Os pais dos jovens que morreram na praia do Meco, em 2013, e o antigo dux da Universidade Lusófona mostraram-se surpreendidos com o anúncio de que a SIC vai exibir na plataforma de streaming Opto uma série portuguesa inspirada na tragédia. A antestreia de "Praxx" aconteceu ontem, na SIC generalista.
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"Foi com surpresa que os mesmos tiveram conhecimento da série, pois nunca ninguém os contactou sobre a mesma", explicou ao JN o advogado das famílias dos seis jovens que se afogaram, em dezembro de 2013, na praia do Meco, alegadamente durante um ritual de praxe.
Segundo Vítor Parente Ribeiro, os familiares das vítimas lamentam não ter sido informados. "Não conseguimos perceber como é que é possível realizar uma série, alegadamente, baseada na tragédia do Meco sem contactar os pais dos jovens falecidos", disse. Também a advogada do ex-dux da Lusófona e único sobrevivente da tragédia, Paula Brum, confirmou ao JN que o seu cliente, João Gouveia, "nunca foi informado ou contactado sobre esta produção".
Questionada pelo JN, a SIC diz ter o "maior respeito pelos familiares e memória das vítimas da tragédia", mas recorda que a série "não é uma reconstituição de acontecimentos ocorridos": "É inspirada em eventos reais, como o são outras formas de arte, mas sem relação com pessoas ou cenários verídicos", explicou fonte do canal.
Segundo a SIC, o tema das praxes académicas "continua a ser relevante e a merecer a devida discussão na sociedade portuguesa". Por isso, a posição da estação é a de que a série vai possibilitar a "discussão sobre o livre consentimento nas formas de integração universitária, questão que, por ser estrutural e já ter provocado dolo, não tem razão para ser ignorada e esquecida e com isso tornar vã as consequências de submissão e dor de milhares de cidadãos que possam ter vivido alguma situação semelhante".
A investigação à tragédia do Meco, recorde-se, não conseguiu esclarecer o que realmente aconteceu na fatídica noite de 15 de dezembro. Isso mesmo conclui o Tribunal Europeu dos Direitos do Homem, em 2020. Depois de terem percorrido todas as instâncias criminais, onde o processo foi sucessivamente arquivado, os pais dos universitários que morreram ainda tiveram esperança de que João Gouveia, o único sobrevivente, esclarecesse o que se passou, numa ação cível intentada no Tribunal de Setúbal.
A Justiça absolveu, em outubro de 2021, a Universidade Lusófona e João Gouveia, ex-chefe da praxe na academia, do pagamento da indemnização de 1,3 milhões de euros reclamada pelos pais dos seis estudantes.
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Uma tragédia narrada em 12 episódios
A trama, que terá 12 episódios, começa no momento em que sete jovens partem para São João da Cruz para celebrar a sua ascensão numa prestigiada associação académica. A diversão dá depois lugar a uma sucessão de acontecimentos inesperados e envoltos em mistério quando seis deles desaparecem na Praia de São João da Cruz em circunstâncias suspeitas. Na série, Marta (Madalena Almeida) vive a história de uma irmã de uma jovem universitária, que inicia uma busca pela verdade no que respeita à participação da sua irmã num evento de praxe. Para isso, tenta perceber o que se terá passado junto de Gonçalo, o Dux, que será o único a saber o que realmente se passou. A série foi criada por Ana Lúcia Carvalho e Patrícia Sequeira e produzida pela Santa Rita Filmes.