"Secrets of playboy" é uma série documental que revela o lado sombrio da famosa mansão de Hugh Hefner.
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Hugh Hefner, o magnata fundador da Playboy que morreu em 2017 com 91 anos, foi muitas vezes alvo de inveja por parte de muitos homens: rodeado de mulheres bonitas, milionário e dono de um império que prosperava através da nudez e da pornografia. Esse glamour, no entanto, sempre encobriu um lado sombrio. "Secrets of playboy" é uma série documental do canal A&E, realizada por Alexandra Dean, que levanta a cortina da famosa mansão.
São dez episódios que recorrem ao testemunho de ex-modelos e ex-funcionários, que agora acusam Hefner de drogar e coagir as mulheres que residiam na mansão para obter sexo, chantageando-as com fotografias tiradas quando estavam sob o efeito de substâncias.
"Olhando para trás, era como um culto pela facilidade em que ficávamos isoladas do resto do mundo", explica Holly Madison, uma das ex-namoradas de Hefner. "Tínhamos um recolher obrigatório às 9 da noite e éramos encorajadas a não ter amigos, trabalho ou namorado. Nem autorização para sair, a não ser em épocas festivas e só para estar com a família."
Jennifer Saginor foi outra vítima nas mãos de Hefner. Filha de Mark Saginor, o médico pessoal do magnata, que receitava medicamentos, e um dos grandes amigos de Hefner. Tinha apenas seis anos quando visitou pela primeira vez a mansão, 11 quando se mudou para lá e 17 quando foi convidada a participar numa orgia. Pouco depois começaria a consumir drogas e a realizar cirurgias plásticas. Escreveu toda a sua experiência no livro "Playground: a childhood lost inside the playboy mansion", publicado em 2005.
O medo de deixar a mansão era grande. Hugh Hefner mantinha fotos e vídeos pornográficos das modelos, revelou Madison. "Hef nunca queria usar proteção. Era nojento" continua. "Era promovida a competição entre as modelos. E ainda éramos incentivadas a fazer cirurgias plásticas".
Crystal Hefner, a última mulher do magnata, que morreu aos 91 anos, já confirmou via Twitter, a veracidade das fotos. "Encontrei centenas das fotos de que Holly Madison falou. Imediatamente destruí-as por todas as mulheres. Já não existem."
A antiga diretora de vendas da Playboy e uma das modelos, Miki Garcia, também confirma que aquele modo de vida era uma espécie de culto. "As mulheres tinham sido educadas a acreditar serem parte de uma família. Enquanto Hefner acreditava ser o dono delas."
Havia pelo menos cinco orgias marcadas por semana, e só através dos sedativos, referenciados como "abre pernas", é que as modelos conseguiam corresponder às exigências.
Suicídios, overdoses, violações e estrangulamentos
Os eventos trágicos acabaram por se suceder, como a morte por overdose da modelo Adrienne Pollack em 1973, o suicídio da assistente pessoal de Hefner, Bobbie Arnstein em 1975, ou a morte de Dorothy Stratten, estrangulada pelo namorado depois de receber o título de "Playmate of the year", em 1980.
Outro testemunho é o de Sonda Theodore, que manteve uma relação com o milionário durante cinco anos. Durante esse tempo consumiu cocaína para conseguir acompanhar as orgias diárias impostas por Hefner.
PJ Masten era a matriarca da mansão, admitiu que chegou a encobrir violações. Foi ela quem revelou, num dos episódios, o momento que envolveu a atriz pornográfica Linda Lovelace (1949-2002) enquanto estava sob o efeito de álcool e drogas. "Todos riam. Drogaram-na e obrigaram-na a fazer sexo oral com um cão. Quer falar de depravação? Isto é nojento."
Masten também foi vítima de violação de Bill Cosby, em 1979, um dos amigos próximos de Hefner, acusado por inúmeras menores de assédio sexual. "A última memória que tenho é de ele me ter oferecido uma bebida. Acordei às quatro da manhã, tinha sangue a correr-me pelas pernas, porque ele me tinha sodomizado."
O ex-motorista de Hefner também revelou que todas as quintas-feiras se realizavam as intituladas "Pig night". Contratavam 12 prostitutas das ruas de Los Angeles, que depois eram examinadas. Se não tivessem qualquer doença sexualmente transmissível, jantavam com celebridades. A noite acabava em sexo.
O documentário também especula sobre as inúmeras câmaras espalhadas pela mansão. As fotos e os vídeos eram a forma de chantagem de Hefner contra qualquer pessoa que ameaçasse revelar a verdade por detrás da imagem da Playboy.
A Playboy já emitiu um comunicado, afirmando que ações do fundador Hugh Hefner são abomináveis. "Antes de mais nada, queremos dizer: confiamos e validamos as mulheres e as suas histórias, e apoiamos fortemente os indivíduos que se apresentaram para partilhar as suas experiências. Como marca com a positividade sexual no seu cerne, acreditamos que a segurança e responsabilização são primordiais."
"A família Hefner já não está associada à Playboy, e a Playboy de hoje já não é a Playboy de Hugh Hefner", vinca o texto escrito no comuncado.
Porém, Cooper Hefner, o filho mais novo de Hugh Hefner, fruto da relação com Kimberley Conrad, utilizou a rede social Twitter para defender o pai. "Alguns podem não aprovar a vida que o meu pai escolheu, mas o meu pai não era um mentiroso. Estas histórias obscenas são um estudo de caso em que o arrependimento se torna vingança."