Eça de Queiroz deverá ser trasladado para o Panteão Nacional, no próximo dia 27. Mas dois anos após a resolução, alguns dos seus herdeiros opõem-se, propondo que permaneça onde se encontra, em Tormes.
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O que é o Panteão Nacional?
O Panteão Nacional é um Monumento Nacional para acolher os restos mortais dos portugueses de exceção. O arrojado projeto barroco, da autoria de João Antunes, cuja construção tem início em 1682, permaneceu sem cobertura, até ao início dos anos 60 do século XX, altura em que o regime do Estado Novo decide terminar o edifício e dar continuidade à lei de 1916, a qual determinara a adaptação do templo a Panteão Nacional.
Assim, em pouco mais de dois anos, projetou-se uma dupla cúpula em betão, revestida de pedra lioz, restaurou-se o interior, rico em diversos tipos de pedra, e trasladaram-se os restos mortais das personalidades a homenagear. A 7 de dezembro de 1966, por ocasião do quadragésimo aniversário do Estado Novo, Santa Engrácia – Panteão Nacional era inaugurado, no mesmo ano em que a Ponte sobre o Tejo passava a unir Lisboa a Almada.
Quem são as personalidades que estão no Panteão Nacional?
A designação dos vultos nacionais a merecer homenagem no Panteão Nacional foi uma das atribuições da Comissão Consultiva para as obras de Santa Engrácia, formada em 1965, com o historiador Damião Peres como presidente. Para a Nave Central a escolha recaiu sobre Camões, Vasco da Gama, D. Nuno Álvares Pereira, Afonso de Albuquerque, Pedro Álvares Cabral e o Infante D. Henrique, tendo-se optado por uma solução evocativa, sem a presença física dos restos mortais. Para as salas tumulares, ficaram as personalidades sepultadas na antiga sala do Capítulo do Mosteiro dos Jerónimos: os antigos presidentes da República, Teófilo Braga, Sidónio Pais e Óscar Carmona, e os escritores Almeida Garrett, João de Deus e Guerra Junqueiro.
Quem decide quem vai para o Panteão?
Desde a sua inauguração, o Panteão Nacional recebeu os restos mortais do General Humberto Delgado, em 1990, seguindo-se a artista Amália Rodrigues, em 2001, o primeiro presidente da República, Manuel de Arriaga, em 2004, o escritor Aquilino Ribeiro, em 2007, a escritora Sophia de Mello Breyner Andresen, em 2014, e o futebolista Eusébio da Silva Ferreira, em 2015. Quem toma esta decisão atualmente é o Parlamento através dos diversos grupos parlamentares.
Como surgiu a iniciativa de levar Eça de Queiroz para o Panteão Nacional?
A resolução que concede honras de Panteão Nacional a Eça de Queiroz foi uma iniciativa da Fundação do escritor, impulsionada pelo grupo parlamentar do PS, e foi aprovada, por unanimidade, em plenário, a 15 de janeiro de 2021.Para o efeito, foi constituído um grupo de trabalho que desenvolveu uma série de diligências, estando marcada, para o próximo dia 27 de setembro, a trasladação dos restos mortais de Eça de Queiroz para o Panteão Nacional.
Quem se opõe à trasladação ?
Seis dos 19 bisnetos do escritor estão contra a trasladação dos restos mortais. Passados mais de dois anos sobre a aprovação da resolução, um grupo de herdeiros do escritor escreveu ao presidente da Assembleia da República para propor que as honras sejam concedidas através da aposição de uma lápide evocativa, sem a trasladação dos restos mortais, que devem continuar em Tormes.
Onde está enterrado o escritor?
Eça de Queiroz morreu a 16 de agosto de 1900 e foi sepultado em Lisboa. Em setembro de 1989, os seus restos mortais foram transportados do Cemitério do Alto de São João, na capital, para um jazigo de família, no cemitério de Santa Cruz do Douro, em Baião.
Nascido na Póvoa de Varzim, distrito do Porto, em 1845, foi autor de contos e romances, entre os quais "Os Maias", que gerações de críticos e investigadores na área da literatura consideram o melhor romance realista português do século XIX.
O que pode mudar?
A polémica foi discutida na Conferência de Líderes parlamentares no dia 15, com o presidente da Assembleia da República a dizer que a reação dos familiares foi tardia. O presidente da AR acrescentou que este era um "acontecimento embaraçoso", e que se algum deputado apresentasse uma iniciativa para alteração da resolução da AR em causa, a agendaria para discussão ainda antes de 27 de setembro. Até à data ainda nenhum deputado manifestou nenhuma iniciativa.
Já existiram outros casos de recusa de familiares?
Sim, Manuel Alegre pediu a honra de Panteão Nacional para o capitão de abril Salgueiro Maia. Mas a família discordou, dizendo que essa nunca tinha sido a vontade do militar, que dizia querer ser enterrado em campa rasa, na sua terra natal, Castelo de Vide.