Banda de Damon Albarn deu concerto em crescendo: começou tépido, acabou triunfal. Yves Tumor serviu caldeirada. Off! é café curto para despertar. Primavera Sound despediu-se este sábado.
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Há um Damon Albarn de fato cinzento e com 55 anos, o homem atual, e há um Damon Albarn de fato de treino e ar de miúdo, o homem que ele foi à época do aparecimento dos Blur, no início dos anos 1990. Ambos estiveram presentes no concerto que fechou o palco principal na última noite do Primavera Sound 2023. E cada um deles protagonizou uma parte bem diferente do espetáculo.
O Albarn de fato cinzento foi quem entrou em palco. Cantou temas como "Popscene", "There"s no other way" ou "Tracy Jacks". E tudo parecia feito ao retardador, as canções arrastavam-se, o público não evitava sentir o pivete que se formou no terreno do Palco Porto, efeito da chuva e posterior secagem da relva.
Depois há uma espécie de separador, que assinala a despedida do primeiro Albarn - "End of a century", "Country house" e "Parklife", três faixas reconhecidas pelo público, que instintivamente ergueu os telemóveis (é assim que se reconhecem os hits hoje em dia: quando muita gente ergue os telemóveis). Se foram esses três temas, se foi o fato de treino que Albarn envergou a partir de "Girls & boys", não sabemos dizer. O facto é que o homem rejuvenesceu. Tudo pareceu mais intenso a partir daí. Albarn emocionou-se, entregou-se e agradeceu, demoradamente, a oportunidade de "partilhar as nossas estúpidas canções".
E a reta final foi gloriosa: público a arrojar-se a parte constitutiva do espetáculo: a dançar quando era para dançar, a fazer coro quando era pedido - e "Tender" foi a máxima expressão dessa entrega: o coro sobreviveu ao final da canção e prolongou-se até ao início de "The narcissist", single extraído de "The ballad of Darren", o novo álbum dos Blur que será lançado a 21 de julho.
Resume-se assim o regresso de um dos expoentes da britpop: entreguem depressa o fato de treino ao homem.
Extravagância Yves Tumor
Horas antes, encontro com Yves Tumor, figura esguia e sobredimensionada, cheia de cintos e pulseiras de picos, que fabrica caldeirada de rock experimental, noise e heavy metal. Tudo embebido em filtros e voicoders, tudo a escapar a uma catalogação fixa. Fartou-se de rabujar por causa do volume do som e passou boa parte do concerto a deixar-se tocar pelo público na zona do fosso. Número de extravagância pura com sonoridade espalhafatosa.
Uma italiana, sff
À hora dos New Order, que viram o concerto interrompido várias vezes por problemas técnicos, atuaram os Off!, que adiaram a atuação uns minutos, segundo o vocalista, para que chegasse pelo menos meia dúzia de pessoas. Chegaram umas 200 ou 300, não mais, é a fatura de se atuar em simultâneo com cabeças de cartaz. Trata-se de um supergrupo de punk hardcore, com membros de Black Flag ou Circle Jerks, que sua as estopinhas com a sua jarda furiosa. Têm os ingredientes todos: guitarra perfurante, secção rítmica a correr os 100 metros, voz esganada a protestar contra o Mundo. Sorve-se como café curto, para acordar e seguir viagem.