Miguel Januário afirma que Autarquia do Porto é a que pior lida com a crítica da arte urbana.
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Na Invicta inaugurou-se, na quinta-feira, um mural da artista Mariana Malhão alusivo ao São João. "A partir de uma encomenda do Município do Porto, a artista foi desafiada a criar, livremente, uma visão pessoal sobre esta festa e a memória de um povo. Ao seu dispor, uma parede branca. Uma parede que se devota ao rio, num diálogo entre a tradição e a contemporaneidade", escreveu a Autarquia numa nota.
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Mas o Município também é acusado por Miguel Januário, ou maismenos, de limpar os grafítis que não são considerados "estéticos ou fofinhos". Diz que o problema é da "moreirice", ou seja, "a legião de seguidores de Rui Moreira que não admite qualquer tipo de crítica", e acusa a Autarquia de ter limpo apenas duas obras suas em Contumil, como foi noticiado a semana passada pelo jornal "Público".
Januário afirma que isso foi a melhor coisa que lhe podia ter acontecido. "Se não tivessem apagado, aquilo passaria entre os pingos da chuva e apenas as pessoas que passassem naquele local conseguiriam ver a obra. Mas ao apagarem conseguiram que eu tivesse um alcance noticioso e nas redes sociais que nunca seria possível." Contactada pelo JN, a Autarquia não respondeu.
"Se um trabalho não for apagado", prossegue Miguel Januário, "significa que não teve nenhuma reação nem tem força, que é o que deve ser o grafíti: uma forma de ativismo. Se for bom não dura mais de três meses".
Depois de em 2017 ter passado dois meses com uma equipa do pelouro do Ambiente que limpa os grafítis na Invicta, Januário publicou um artigo no âmbito do doutoramento que está a fazer na Faculdade de Belas Artes da Universidade do Porto. Um artigo em que garante que o maior arquivo de arte urbana da cidade se encontra naquele departamento municipal. "Eles documentam exaustivamente o antes e o depois de todas as paredes que apagam". Januário garante que o problema é anterior a Rui Moreira: "O Rui Rio mandava apagar tudo".
O "artivista" diz que Lisboa lida melhor com a crítica. "Em 2013 pintei "Vende-se Portugal" num viaduto em Entrecampos. A Autarquia escreveu-me, mas nunca apagou e aquilo passou".