Diretor do novo Centro de Cinema, que abre amanhã: "O que estamos a fazer aqui é novo".
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O cinema ali é epidérmico e o cinema, com os seus desafios éticos e intelectuais, tem de ser um lugar de lazer. Ali é o Batalha Centro de Cinema, a nova cinemateca que o Porto nunca teve e há muito merecia. Guilherme Blanc é o seu diretor artístico e tem um desafio extraordinário a partir de amanhã: chegar a todos os públicos. "A nossa função é nova. E há um entusiasmo enorme com o Batalha a nível internacional", diz.
É a primeira vez que o Porto tem uma instituição pública, no caso municipal, só dedicada ao cinema. É desafiante?
Sim, e é uma proposta nova e nada conservadora, com um novo modelo de organização. Abrimos amanhã, os resultados terão que ser construídos. É importante capitalizar aquilo que estamos a semear.
Como se medirá o sucesso do Batalha: pelo público?
Não só, mas também. Gostaria de medir os primeiros resultados por instrumentos menos burocráticos. Queremos medir isto: se as pessoas se sentem bem aqui, se se sentem acolhidas, se sentem que este lugar é para elas. Queremos que as pessoas vejam filmes que não conhecem, dizemos isso de forma desempoeirada, sem problemas, queremos mesmo fazer algo novo. O resto já está a ser feito, e bem feito, com os filmes independentes que o Cinema Trindade já passa ou o comercial que os shoppings já exibem. A nossa função é outra e é nova.
Quer chegar a todos?
Queremos chegar a toda a gente. Isto é uma nova instituição cultural e pública, com desafios intelectuais e éticos, que trabalha conhecimento. Mas, essencialmente, o Batalha tem que ser um lugar de lazer, queremos que as pessoas se divirtam com o cinema. O cinema aqui é epidérmico. Podem cá vir, consultar as publicações da Biblioteca e beber um copo, aqui não há só exibição de filmes. Mas aqui as pessoas saberão que o Estado está a cumprir a sua função de bem-estar social e a equilibrar o jogo com as entidades privadas.
É a cinemateca que o Porto merece e nunca teve?
Sim... Mas é mais do que isso, é um projeto novo, diferenciado; cumpre, em parte, a função de uma cinemateca, mas é mais, é um centro cultural para o cinema. Temos cinema atual, programas temáticos, focos, retrospetivas, e muito mais, formações, cursos, grupos de discussão cinéfila, de jovens, grupos de leitura - e a procura é tanta que já esgotou. O cinema tem que provocar esta inter-relação. A nossa função é também provocar o encontro das pessoas, que precisam de se encontrar fora das redes sociais, de discutir, de construir em conjunto.
O cinema como rede social física?
Sim. O cinema, aqui, é um motor para combater o vazio inter-relacional, que se está a adensar cada vez mais. E o cinema deve estar ao serviço das pessoas, o cinema deve ser relacional, comunal - a ideia do comunal é que define hoje a prática da arte contemporânea, que, de resto, se reflete na nossa forma de trabalhar aqui, que é muito comunal.
Que relação existe com a Cinemateca Portuguesa?
Temos uma relação, quisemos construí-la, é uma relação a crescer, mas exclusivamente para o cinema português - aí sim, temos apoio deles, no espólio do cinema português. No cinema internacional, não, não há disponibilidade, a relação não existe, os filmes e programas deles não circulam pelo país. E isso não acredito que vá mudar. Mas felizmente temos recursos - somos uma instituição com autonomia - para mostrar o cinema que queremos. A nossa missão é outra. Mas gostava que a relação com a Cinemateca Nacional fosse mais aprofundada. Felizmente, o Porto tem autonomia para conseguir ter o centro de cinema que quer, tem recursos para isso. Se eu quiser mostrar o filme do Robert Wise "The day the earth stood still" mostro-o, não preciso da Cinemateca. Essa é a força do Porto.
Há alguma instituição como o Batalha?
No país, não. Lá fora, pouco. E há um entusiasmo enorme com o Batalha a nível internacional, estamos em rede com os grandes programadores e curadores e centros de arte. O que estamos a fazer é novo, de certa forma. Há "film centers" nos EUA que estão a fazer o que estamos a fazer, como Harvard, ou o Eye Film Institute, na Holanda, ou certos cinemas europeus. Mas o que estamos a fazer aqui no Porto é bastante original.
Fim de semana
Sessão inaugural - Agnieszka e Wise
Amanhã, dia de abertura, é tudo grátis. 18.30 horas (e 21.30): "The new sun" (Agnieszka Polska), e "The day the earth stood still" (Robert Wise). 23.30: "What the sun has seen" e "The new sun" (Agnieszka Polska). Das 23.30 às 2 horas: música com Juliana Huxtable e Jackie b2b Mvria.
Sábado - Visitas guiadas
A primeira visita guiada pelas equipas artísticas e de arquitetura é às 11.30 horas. É grátis.
Sessão para famílias- Méliès e animação
Sábado, 15 horas há a 1.ª Sessão Famílias, com: "Viagem à lua" (Georges Méliès); "Os macacos que queriam apanhar a lua" (Zhou Kequin); e "Wallace e Gromit: Uma grande aventura" (Nick Park).
Antestreia de sábado - "A Sibila"
17.15 horas: "A Sibila" (Eduardo Brito). No fim há conversa com Eduardo Brito, Mónica Baldaque, Paulo Branco e Isabel Ponce de Leão. 21.15 horas: "Chocolat", da retrospetiva integral da francesa Claire Denis.
Domingo- Sci-fi e Galvão Teles
16.15 horas: "A confederação: o povo é que faz a história" (1978), de Luís Galvão Teles (do programa "Políticas do Sci-fi"), seguindo-se conversa. 19.15: programa "Melancolias de Extinção" com: "The great silence (Jennifer Allora) e "Flores" (Jorge Jácome)