Pet Shop Boys: mestres da pop eletrónica marcaram a terceira noite do Primavera Sound
Neil Tennant e Chris Lowe mantêm intactas as virtudes e ofereceram rave para todas as gerações na noite de sexta-feira. St. Vincent seduziu o público com rock refinado e sensual.
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Sobre as bandas que passaram o apogeu há décadas, há diferentes perceções: a do desastre absoluto, tão confrangedor que não há boa memória que resista (exemplo: Happy Mondays em Vilar de Mouros, 2016); a visão benevolente, que reconhece que os músicos já foram mais novos, mas se esforça por valorizar os pontos positivos da prestação (Bauhaus, em 2022, também em Vilar de Mouros); e um certo desconcerto com a constatação de que as qualidades da banda estão ainda intactas. Pertencem a esta categoria os Pet Shop Boys, que protagonizaram o momento alto da terceira noite do Primavera Sound.
O duo mais bem sucedido na história da música britânica (segundo o The Guinness Book of Records), Neil Tennant e Chris Lowe, agora sexagenários, parece saído de uma cápsula criada nos anos 1980, quando lançaram os seus tomos mais ilustres - "Please", "Actually" e "Introspective". Não no sentido de estar datado como peça museológica, mas como se tivesse sido anteontem que filmaram o clip de "It´s a sin".
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Mestres do encontro da pop com linguagens eletrónicas, estão disponíveis para dar lições a quase todos os projetos que hoje se ensaiam no domínio da canção entrelaçada com a faixa para discoteca. E podem dar como exemplos não só os clássicos, como "Suburbia" (que abriu o espetáculo no Porto), "Domino dancing" ou "Left to my own devices", mas também temas bem mais recentes, como "Dreamland" ou "Vocal". Há um arejo no som dos Pet Shop Boys, não só na frescura das músicas como no seu espírito, emocional e positivo, que é irresistível. O maior palco do festival ofereceu rave requintada a todas as gerações que lá apareceram.
Intimismo épico de St. Vincent
Ainda soavam as batidas dos Pet Shop Boys e já Anne Erin Clark, ou St. Vincent, adejava no Palco Vodafone de botas brancas, calções mínimos e guitarra na mão. O seu rock adornado de eletrónica e feito de arranjos sofisticados é sensual, imprevisível e grandiloquente. Baladas íntimas crescem para formatos de epopeia, canções como "New York", "Los Ageless" ou "Sugarboy" têm a mesma dose de suavidade e contundência. E a voz parece capaz de tudo: de preces e lamentos a proclamações heroicas. É das mais dotadas artistas rock da atualidade.