A nuvem de pó que ficou para contar a história do concerto de Offspring, depois de terminarem com "Self Esteem", diz muito do que foi a loucura do concerto dos californianos em Vilar de Mouros, na sexta-feira à noite. Skunk Anansie brilhou em Skin e Sisters of Mercy não foi para todos.
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"Conto um milhão de mosh pits", dialogava Dexter Holland. "São talvez uns seis", respondia o guitarrista Noodles, enquanto ria. O diálogo presenciado por um recinto de Vilar de Mouros com 18500 pessoas - a maior de sempre - foi parte da versão comédia do concerto punk rock de Offspring que acabou com uma gigante nuvem de pó, resultante dos saltos endiabrados dos festivaleiros do Alto Minho.
A banda que fez sucesso na década de 1990 e início do milénio tem música curta, mas desgastante. São descargas de punk que levam qualquer um ao delírio e, melhor que isso, guardaram as mais atrevidas quase todas para o fim. À 12ª, todos cantam "Why Don't You Get a Job?", do álbum "Americana", o mais conhecido da turba punk minhota que via Offspring quase até meio do recinto.
"Pretty Fly (For a White Guy)" (com bolas insufláveis gigantes a saltitarem entre a multidão) e "The Kids Aren't Alright" protagonizaram o momento de rebelião antes do encore, mas a memória que fica é a autêntica explosão com a última, "Self Esteem". Público em crowdsurfing, gritos até às filas de trás, múltiplos sorrisos até às orelhas, dezenas de milhares de braços no ar. Estava ali a banda sonora de grande parte das infâncias do "target" de Vilar de Mouros e isso ficou bem patente na atmosfera. Mais não fosse, na atmosfera de pó que ficou para contar o feito, enquanto único resquício de um momento mágico.
Energia inesgotável em Skunk Anansie
Se a organização esgotou a venda de bilhetes para sexta-feira, a muito deve isso a Offspring, mas também a Skunk Anansie, que continua a viver da inesgotável energia e irreverência da vocalista Skin. O conjunto de britrock quis agarrar logo o público e abriu o concerto com "Charlie Big Potato", uma das mais completas composições e demonstrações da potentíssima voz de Skin, seguida de "Because of You", quase irmã gémea da primeira na forma e distorção.
A vocalista salta grita, passa grande parte do concerto junto ao público ou em momentos em que manda toda a gente baixar antes do salto explosivo que deixa todos em moche. E o incrível é que faz isto com um sorriso rasgado o tempo todo, a adorar o que está a ver.
Do alinhamento destes londrinos fizeram parte temas novos e muitos do álbum "Anarchytecture", de 2016, mas foi às composições antigas que o público mais aderiu. "Weak" teve crowdsurfing de Skin, o trio "Secretly", "Hedonism" e "You'll Follow Me Down" foi cantado por todos, e a pujante "Little Baby Swastikkka" levou grande parte ao delírio. Se Offspring era o motivo de muitos bilhetes comprados, a circunstância de Skunk Anansie terem estado no auge na mesma época dos californianos ficou bem patente, pois os aficionados de uns eram também os convertidos dos outros.
Antes da explosão de sucessos dos anos 90 com Offspring e Skunk Anansie, houve Sisters of Mercy no palco secundário. O rock gótico daquela que foi uma das melhores bandas a passar por Vilar de Mouros ao longo dos últimos dois dias não teve som à altura e só foi perfeito nas filas da frente. Perto da cabine de som, a meio, já quase não se ouvia a voz e a guitarra, mesmo no início da atuação, o que não augurava uma presença auspiciosa.
Abriram com "More", um dos melhores temas deste trio de Leeds e que integra o álbum Vision Thing, o último dos três dos Sisters of Mercy, todos editados até 1990. O tema até estava na ponta da língua da maioria, mas a perfeição sonora só teve alguns metros. O serão pouco audível do conjunto teve um público algo apático e acabou com menos de metade das pessoas do início.
A meio, à passagem por "Lucretia My Reflection", parte dos problemas pareciam resolvidos e o concerto ficou mais imersivo, com um Andrew Eldritch esforçado, grave e sombrio. O final, com a dupla "Temple of Love" e "This Corrosion", foi um momento de glória que quase fez esquecer tudo o que se tinha passado antes. A primeira, potente, pôs as filas da frente a dançar de forma maníaca, ao passo que a segunda trouxe à tona o melhor da década de 1980, de tarola a compasso e forte na bateria.
Em menor destaque esteve o EBM dos Nitzer Ebb, que transformou o palco principal numa pista de dança synthpop industrial a uma hora estranha, e o synthrock e synthpop dos holandeses Clan of Xymox que foram a banda sonora perfeita para o anoitecer. Os londrinos The House of Love foram prejudicados pela hora, pese embora o bom par de distorções e sinfonias impactantes que conquistavam olhares ocasionais surpreendidos daqueles que conversavam desatentos do espetáculo.