Não fora a comparação que, no passado domingo, Jorge Jesus fez do seu trabalho com a obra de Paula Rego e esta quinta-feira, seguramente, tudo teria sido diferente no ato inaugural da nova exposição da artista na "sua " Casa das Histórias, em Cascais. Desta vez, o carismático treinador do clube das águias, fez questão de voltar a reencontrar-se com a obra de Paula Rego, tendo por cicerone a própria criadora.
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A exposição '1961: Ordem e Caos' , patente na Casa das Histórias, em Cascais, e que poderá ser vista até 26 de outubro, mostra, pela primeira vez, obras de Paula Rego produzidas no início da carreira da artista, reconhecidamente uma vencedora na sua profissão.
Jorge Jesus, que, este ano trouxe para o o Sport Lisboa e Benfica os três títulos mais relevantes do campeonato reconhece-se, de certo modo, no trabalho e no percurso da pintora. Por isso, aceitou o convite que lhe foi feito pelo presidente da Câmara Municipal de Cascais, Carlos Carreiras, para que estivesse presente na inauguração.
"Eu posso não entender o que ela faz, mas ela sabe porque é a criadora. O treinador é igual" considerou.
Ele, que confessou ter estado, uma vez, numa exposição da Paula Rego, onde viu um quadro intitulado "Maria" mas não conseguiu perceber que a personagem estava a chorar, como lhe garantira a autora, fez questão de percorrer ontem, demoradamente, todo o percurso expositivo. Mas não foi tarefa fácil.
A mostra intitula-se "1961: Ordem e Caos" e engloba obras não só da artista portuguesa radicada há muitos anos em Londres, mas também de Victor Willing, Bartolomeu Cid dos Santos e Eduardo Batarda. O objetivo do roteiro artístico, comissariado por Catarina Alfaro e Leonor Oliveira, é mostrar as inquietações políticas que atravessaram a obra da pintora no período particular centrado na década de 60.
Paula Rego, de 79 anos, que pela primeira vez se deslocou a Cascais, depois do conturbado processo que envolveu a Casa das Histórias, por ocasião da dissolução da fundação que a geria, mostrou-se visivelmente satisfeita com a receção que lhe fora preparada. Embora muito provavelmente nunca lhe tenha passado pela cabeça ser alvo de tão estranhas atenções de quem dela se abeirava num caótico frenesim, para se fazer fotografar ou se confessar seu fã. A seu lado, igualmente risonho, Jorge Jesus tentava gerir a função de cavalheiro, não saindo do seu lado, com a de figura pública insensada, mil e uma vezes solicitada para que prestasse algumas declarações sobre o Benfica.
Pelo meio do caos gerado, com câmaras de televisão, fotógrafos, dezenas de jornalistas da rádio, da imprensa escrita, da blogosfera, do Facebook e afins, pouco espaço restava para a contemplação das obras. Desconcertante, como é seu jeito, Paula Rego foi citando uns versos, de "Os simples", de Guerra Junqueiro: "Minha velha ama, que me estás fitando, canta-me cantigas para me eu lembrar!...". Mas, este particular, Lili Caneças, conhecida figura do chamado jet set, e outra assumida fã da obra da artista, já não ouviu, porque se apressara a fazer uma "selfie" com Jorge Jesus....
E, no meio de toda aquela turba, houve gente que, de forma discreta se afastou, para voltar mais tarde e calmamente ver a obra, sem a parafernália mediática como barreira. Por essa altura, já Paula Rego se assumia como benfiquista, (o avô foi sócio fundador do clube) , reconhecia que Jorge Jesus era um treinador "bonito" e manifestava-se muito contente com este seu regresso triunfal a Cascais.
"Na minha intuição e na minha criatividade o trabalho de Paula Rego é igual ao meu pensamento de todos os dias. Face às circunstâncias foi agindo. Por isso, a minha presença aqui não é descabida. Acho que o futebol também é arte. Por isso estou aqui".