Descobertos pela neta, o Museu Picasso exibe até ao fim do ano as páginas em que pintor espanhol ensinou a filha mais velha a desenhar e colorir.
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Pablo Ruiz Picasso (1881-1973) recolheu o exemplo do seu próprio passado, em que teve a oportunidade de aprender a desenhar com o pai José Ruiz y Blasco, um pintor e professor de arte, e comprometeu-se a fazer o mesmo por Maya Widmaier-Picasso, a sua filha, nascida em 1935 da relação com Marie-Thérèse Walter (1909-1977).
Recentemente a neta do artista, a historiadora de arte Diana Widmaier Picasso, deparou-se com uma coleção nunca antes vista de esboços, que optou por incluir na exposição "Maya Ruiz-Picasso, fille de Pablo", dedicada à relação do avô com a mãe.
Trata-se sobretudo de desenhos de animais, entre os quais aves de todo o tipo e cavalos, a que se juntam imagens de palhaços e acrobatas, que Picasso desenhava e Maya replicava e coloria. Ao jornal britânico "The Observer", Diana Widmaier Picasso refere que "por vezes ela fazia um desenho e ele outro igual, a fim de lhe mostrar a maneira certa de o fazer. Outras vezes fazem desenhos diferentes: ele desenha um cão ou um chapéu, usando a página toda para focar uma coisa em particular. Ou então reproduz cenas do circo. É muito interessante".
Desde o nascimento, Maya revelou-se fonte de inspiração para Pablo Picasso, refletida em vários desenhos, fotografias e pinturas, também expostos no Museu Picasso de Paris. As sebentas de desenhos são uma das provas da relação próxima entre pai e filha. Ainda hoje, aos 86 anos, as páginas onde praticavam juntos estão fortemente vincadas na memória de Maya Ruiz-Picasso como uma lembrança querida. "Claro, estes são os cadernos de desenho de quando eu era pequena", disse Maya quando a filha perguntou se reconhecia os objetos.
Tido como um sedutor com dois casamentos e várias amantes, nesta mostra pode-se ver outra face do mestre espanhol, um pai fascinado e com imenso amor pela filha.
A exposição tem sido elogiada pela vastidão de peças, incluindo desde pinturas a esculturas feitas a partir do origami e colagens, assim como elementos mais pessoais, como fotografias, cartas, poemas, e agora também o caderno de desenhos.
As sebentas são um achado fascinante que, além de mostrar a sua arte a partir de um diferente prisma, ajuda a entender melhor a fonte da sua inspiração. No catálogo da mostra, a neta e curadora escreve: "Quem nunca ouviu dizer, acerca de um quadro de Picasso: "Uma criança podia tê-lo feito!". É percetível que a filha realmente possuiu uma influência grande na sua vida tanto como pai e como artista, visto que este tirava muitos elementos do tipo de desenho feito por crianças para o seu trabalho".
Há 37 anos a mostrar a obra do mestre espanhol
O Musée Picasso abriu portas em Paris em 1985, num edifício outrora ocupado por um hotel, dedicando-se não só à vida e obra do autor espanhol como a trabalhos de artistas que com ele estabelecem pontes estéticas. A instituição vem recebendo sucessivas doações de pinturas, esculturas, desenhos, cerâmica e gravuras. Há 30 anos passou também a acolher o arquivo pessoal de Picasso que havia sido doado ao Estado francês e constituído por milhares de documentos e fotografias.