As incógnitas que pairam sobre o 2021 cultural a existir fora de portas variam conforme o idioma artístico. No teatro e na dança, aguarda-se o cumprimento das promessas que ficaram congeladas no ano passado.
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Nas artes plásticas, mostras de grandes dimensões vindouras ou já em curso serão incontornáveis. No cinema, os blockbusters retidos há meses deverão ter luz verde de exibição, enquanto uma mão-cheia de produções portuguesas estão assinaladas na agenda. Na música, aposta-se muito, estética e financeiramente, no retorno dos festivais de verão.
Já os eventos literários parecem determinados a migrar para um formato híbrido, parte encontros presenciais, parte streaming. Quaisquer que sejam os caminhos escolhidos, este é um tempo de expectativas. Se tudo correr bem e o ano for de retoma, eis alguns dos acontecimentos a anotar na arte e no entretenimento em exibição no mundo exterior.
Teatro e dança
Três certames vão dominar o ano do teatro e da dança: logo a abrir, o GUIdance, em Guimarães (4 a 13 de fevereiro), que traz, entre outras delícias, os Peeping Tom - um regresso absolutamente imperdível. Mais à frente no calendário chega outra edição dos DDD - Dias da Dança (15 de abril a 2 de maio) e do Festival Internacional de Teatro Expressão Ibérica - FITEI (28 de abril a 16 de maio) que por força das circunstâncias pandémicas viram as edições de 2020 adiadas.
A coreana Eun-Me-Ahn, o italiano Alessandro Sciarroni e o coletivo francês La Horde são alguns nomes que estavam previstos para 2020 e que são reprogramados em 2021. Mas nem só encasulados nos festivais vão decorrer as grandes apresentações.
A abrir o ano, o Teatro Rivoli, no Porto, assegura o regresso de Raimund Hoghe, com "Canzione per Ornella", já entre os dias 13 e 15 de janeiro. "Please, please, please", de Mathilde Monnier, La Ribot e Tiago Rodrigues chega em abril, ao Teatro Nacional D. Maria II, em Lisboa. Este será também o ano de oportunidade para vários coletivos nacionais se estrearem no Teatro Nacional São João, no Porto.
Por Catarina Ferreira
Ai Weiwi estreia-se na Cordoaria Nacional
Num 2020 em que todas as expectativas se goraram, um túnel de esperança chegou com o anúncio de uma primeira exposição de Ai Weiwei em Portugal. A mostra de quatro mil metros quadrados é uma das maiores retrospetivas de sempre do artista e ativista chinês, ocupando a Cordoaria Nacional, em Lisboa, a partir de 4 de junho, com curadoria do brasileiro Marcelo Dantas. Além de obras icónicas, o artista irá também mostrar alguns trabalhos inéditos, recorrendo a tradições portuguesas que estão a ser desenvolvidas com oficinas e artesãos locais.
Além desta mostra, a Fundação de Serralves, no Porto, tem patente, até junho, a exposição "Deslaçar um tormento", de Louise Bourgeois, que será seguramente uma das mostras mais interessantes do ano que agora começa.
Continuam, também, patentes até dezembro, no Mosteiro da Batalha, as 15 obras que compõem o retábulo que Almada Negreiros imaginou, incluindo várias pinturas primitivas (dos séculos XV e XVI), nomeadamente os icónicos Painéis de S. Vicente, sob um ângulo original: o geométrico.
Por Catarina Ferreira
A Missão possível da exibição em sala
Uma das consequências da pandemia e do encerramento das salas de cinema em muitos países foi o adiamento da estreia de grandes produções de Hollywood, que serão vistas em 2021, caso se alcance uma certa normalidade. Destacam-se o novo filme James Bond, "No time to die", agendado para 2 de abril, e a nova versão de "Dune", por Dennis Villeneuve, que chega a 2 de outubro. Mas vai haver mais: "Matrix 4" encerrará o ano, a 22 de dezembro, pouco depois de um novo Homem-Aranha, ainda sem título. Até lá chegará o nono "Velocidade furiosa", o sétimo "Missão: impossível" e o quarto "Hotel Transylvania". Os cinéfilos menos interessados em blockbusters terão quatro filmes do coreano Hong Sang-soo e cinco clássicos de Joseph Losey em cópias restauradas este mês. Do lado português, entre outros títulos, estarão prontos filmes como "The nothingness - Não sou nada", de Edgar Pêra; "Bem Bom", biografia das Doce; "Salgueiro Maia - O implicado", de Sérgio Graciano; "Amadeu", de Vicente Alves do Ó; ou "Great Yarmouth - Figuras provisórias", de Marco Martins.
Por João Antunes
À espera que os dias sejam melhores
A crise pandémica dá à muita programação já conhecida dos festivais de música uma nota provisória. O cenário, forçosamente otimista, alinha um sem-número de regressos. Caso do North Music Festival, no Porto, que anuncia Deftones ou The Waterboys entre 20 e 22 de maio. Ou do Primavera Sound, que a Invicta acolhe de 10 a 12 de junho, com dezenas de confirmações, FKA Twigs e Pavement entre os protagonistas. Ou do Rock in Rio, que promete Duran Duran e Post Malone, entre 19 e 27 de junho, em Lisboa.
Em julho, o Nos Alive propõe Red Hot Chili Peppers, Faith No More, entre muitos - será entre 7 e 10, em Algés. Do Meo Marés Vivas sabe-se que tem datas reservadas de 16 de 18 de julho em Vila Nova de Gaia, e a promessa de Anitta e Liam Payne. Com agosto chega o Meo Sudoeste, na Zambujeira do Mar (3 a 7), que tem Bad Bunny e Major Lazer. Em Viana do Castelo, Nina Kraviz e The Blessed Madonna são artistas em destaque no Neopop, que fará dançar entre 11 e 14 de agosto. Não muito longe, em Paredes de Coura, Pixies, The Comet Is Coming e Floating Points são nomes confirmados de 18 a 21 de agosto.
Por Jorge Manuel Lopes
Formato digital veio mesmo par ficar
No meio da incerteza que rodeia o futuro dos eventos literários, há um dado sobre o qual não restam dúvidas: o formato digital veio para ficar. O que significa que, mesmo num cenário de regresso à normalidade, os festivais vão passar a contemplar um segmento online. As múltiplas experiências em streaming realizadas nos últimos nove meses foram bem sucedidas, permitindo que os eventos chegassem a um número mais alargado de pessoas e assumissem uma dimensão internacional até então inexistente. Além disso, sem o desgaste natural das viagens, torna-se mais simples conseguir a participação de alguns dos mais disputados escritores da atualidade. O formato híbrido dos festivais literários - com programação online e presencial - será bem evidente nos eventos do próximo ano, como, aliás, ainda aconteceu no mês passado no encontro Tinto no Branco, em Viseu. Do Correntes D"Escritas (fevereiro) ao Folio (outubro), o calendário de eventos vai-se compondo a um ritmo crescente. A resposta dos espectadores a esses regressos é que, para já, ainda é uma incógnita.
Por Sérgio Almeida