"Close enough to be seen, far away enough to be safe" é Slimmy sem aditivos, pronto para reconquistas o seu lugar na ribalta do rock.
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Se o almirante Pinheiro de Azevedo, primeiro-ministro do VI Governo Provisório entre 1975/76, não gostava de ser sequestrado - "é uma coisa que me chateia" -, o músico Paulo Fernandes, conhecido como Slimmy, não gosta de ouvir que "o rock está morto". Voltou a chatear-se com a frase e a resposta é "Close enough to be seen, far away enough to be safe", o mais recente esforço para contrariar essa ideia.
Mas quem acompanha o músico desde "Beatsound loverboy", álbum com que se estreou em 2007, sabe que o seu entendimento do rock não é o de um género canónico, rigorosamente codificado e atirado para um arquivo como "língua morta" - é antes de mais um "espírito" ou uma "atitude", e também um território vasto para explorar: "Sou fiel ao rock, mas tenho de o desafiar e dar-lhe a volta: onde podia haver um solo de guitarra, introduzo sintetizadores ou vozes estranhas. E aproprio-me de todo um aglomerado de música entre a eletrónica e a pop", diz Slimmy, que assinala a pujança da bateria e as suas guitarras novas como elementos marcantes na sonoridade do novo álbum. O espírito com que avançou não podia ser mais rock: "Estou num momento em que faço exatamente o que me apetece, não estou cingido a qualquer ditame comercial".
O momento que atravessa traduz-se no título do disco, "Suficientemente próximo para ser visto, suficientemente longe para estar a salvo", frase extraída do romance de Charles Bukowski "Hollywood": "Deve-a ter escrito com a moca do costume; é uma ideia que reflete na perfeição a fase em que me encontro". Que é justamente uma fase em que a distância face ao período negro que viveu, marcado por depressões e adições, lhe permite congratular-se por ser este o primeiro álbum "sem qualquer ajuda de drogas ou álcool, não tomo nada há cinco anos", mas em que há também a perspetiva do regresso aos palcos e à proximidade com o público: "Tenho uma forte vontade de mostrar que não fiquei careta, que ainda tenho "mojo". Depois de tantas mudanças, de deixar tanta coisa para trás, fazer música é quase como reaprender a andar. Foi uma vida inteira a encarnar esta personagem louca, mas sinto agora que a energia do Slimmy é algo inato, dispensa outras substâncias. Por isso quis fazer um álbum vibrante e estou preparado para voltar a saltar durante duas horas e meia nos concertos".
difícil sentir alegria total
O ponto de partida é solar - "My baby Camila" celebra o nascimento da filha, em 2020, num ambiente de sintetizadores ufanos e festividade electropop. O único tema cantado em português, "Nunca soube o que era amar", é o mais emocional e tem como destinatário a primeira filha, não biológica, de Slimmy. Os perigos do passado são lembrados em "Don"t let me out" e os dias que ainda pesam, porque "continua a ser difícil sentir uma alegria total", inscrevem-se em "A little low". Há uma canção de "recorte mais FM" partilhada com Nuno Norte, "How long can a fool go wrong", e o volume encerra em clave escapista, com as paisagens de Alex FX a embrulharem a alvorada contemplativa de "I miss missing".
A apresentação do álbum está agendada para 25 de março, no bar Casa do Livro, no Porto, onde o público poderá aceder a uma cópia digital do disco via código QR, havendo concertos prévios em Fafe, Matosinhos, Guimarães e Águas Santas.