Sem filmes americanos das grandes companhias nos últimos anos em competição, o Festival de Cannes tem derivado para secções paralelas, como Cannes Premiere ou Fora de Competição, alguns dos seus momentos mais mediáticos, em termos de parada de estrelas na sua famosa passadeira vermelha.
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Depois de Tom Cruise tomar o festival como refém durante algumas horas, com a sua passagem meteórica por Cannes com “Missão: Impossível – Ajuste de Contas Final”, coube agora a vez a Spike Lee dominar as atenções. O realizador nova-iorquino teria sido o presidente do júri de Cannes em 2020, caso o festival se realizasse, o que não aconteceu devido à pandemia de covid-19, mas a direção do festival não se esqueceu dele, voltando a convidá-lo para a edição de 2021, onde esteve ligado à polémica consagração de "Titane" com a Palma de Ouro.
Agora, absolutamente fora de contexto, mas apenas porque sim, Cannes apresentou o seu último filme, “Highest 2 Lowest”, nova versão de um filme que Akira Kurosawa realizara em 1963, “Céu e o Inferno”. Tomando o papel que fora de Toshiro Mifune, Denzel Washington é o protagonista desta história de um gigante da música que se vê alvo de um plano de resgate, nas ruas da Nova Iorque de hoje.
Ora, numa das mais “ricas” passadeiras de Cannes deste ano, por onde também passou a estrela global da música pop Rihanna, foi mesmo Denzel Washington o protagonista, ao ter de defrontar um fotógrafo mais metediço que lhe agarrara o braço para poder fazer um melhor “boneco”.
A competição evoluiu, entretanto, com alguns títulos que dificilmente passarão o crivo do júri, embora já toda a gente tenha aprendido que prognósticos, sobre quem ganha ou perde, só mesmo no fim. Assim, Julia Ducournau, depois de celebrada por Spike Lee, terá agora de fazer face ao júri presidido por Juliette Binoche, com o seu “Alpha”, o nome de uma jovem de treze anos que vive sozinha com a mãe, e cujas vidas vão ser perturbadas quando Alpha chega da escola com uma estranha tatuagem no braço… Tahar Rahim e Golshifteh Farahani acompanham a jovem Mélissa Boros.
Depois de vencer o Urso de Ouro com “Alcarràs”, a catalã Carla Simón aponta agora à Palma de Ouro, embora com a pouca convicção de “Romería”, relato semi autobiográfico que acompanha uma jovem que chega à Galiza, perto da fronteira com Portugal, munida do diário da mãe, em busca de documentos para a universidade e de retomar os laços familiares.
O tema está também no centro de “Sentimental Value”, do norueguês Joachim Trier, de que víramos em Portugal “Oslo, 31 de Agosto” e “A Pior Pessoa do Mundo”. Agora, tece uma trama familiar, em torno de um realizador que está a fazer um filme sobre a história da mãe, ao mesmo tempo que tenta a reconciliação com as filhas, de que se afastara. Stellan Skarsgard evolui ao lado de Renate Reinsve e Inga Ibsdotter.
Pouco compreensível na competição por um prémio tão prestigioso como a Palma de Ouro, “The History of Sound”, do sul-africano Oliver Hermanus, arranca nos Estados Unidos, durante a Primeira Grande Guerra, quando dois jovens estudantes de música decidem ir registar músicas folk, ao mesmo tempo que encetam uma relação amorosa. A história vai passar por várias outras épocas e eventos inesperados, tendo como protagonistas Paul Mescal e Josh O’Connor.