Para o grande público, o Festival Dias da Dança (DDD) é composto dos 28 espetáculos que o sustentam até domingo, no Porto, em Vila Nova de Gaia e em Matosinhos. Mas o DDD, que este ano cumpre a sua sétima edição, tem outras facetas menos visíveis, como a da formação e a de montra para artistas.
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Durante o certame, estão presentes no Porto dezenas de produtores, sendo a grande maioria europeus, mas também de outras latitudes, que vêm às compras de espetáculos e de artistas, não só dos portugueses, mas também de outras nacionalidades. No fim de semana, no Campus Paulo Cunha e Silva, vários artistas tiveram a oportunidade de fazer os seus "(S)pitches" e mostrar os seus trabalhos em produção aos programadores que ali se reuniram.
Ivan Vincent Massey é o representante da rede Grand Luxe, que tem cinco estruturas fundadoras - oriundas de França, Bélgica, Suíça e Luxemburgo -, colocando o seu saber-fazer ao serviço de projetos artísticos dos seus territórios que requerem um acompanhamento específico e adaptado aos coreógrafos.
À rede, agora composta por oito estruturas, irá juntar-se o Teatro Municipal do Porto. "Há dez anos que trabalhávamos com o Materiais Diversos´", conta Massey, mostrando um conhecimento grande da cena de dança portuguesa. E explica: "É muito específica, trabalha sobre temas como o colonialismo".
Acrescentando ter ficado muito entusiasmado com o trabalho de Lia Rodrigues e a proposta de projeto de Aura, jovem artista do Porto. João dos Santos Martins, Piny, Catarina Miranda ou Marco da Silva Ferreira e Cristina Planas Leitão são alguns dos coreógrafos que já programou.
Contacto diretO
Joelle Smadja, diretora do Prole Sud, em França, é outra das programadoras no Porto. "Agrada-me imenso o formato de estar em contacto com o artista e de conseguir perceber o seu trabalho. Tenho de dirigir um teatro e um festival, então, posso ver o que posso levar daqui a dois ou três anos ao meu teatro". O trabalho "Ara! Ara!", de Ginevra Panzetti e Enrico Ticconi, foi um dos que já recebeu nos seus palcos, provando a rede caleidoscópica da programação da dança contemporânea europeia.
Àngels Margarit, responsável pelo Mercat des Flors, em Barcelona, está pela segunda vez no DDD. "Gosto muito de um festival a esta medida, mais pequena. Seria muito interessante poder realizar intercâmbios entre artistas catalães e portugueses. A dança catalã é mais física e a portuguesa mais conceptual. E sofremos todos do mesmo problema, partimos diretamente para a Europa esquecendo os nossos vizinhos".
Ricardo Carmona, programador português radicado há mais de uma década em Berlim, destacou as escalas do DDD: "local, nacional e internacional". No seu trabalho no HAU Hebbel am Ufer programou "Encantado", de Lia Rodrigues. Este ano, dirige o mítico festival Tanz im August que irá abrir com "Carcaça", de Marco da Silva Ferreira, e por lá também vai estar Marlene Monteiro Freitas. Carmona explica que "é muito importante para um país do Norte perceber o tipo de dança que se está a fazer nos países do Sul". Mas, acabado de chegar, ainda não se arrisca a dizer se quer levar algum dos artistas portugueses para programas futuros.
O programa segue hoje, com "Dalila" de Daniela Cruz e uma inspiração de Monet em "All Over Nymphéas" de Emmanuel Eggermont.