Rock in Rio no Parque Tejo não é definitivo: no futuro “o público vai escolher”
Edição comemorativa dos 20 anos em Portugal acontece no recinto da JMJ. Ao JN, a vice-presidente do RiR explicou que o Parque da Bela Vista vai ser recuperado e pode voltar a ser Cidade do Rock.
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Tudo começou com um telefonema: “no início de agosto recebo uma ligação do presidente [da Câmara de Lisboa] Carlos Moedas com um desafio: fazer o Rock in Rio no Parque Tejo”. Foi assim que Roberta Medina, filha do fundador do Rock in Rio Brasil, Roberto Medina, começou por contar a história do que levou à, agora anunciada, mudança de recinto do evento para o Parque Tejo, no mesmo local onde a Jornada Mundial da Juventude teve lugar.
Uma história que interliga com os 20 anos e 10 edições do Rock in Rio em Lisboa e que se conta com algumas reviravoltas, adiantou Medina aos jornalistas, em conferência de imprensa esta quinta-feira. “A minha primeira reação foi: ‘esquece, não há nenhuma possibilidade’”, disse, referindo o seu encanto pela Bela Vista, onde artistas e convidados parecem ser unânimes sobre ser o local mais bonito das várias edições do festival que já tem vários desdobramentos geográficos.
Depois de visitar a zona, a vice-presidente do Rock in Rio confessa que ficou “apaixonada”, sobretudo por descobrir que o recinto não era plano e tinha vários anfiteatros naturais, além de criar “uma moldura deslumbrante” com o rio – “há quem já diga, ‘finalmente tem Rio!’”, brincou com o nome do evento e a nova localização, junto à água e à Ponte Vasco da Gama.
A reunião decisiva com a autarquia foi recente e nela o desafio de Carlos Moedas tomou forma: mais concretamente, fazer a edição dos 20 anos no local da Jornada Mundial da Juventude, não uma transição definitiva, mas no espírito de “edição especial”. Roberta Medina pediu em troca a recuperação do prado, ou relvado, da Bela Vista, pois “o parque merece e precisa”, destacou. E ficou combinada a folga ao habitual recinto da Cidade do Rock, o compromisso da Câmara na sua recuperação e “quando terminar teremos a Bela Vista melhorada” e o Parque Tejo também, adiantou a responsável, garantindo que também no novo espaço a organização vai criar e deixar sombras permanentes, entre outras melhorias.
“Não nós vamos deixar de relacionar com a Bela Vista de maneira nenhuma”, adiantou ainda. Ficando no ar a dúvida de por quantas edições o RiR Lisboa se muda afinal para o Parque Tejo, depois da conferência Roberta Medina explicou ao JN, começando por enquadrar:
“Eu estou muito entusiasmada com esta mudança. No início fiquei mesmo nervosa com a ideia de sair da Bela Vista, que é a nossa casa, que é a nossa história, que é um parque muito privilegiado com aquele anfiteatro natural. E quando o presidente falou deste local eu tinha a ideia do que tinha visto na televisão, e pelos vistos muita gente tem, de que era um terreno plano. Assim que pisei no parque e vi as ondulações naturais, o rio, a ponte, mudei.”
Sobre o futuro da localização do Rock in Rio Lisboa, a responsável garantiu: “neste momento é um ano, é uma edição especial dos 20 anos” no Parque Tejo. Mas sem certezas para o futuro. “O que ficou combinado foi que não fosse uma mudança em definitivo e que a Bela Vista pudesse voltar a ser Cidade do Rock”. No fundo, adiantou, “a beleza é que agora o público vai poder escolher, qual a experiência que gosta mais. Se quiser voltar, voltamos para a Bela Vista, se quiser ficar no Parque Tejo, fica”.
Transportes “não são uma questão”
Sobre os transportes para o Parque Tejo, ao JN Roberta Medina garantiu que não são uma questão. Na Jornada, referiu, “não era o foco o transporte, era a peregrinação”. Por isso, se há preocupações, elas derivam de alguma “falta de informação”, acredita. “Temos a CP com duas estações, Moscavide e Sacavém, esta última muito perto da entrada. Temos a do Oriente a 3,5 km, vamos ter muitos shuttles, vamos aconselhar as pessoas a não trazer o carro individual, não há motivo para nenhuma preocupação”, reiterou ao JN.
Segundo a organização, a nova localização manterá a capacidade do anterior recinto, no Parque da Bela Vista, para 80 mil pessoas. A área da clareira do Palco Mundo terá aproximadamente as mesmas dimensões da clareira do Palco Mundo do Parque da Bela Vista, mas serão utilizados 30 mil m2 a mais para “dar conforto para o público passear entre atrações” e para “trazer novas atrações”.
Sabe-se também já que o Palco Mundo vai ficar junto ao Rio, beneficiando de um dos tais anfiteatros naturais, e vai contar com um espetáculo audiovisual comemorativo dos 20 anos, a acontecer diariamente. Outra novidade para esta edição é que a Cidade do Rock contará com um novo palco, com vista a reforçar a oferta musical.
Já na pala do palco que foi utilizado pelo Papa Francisco na JMJ será criado um palco All in Rio, não necessariamente de espetáculos, mas de interatividade, celebração, debate e inclusão. “Na verdade, o altar em si já foi desmontado. O que ficou, o que era para ficar permanente era a estrutura branca, a pala. E ali vamos falar do mundo melhor, do futuro, de valores”, contou Medina. Apesar do paralelismo, o tema e nome ‘All’, associado à comemoração dos 20 anos, não teve a ver com o “todos, todos, todos” do Papa, sendo apenas uma coincidência. “A campanha do All já estava definida. Depois é que nos lembramos que ficaria perfeito alinhar ali”, concluiu.
O evento acontece então no Parque Tejo nos dias 15, 16, 22 e 23 de junho de 2024. Ed Sheeran é o primeiro nome confirmado e atua no segundo dia, 16 de junho, apresentando o novo disco “Autumn Variations”.
20 anos de Rock in Rio Lisboa
Foi há quase 20 anos, a completar em 2024, que o Rock in Rio chegou a Portugal. Em 2004 – para contexto, lembremos que esse foi o ano da criação do Facebook – o festival primeiro idealizado por Roberto Medina aterrou no Parque da Bela Vista, décadas depois do início no Rio de Janeiro que lhe deu o nome. Quase sem aviso, trouxe a Lisboa nomes como Paul McCartney, Britney Spears, Foo Fighters e Sting, logo na primeira edição.
O mega evento, diferente de tudo a que o país estava habituado, não foi logo acolhido de forma consensual; havia receios sobre a área, os acessos, o ruído, e muito se falou nas primeiras edições do conceito de quase “parque de diversões” associado a festival de música. Mas logo na primeira edição a adesão do público foi forte e pelos primeiros seis dias do festival em Portugal– entre dois fins de semana, como é apanágio do RiR–passaram 77 artistas e mais de 385 mil pessoas.
Nos anos seguintes, sempre de forma bianual apenas interrompida pela pandemia, o RiR levou à Cidade do Rock nomes como Stevie Wonder, Bruce Springsteen, Elton John, Metallica, Queen, Bruno Mars, entre outros, movimentando largas centenas de artistas e milhares de visitantes.