Alguns países europeus tornaram público nos últimos dias que ponderam boicotar o Festival Eurovisão da Canção em 2026, caso Israel participe no concurso, e a organização lembrou que cada país é livre de decidir se concorre ou não.
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De acordo com a Agência France Presse (AFP), a emissora de rádio e televisão dos Países Baixos Avrotros anunciou hoje que pretende boicotar o concurso devido à situação na Faixa de Gaza, juntando-se a outros países que ameaçam retirar-se da competição em 2026, marcada para maio na Áustria, país vencedor da edição deste ano.
Posição semelhante foi assumida também hoje pela Rádio Televisão da Eslovénia (RTV), que já em julho tinha dado conta, durante a Assembleia-Geral da União Europeia de Radiodifusão (EBU, na sigla em inglês), que boicotaria o concurso em 2026 caso Israel fosse autorizado a participar.
Na quinta-feira, tinha sido a Irlanda, que já venceu sete vezes o concurso, a anunciar a sua intenção de não competir ao lado de Israel.
Também esta semana, na terça-feira, a agência EFE noticiou que a Rádio Televisão Espanhola (RTVE) anunciou nesse dia estar a considerar todos os cenários possíveis em relação à participação no Festival Eurovisão da Canção, depois de em maio o primeiro-ministro espanhol, Pedro Sánchez, ter defendido que Israel deveria ser excluído do concurso.
Hoje, em declarações à AFP, o diretor do Festival Eurovisão da Canção, Martin Green lembrou que cada membro da EBU pode decidir livremente se quer ou não participar no concurso e que a sua decisão será respeitada.
"Compreendemos as preocupações e opiniões (...) relativas ao conflito em curso no Médio Oriente", afirmou Martin Green.
O diretor do concurso recordou que "as emissoras têm até meados de dezembro para confirmar a sua participação na edição do próximo ano, em Viena".
"Cabe a cada membro decidir se deseja participar no concurso e respeitaremos qualquer decisão das emissoras", disse.
O Festival Eurovisão da Canção é organizado pela EBU, a primeira aliança mundial de meios de comunicação social de serviço público, fundada em 1950, em cooperação com os seus membros de mais de 35 países, e da qual a Rádio e Televisão de Portugal (RTP) faz parte.
O concurso realiza-se anualmente na Europa desde 1956 e ao longo da sua história já houve países excluídos, caso da Bielorrússia, em 2021, após a reeleição do presidente Aleksandr Lukashenko, e da Rússia, em 2022, após a invasão da Ucrânia.
Israel foi o primeiro país não europeu a poder participar no concurso de música, em 1973, e ganhou quatro vezes, incluindo em 1998, com a cantora transgénero Dana International.
Na edição deste ano, que aconteceu em maio em Basileia, Suíça, Israel ficou em segundo lugar.
A presença de Israel no concurso foi contestada por artistas que já participaram no concurso e por alguns países, nomeadamente Espanha e Finlândia.
Este ano, Israel foi representado por Yuval Raphael, uma das sobreviventes do ataque do grupo extremista islamita Hamas em solo israelita, em 7 outubro de 2023, que causou cerca de 1200 mortos e mais de duas centenas de reféns, e após o qual teve início a atual ofensiva militar israelita sobre Gaza.
Desde 7 de outubro já morreram mais de 64 mil pessoas na Faixa de Gaza, na maioria civis, segundo as autoridades locais controladas pelo Hamas, números considerados fidedignos pela Organização das Nações Unidas (ONU).
Há muito que a ONU declarou o território mergulhado numa grave crise humanitária, com mais de dois milhões de pessoas numa "situação de fome catastrófica" e "o mais elevado número de vítimas alguma vez registado" pela organização em estudos sobre segurança alimentar no mundo.
Israel tem atualmente em marcha um plano militar para ocupar a capital do território e expulsar centenas de milhares de habitantes, que prevê o desarmamento do Hamas e a recuperação dos reféns antes de entregar o enclave a uma gestão civil não hostil a Telavive.
No final do ano passado, uma comissão especial da ONU acusou Israel de genocídio em Gaza e de estar a usar a fome como arma de guerra - acusação logo refutada pelo Governo israelita, mas sem apresentar quaisquer argumentos.