Dia Mundial do Teatro: apoios, fim dos modelos concursais e da precariedade são os temas que marcam a data
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"É a nossa missão, dramaturgos, portadores da tocha do esclarecimento, desde a primeira aparição do primeiro ator no primeiro palco, estar na vanguarda de enfrentar tudo o que é feio, sangrento e desumano. Nós confrontamos com tudo o que é belo, puro e humano. Nós, e mais ninguém, temos a capacidade de espalhar a vida. Vamos espalhar juntos a causa de um mundo e uma Humanidade". É este o tom da Mensagem do Dia Mundial do Teatro, que hoje se celebra, no texto da atriz egípcia Samiha Ayou escrito para o Instituto Internacional do Teatro.
"Talvez seja a mensagem mais feliz e assertiva dos últimos cinco anos", diz Ricardo Simões, do Teatro do Noroeste, de Viana do Castelo, entidade responsável há cinco anos pela tradução da missiva. As palavras da figura tutelar do teatro egípcio têm a capacidade de "galvanizar os fazedores de teatro, porque o seu papel de criadores é único na conceção de uma cultura de paz, tolerância e empatia. O teatro necessita de mitigar todas as diferenças".
Esse caminho faz-se com um "ainda maior reconhecimento do atual ministério da Cultura, e estatuto do artista - uma vitória histórica que carece de desenvolvimento, independentemente das cores políticas. É necessário assegurar os direitos fundamentais da Cultura e da Educação", diz ao JN.
O Teatro do Noroeste tem 18 trabalhadores e teve direito aos apoios sustentados da Direção Geral das Artes (DGArtes), e, por isso mesmo, não pode ter uma postura de eucalipto com todos os que trabalham no seu território "periférico". Nem esquecer os que passam por uma situação onde já estiveram, como é o caso da ATA, companhia de teatro do Algarve, não apoiada este ano.
Câmaras: Seguro de vida
David Carvalho, da Filandorra, companhia teatral transmontana que tem vivido os últimos meses com o apoio das "autarquias entre Amarante e Miranda do Douro", é perentório: "O teatro necessita de sair da tutela de Lisboa e ser passado para a CCDR-N, onde estão concentrados os financiamentos razoáveis". Esta seria uma das fórmulas para sair de "uma anacronia sistémica de júris, repleto de disfunções anómalas".
Na Filandorra trabalham 11 efetivos e sete colaboradores. Como "engenheiro da imaginação", David Carvalho usará hoje do seu engenho para fazer do protesto um ato teatral, também este em busca da Humanidade pedida por Samiha Ayou. E adverte: "Se até 10 de junho não existir um sinal do MC [resposta positiva aos dois concursos de apoio a projeto a que se candidatou], a companhia terá que suspender a atividade. Gonçalo Amorim, diretor artístico do Festival Internacional de Expressão Ibérica (FITEI) e Teatro Experimental do Porto (TEP), assegura que continua a trabalhar em teatro "por sentir que é útil, uma área que me fez conhecer muita coisa que desconhecia. Dos poucos trabalhos que permitem habitar a zona de sonho, de expansão da consciência".
Mais responsabilidade
Mas, "o Teatro continua a precisar de financiamento, do combate à precariedade, de aumento de responsabilidade", diz Amorim. Bem como da garantia dos "espaços independentes que continuam a ser muito importantes". Neste ciclo de apoios estatais, os seus projetos foram contemplados, mas já (sobre)viveu com a falta destes, "momentos muito delicados, com grande sensação de injustiça". Por isso, hoje, uma segunda-feira, dia em que por norma se folga nos teatros, vai juntar-se à festa da Seiva Trupe, companhia teatral do Porto com 50 anos, excluída dos apoios da DGArtes.
Esta segunda-feira é grátis:
Porto
Visitas guiadas ao Teatro São João com atores do elenco residente (10.30, 11.30, 14h)
TNSJ: lançamento do livro "Falhar Melhor: A Vida de Samuel Beckett", de James Knowlson (19h)
TNSJ: leituras encenadas - "Ventura" e "M"hauríeu de pagar" de Jordi Prat i Coll (21h)
"Convoca-se um Teatro Vivo"- Seiva Trupe momentos musicais, de poesia e teatro -Sala Estúdio Perpétuo (21.15 h)
TEatroensaio lança "Ensaios de Teatro"- Sede da Associação de Jornalistas e Homens de Letras do Porto (18.30 h)
Viana do Castelo
"Guerra dos sexos"- Teatro Sá Miranda (21h)
Coimbra
"A Trilogia de Alice"-Nuno Carinhas- Teatro da Cerca S. Bernardo (19h)
Vila Real
"Auto de (Boa) Fé ao Senhor Ministro Imperfeito da Cultura, Adão sem Eva, da empatia e da compaixão, defensor das linhas de corte, A Maioria Mata" (10h), e "Diabos e Diabritos num saco de mafarricos - Contos da tradição oral transmontana", de Alexandre Parafita (14h)-Largo do Pelourinho Vila Real
Lisboa
"O Incorruptível"- Cinearte A Barraca (21.30h)
Almada
"Os Conspiradores do Futuro"-Teatro Estúdio António Ascensão (21.30h)