Nova antologia poética de Daniel Maia-Pinto Rodrigues evidencia o caráter profundamente original de uma obra da qual o editor José Rui Teixeira selecionou 44 poemas.
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Adentrar na poesia de Daniel Maia-Pinto Rodrigues (1960) é um exercício de renovado deleite em que as neuroses, os conflitos e as dissensões, tão frequentes em boa parte das criações literárias contemporâneas, são sabiamente colocados em pousio. No(s) seu(s) lugar(es), o poeta convoca estados de alma mais próximos da quietude, cuja força advém precisamente da capacidade de sorver a energia presente nos elementos naturais.
“Excêntrica e extemporânea”, como a definiu Rui Lage no prefácio da antologia “Turquesa” (Imprensa-Nacional Casa da Moeda, 2019), por recusar-se a trilhar outros (per)cursos que não os seus, esta é uma poesia que dispensa de bom grado os aparatos verbais mais fogosos ou os jogos linguísticos exuberantes, convencida como está de que a sempre tão mal vista inércia tanto pode significar torpor excessivo como resistência, quer ao movimento, quer ao repouso.
Ao avançar para a antologia “Amo sobretudo às vezes”, José Rui Teixeira, poeta e editor da Officium Lectionis, contornou os intrincados critérios de seleção de ordem temática ou cronológica, privilegiando apenas o gosto pessoal, afinal, de longe, o mais recomendável dos parâmetros de avaliação.
Dos 44 poemas escolhidos, resulta um dos muitos possíveis caminhos através dos quais o leitor – qual “Walden”, de Thoreau – se passeia por entre madressilvas, em “manhãs sem nuvens”, por onde “as libélulas passam lentas de luz sobre os cedros”.
Neste milagre suave da suspensão do tempo, Maia-Pinto distancia-se do “mundo de experiências novas / de progresso na abertura de espaços, / (...) mundo acelerado de mil projetos / e de outros tantos ou mais objetivos” para preservar “sim, à moda antiga, os objetos”.
O que o move no regresso à natureza não é tanto o “bucolismo decorativo”, como aponta Lage, ou demais tretas ‘new age’, mas a noção de que é no seu âmago, distanciados do suposto conforto material, que encontramos um vigor e uma energia únicos. Como se fossemos um “anjo da guarda a atirar pedras lentamente contra a luz”.