonstraram apoio à " Global Sumud Flotilha", no âmbito da qual 20 barcos transportando 350 pessoas (entre as quais três portugueses) tentam chegar a Gaza para romper o bloqueio de ajuda humanitária imposto por Israel.
"O movimento aqui na Bélgica continua a pressionar o governo pôr fim a todas as relações - comerciais, militares ou diplomáticas - com um regime que foi reconhecido por cometer crimes contra a humanidade e que, no mínimo, está a cometer um provável genocídio e continua a anexar territórios palestinianos atualmente", disse à EFE Fiona Ben Cheukroun, coordenadora europeia do Comité Nacional Palestiniano para os Direitos das Pessoas com Deficiência (BDS), uma coligação de organizações pró-Palestina.
A Associação Belgo-Palestina, os coletivos CNCD-11.11.11, os sindicatos FGTB e CSC, a Solidaris e a União dos Judeus Progressistas da Bélgica, entre outros, também participaram na manifestação, que, segundo estimativas da polícia, juntou pelo menos 70 mil pessoas, número que a organização aumenta para 110 mil.
O governo belga concordou esta semana em reconhecer o Estado da Palestina, após uma série de debates internos que ameaçaram desestabilizar a coligação do primeiro-ministro flamengo de direita, Bart de Wever.
O acordo - anunciado pelo ministro dos Negócios Estrangeiros, Maxime Prévot - inclui também a imposição de sanções contra Israel, incluindo a proibição de importação de produtos belgas, a revisão da política de compras públicas com empresas israelitas, a proibição de sobrevoos e trânsito de navios e a declaração de "persona non grata" para "dois ministros israelitas extremistas, vários colonos violentos e líderes do Hamas".
Porém, estas medidas não foram consideradas suficientes para as dezenas de milhares de pessoas que se manifestaram hoje e que exigem o respeito ao direito internacional e sanções mais duras contra o governo do primeiro-ministro israelita, Benjamin Netanyahu.
Bruxelas é também a sede das instituições europeias, que os manifestantes acusam se serem "cúmplices" do atual "regime israelita de apartheid e genocídio", por continuarem a financiá-lo.
Os Estados-membros "não podem se esconder atrás da União Europeia", vincou Ben Cheukroun, acrescentando que ambos devem agir, mas cada um dos países, por si, tem "a obrigação legal de impedir este genocídio".
A manifestação em Bruxelas aconteceu na altura em que o exército israelita leva a cabo uma ofensiva contra a cidade de Gaza, capital da Faixa de Gaza, onde nas últimas duas semanas, quase um milhão de palestinianos se refugiaram, muitos deles já deslocados de outras partes do enclave.
Pelo menos 83 pessoas morreram no sábado em ataques israelitas, incluindo 31 que procuravam obter comida, de acordo com o Ministério da Saúde da Gaza, controlado pelos islamitas do Hamas, grupo considerado terrorista pela União Europeia e Estados Unidos da América.
De acordo com os números dos islamitas, as forças israelitas mataram pelo menos 64.368 moradores de Gaza, incluindo 18.500 crianças, desde o início da escalada militar, em resposta aos ataques terroristas do movimento Hamas contra Israel, em outubro de 2023.