Barca do Inferno, editora independente de Leiria, está empenhada em divulgar a obra e o nome dos artistas plásticos nacionais do século XX.
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"A arte não serve para nada, mas é indispensável". É com esta frase que Mafalda Brito e Rui Pedro Lourenço, proprietários da editora independente Barca do Inferno, em Leiria, desafiam os leitores da coleção "Artistas Portugueses do Século XX" a conhecerem pintores e escultores, alguns dos quais desconhecidos do grande público, que deixaram o seu cunho na História da Arte.
"Se faz sentido conhecermos Frida Khalo e Picasso, também faz sentido conhecermos Helena Almeida e Amadeo de Souza Cardoso. Afinal, somos portugueses", argumenta Rui Pedro Lourenço, também ilustrador. À pintora Helena Almeida junta o pintor e escultor Ângelo de Sousa e o escultor Alberto Carneiro, conhecidos a nível nacional e internacional, mas cujas obras não estão acessíveis à maioria das pessoas.
Licenciada em História da Arte, Mafalda Brito é a autora dos textos da coleção destinada a homenagear os artistas portugueses. "Pesquiso em catálogos, teses, entrevistas e documentários. Depois, há um processo de reflexão, em que decido o que faz sentido incluir", explica. "Procuramos dar pistas para proporcionar uma experiência artística diferente aos leitores, mas dando-lhes liberdade, pelo que há muitas perguntas deixadas em aberto", assegura. "É isso que a arte faz", acrescenta o ilustrador.
Desconstruir
Essas pistas tanto podem ser referências ao imaginário infantil, como referências a outras personalidades que inspiraram esses artistas, e que serão mais facilmente identificadas por quem conhece a sua obra.
No caso do livro sobre Alberto Carneiro, o ilustrador transformou a exposição de troncos numa floresta, embora sem as copas das árvores, onde desenhou o Capuchinho Vermelho e o lobo mau. Um olhar mais atento permite ainda identificar o rosto d'O principezinho "colado" ao do escritor, já que ambos davam muita importância à natureza.
No livro de Helena Almeida, há um fio preso numa das folhas, alusão à obra "Desenho animado", em que há um momento em que a linha salta do papel. Além deste pormenor, recria obras marcantes para Helena Almeida, como "As meninas", de Diego Velázquez, e o pintor e escultor Marcel Duchamp a jogar xadrez, atrás de uma janela. "No início do século XX, fez um urinol ao contrário e disse: isto é uma obra de arte", conta Rui Pedro Lourenço.
Desconstruir o conceito de arte é outro dos desafios desta coleção, que levanta uma série de questões, num convite à reflexão.
"Um quadrado preto pode ser uma obra de arte?" é a primeira pergunta, inspirada na obra de Kazimir Malevich, que inicia a abstração, explica Mafalda Brito. Nas páginas seguintes são apresentadas referências biográficas e é explicado como se tornaram artistas, com o enquadramento da época, as suas vivências e as influências que sofreram.
Apesar de proporcionar "diferentes níveis de leitura", a coleção é para pessoas de todas as idades. A Barca do Inferno tem 12 livros publicados desde 2012, alguns dos quais de outros autores, como "O homem da gaita", de José Afonso, e "O nariz", de Nikolai Gogol.