Terceiro dia do Primavera Sound Porto arrancou com o projeto "Deixem o Pimba em Paz" de Bruno Nogueira.
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O que eram os trevos em volta do palco Porto transformaram-se agora numa papa de lama e tudo o que se sente é um intenso fedor a peixe. O dia está bastante mais convidativo do que os anteriores e vê-se mais crianças do que nunca e muitas famílias que vieram para ver o projeto "Deixem o pimba em paz", que aliou há dez anos Bruno Nogueira a Manuela Azevedo.
Há qualquer coisa de única no humor português, que são os segundos sentidos da linguagem. Para um estrangeiro que não entenda este código social, em que estamos todos a rir de algo que literalmente não tem piada nenhuma, parece um contrassenso, há quem defenda que se trata de uma herança da ditadura. O exemplo máximo desse esplendor linguístico é Quim Barreiros.
E é ele quem ocupou o destaque do repertório pimba reciclado no concerto: "Garagem da vizinha" com o público a gritar :"Ponho o carro, tiro o carro à hora que eu quiser", sem que os estrangeiros, mesmo os que falam português, percebam a piada. E como se sabe no humor (como em quase tudo), quando se tem de explicar, já perdeu toda a graça. O mesmo se passa com as crianças, que entoam "eu quero mamar nos peitos da cabritinha", porque não conseguem ter os olhos de maldade da vida adulta.
Depois existe o humor irónico como o rap "Vem devagar emigrante", adaptado de Graciano Saga, que retrata uma certa classe na sociedade portuguesa que adora falar de desgraças e de mortos, e a cada telefonema que faz conta sempre que alguém, se não os próprios, teve uma experiência de quase morte.
Não sei porque se fala tanto de Shakira, se a melhor música de despeito escrita é de Ágata, que gosta de contas à portuguesa e permite que a outra senhora fique com tudo, mas não com ele. Esta família também é das mais representadas, Romana sua sobrinha e o seu "Continua chamando-me assim bebé" por rumba, pôs tudo o que era espanhol no recinto a ondular as mãos.
Mas a verdadeira histeria chegou com "Taras e manias", de Marco Paulo, em batida pop que pôs o Primavera Sound Porto a cantar "E mexe remexe, se encosta, se enrosca, Se abre, se mostra pra mim". E no remate "O pito mau", novamente de Quim Barreiros, mostrou uma bem arquitetada reciclagem musical de Filipe Melo, Nelson Cascais, Nuno Rafael, Manuela Azevedo e Bruno Nogueira. Este foi seguramente dos concertos mais divertidos e participados da tarde.