Primavera Sound Porto provou em concertos de espetros opostos que é necessário manifestar que a sociedade não está amorfa, está viva e pensante.
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Quando Oliver Stone fez "Assassinos Natos", essa pérola do cinema que tinha Quentin Tarantino como guionista, existia uma cena em que Mallory Knox confrontava um homem que a tinha tentado agredir, a grandeza da cena residia na banda sonora, onde entrava o potentíssimo "Shitlist", das L7. Essa pujança artística, da distorção das guitarras, a voz e a bateria a rebentar parecia ter ficado algures perdida no tempo, nos finais da década de 90. Mas, esta noite no Primavera Sound, Kathleen Hanna e as suas Le Tigre restauraram-nos a confiança, essas mesmas mulheres estão vivas.
Elas vestem de branco e negro, porque quando se fala de ódio e amor, não há cinzentos. Para o espetador as letras passam no cenário, como uma espécie de karaoke gigante, que nos dizem explicitamente: misóginos, racistas, machistas não são bem-vindos. E acusam alto e claro, com o seu formato trio, vozes de raiva e guitarras em distorção : "Um passo em frente e cinco para trás", denunciando políticas e práticas sociais, sobre as quais é necessário falar. Temas como "TKO", "Deceptacon" (que também foi banda sonora de um outro filme) ou "FYR" comprovam décadas em que as mulheres foram propositadamente deixadas para trás. Todos os orfãos de L7, Bikini Kill e Babes in Toyland encontraram esta noite a instituição que os vai acolher.
Ódio racial
Num registo diametralmente oposto, o rapper Pusha T (Terrence Thornton) teve uma enchente de dedos do meio em riste, mãos direitas no ar, a mesma violência, o mesmo gosto por pôr o dedo na ferida e chamar a atenção para causas sociais, no caso sobre o ódio racial. Com temas como "How do you respond", "Rock and roll" , "So appaled" conseguiu pôr milhares de pessoas com a mesma raiva, a mesma vontade poderosa de mudar as coisas. Mas foram os temas "Runaway", "I don´t like" e "Misfit toys" que causaram um poderoso cataclismo no meio do relvado.
Como dizia Shakespeare : "no dia em que nos deixarmos de opor ao que é mau para nós, perdemos toda a vontade de viver".