A ascensão, os crimes e a queda de um dos criminosos mais amados da América.
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De um lado, os maus da fita. Do outro, os bons. Por todo o lado... um ego gigante. Só ao quarto julgamento foi possível encerrar o “queridinho” de Nova Iorque, John Gotti, na cadeia. Por dois motivos: além de se tratar de um dos maiores mafiosos americanos – e, por isso, quase intocável – polícia e FBI não queriam perder a oportunidade de ficar com os louros dessa condenação. Só quando uniram esforços conseguiram surpreender o líder criminoso da chamada família Gambino, uma das mais poderosas da cidade na década de 80.
É este o cenário retratado no documentário “A Cidade do Medo: Nova Iorque Contra John Gotti”, uma produção Netflix que revela na perfeição o perigo da arrogância e do gosto pela extravagância num mundo que se quer secreto: o da máfia. Ao longo de três episódios, o trabalho reúne depoimentos não só de agentes da autoridade e procuradores envolvidos nas diversas investigações como de antigos gangsters que conviveram de perto com Gotti.
Vale a pena assistir ao discurso de Anthony Ruggiano Jr - que diz, orgulhosamente, ter consumido cocaína com Andy Warhol e David Bowie – e de Sally Ubatz, que admite, sem problemas, ter arrancado os testículos de um homem que se envolveu com a esposa de um dos chefes. “Não foi nada pessoal, apenas negócios”, resumiu.
Todo o documentário é adornado com conversas reais de Gotti, gravadas pela polícia, que se revelaram fundamentais para que, aos 51 anos, o líder fosse condenado a prisão perpétua, na sequência de uma traição cometida pelo número dois da hierarquia. No entanto, até lá, o carismático criminoso, sempre impecavelmente vestido, conseguiu conquistar a América, que se curvava a seus pés, pedindo autógrafos e defendendo a sua honra: “é só um bom homem”.
Impossível não pensar nas mortes que poderiam ter sido evitadas se as autoridades se tivessem juntado, nesta caça ao homem. Até porque como explica Ruggiano, a máfia tem três regras básicas: “não te metas com a mulher de outro mafioso, não vendas droga e nunca colabores com a polícia”. Quebrar estas linhas é pedir para morrer.