Uma bela e perturbadora primeira obra da realizadora belga Emanuelle Nicot em estreia esta quinta nas salas portuguesas.
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Apesar de a “filmografia” sobre a infância ser já numerosa e consistente, não haverá muitos filmes a abordar esse período das nossas vidas de uma forma tão ousada, perturbadora e politicamente incorreta como “O Amor Segundo Dalva”.
Se juntarmos a essa ideia o facto d se tratar de uma primeira longa-metragem, coescrita e realizada pela belga Emmanuelle Nicot, que mostra já uma enorme maturidade, na forma como aborda o tema e como o explora de uma forma cinematográfica, então estamos mesmo perante um filme que urge salientar, numa imensa molde de estreias, que se saúda pela sua diversidade, mas que, por vezes, impede alguns títulos de se afirmarem nas opções dos espetadores e cinema.
“O Amor Segundo Dalva” segue o título internacional de uma obra que, no seu original, se esconde mais por detrás de um enigmático “Dalva”. Dalva é a personagem central da história, uma jovem de doze anos que se percebe ter sido abusada pelo pai mas que, contrariamente ao que poeríamos pensar, assume esse facto com a naturalidade de dois seres que se amam.
O desenrolar da história segue o que são os trâmites legais de um caso de abuso sexual de menores, com Dalva a ser colocada num centro de acolhimento de menores, não hesitando a realizadora, e bem, em confrontar Dalva não só com a mãe ausente mas também com o próprio pai.
O filme recorda-nos que cada etapa das nossas vidas, como a infância, tem as suas próprias vivências, mais do que regras sociais, e que, com a idade da protagonista, um ser humano ainda não está preparado para assumir determinadas opções. O que é espantoso em Emmanuelle Nicot é que a realizadora o faz sem recorrer a lugares-comuns, sem estigmatizar personagens, tentando pelo contrário percebê-las.
Guiados por uma extraordinária prestação da jovem Zelda Samson, com a idade da personagem que representa, já amplamente premiada e também em estreia absoluta no cinema, “O Amor Segundo Dalva” é um filme que nos confronta e nos emociona.