Em 2020, Invicta perdeu perto de um quinto da sua quota de mercado e foi ultrapassada pelos distritos do litoral. Fosso em relação a Lisboa acentuou-se.
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O "annus horribilis" que foi 2020 para o mercado editorial e livreiro português - com uma queda global de 17% - penalizou em particular o Porto. Se, em 2019, o peso da região no total nacional de vendas de livros ascendia a 20,8%, no ano seguinte esse valor desceu para 17%, o que representa uma perda de quase um quinto da sua quota de mercado.
De acordo com os dados da GfK, a consultora que audita o mercado português, o Porto foi mesmo a única área geográfica que viu a sua percentagem na venda de livros baixar e, em consequência disso mesmo, perdeu o segundo lugar nacional para a região litoral, que agrega os distritos de Viana do Castelo, Braga, Aveiro, Coimbra e Leiria.
O já de si acentuado fosso em relação a Lisboa também se agravou - em 2019, o mercado da Invicta valia metade do da capital, mas, no espaço de um ano, essa desproporção aumentou para duas vezes e meia.
O efeito Lello
Um dos motivos que podem ajudar a explicar a "débâcle" portuense é a dependência da Livraria Lello, que penalizou fortemente os dados relativos ao ano passado. Após os números avassaladores de 2019 - com um milhão e 200 mil visitantes e quase 700 mil livros vendidos, de acordo com os números da própria livraria -, no ano passado as visitas baixaram 85% e a venda de livros caiu 75%. Esta transformação fez com que os portugueses fossem, até ao passado mês de setembro, os principais visitantes da Lello, o que já não acontecia desde que as entradas passaram a ser cobradas.
No corrente ano, segundo fonte da livraria, "a recuperação tem sido notória", sem que, todavia, se possa ambicionar para já atingir os números registados na pré-pandemia.
"Recuperação lenta"
Vice-presidente da Associação Portuguesa de Editores e Livreiros (APEL), Pedro Sobral encontra outros possíveis fatores que ajudam a explicar o impacto mais profundo da pandemia no setor livreiro do Porto. Antes de mais, "a maior dependência" face a segmentos como as redes livreiras, hipermercados e espaços multiprodutos (Fnac ou El Corte Inglés), que estiveram 10 meses impossibilitados de vender livros.
"Como o número de livrarias independentes é muito superior em Lisboa e elas reabriram mais cedo do que os restantes pontos de venda, parte da queda pode explicar-se por esse motivo", aponta o dirigente.
Uma análise mais detalhada da evolução mensal dos dados demonstra que o Porto foi a região que sofreu o embate mais forte após o primeiro confinamento, a partir de março do ano passado, coincidindo com o número recorde de casos de covid 19. Nessa altura, as vendas chegaram a atingir o mínimo histórico de 9,8%. Nos meses seguintes assistiu-se a uma ligeira recuperação, mas sem voltar aos índices anteriores, na casa dos 20%, que o Porto costumava ter.
Para Pedro Sobral, os sinais mais preocupantes nem são tanto os números do ano passado, e sim a ausência de perspetivas de regresso aos índices habituais de vendas: "O Porto foi o mais penalizado e o primeiro a sentir o impacto das livrarias e dos demais postos de vendas, mas está a recuperar mais lentamente do que Lisboa, por exemplo".