No seu novo livro, "As cores das coisas", a investigadora e poeta Rosa Alice Branco defende a complexidade da realidade policromática no nosso quotidiano e o seu impacto nos nossos estados de alma.
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Ao olhar de poeta, sempre presente, Rosa Alice Branco acrescentou a dimensão de investigadora, enquanto docente de longa data de Neuropsicologia da Perceção e da Estética. O resultado foi a escrita do livro "As cores das coisas" (edição da Contraponto), uma obra vocacionada para o público em geral que nasceu da sua vontade de criar "um livro de divulgação da cor, da compreensão de como as cores funcionam e simbolizam na natureza e nos artefactos", explica.
Quando pensamos num livro sobre a cor, ocorre-nos um público mais específico (profissionais do ramo ou estudantes universitários, por exemplo). Todavia, a leitura de "As Cores das Coisas" não nos aponta (apenas) para este caminho. Escreveu o livro a pensar em algum público em concreto?
Quis escrever um livro de divulgação da cor, da compreensão de como as cores funcionam e simbolizam na natureza e nos artefactos. Neste sentido, pode dizer-se que o livro é vocacionado para o público, em geral. Escrevi-o, porque temos muitos livros dedicados à cor isolada, em abstrato, e à cor nas artes visuais, mas o segmento das pessoas que se interessam pela cor na cultura material, nos objectos que nos rodeiam, na relação entre as várias artes e as cores, na publicidade e, genericamente, no design, está pouco contemplado.
Acredita que a linguagem da cor que é o olho acaba por ser muito mais complexa do que poderíamos pensar? Como podemos avaliar essa complexidade?
A cor é de uma complexidade alucinante. É por isso que lhe chamo "a louca da casa", expressão que a tradição racionalista empregava a propósito da imaginação, conferindo-lhe um sentido negativo. Por um lado, a cor é profusa, permite a distinguibilidade entre as coisas, é bem articulada e aprende-se com facilidade. Por outro, a cor muda consoante a iluminação, altera-se na vizinhança com outras cores, podendo, inclusive, provocar impossibilidade de as fixar com o olhar, faz mudar de cor as cores mais flexíveis como o cinza claro, pode ser ao mesmo tempo fria e quente. A cor é uma espécie de Zelig, personagem principal do filme homónimo de Woody Alen, que mimetiza as personagens e coisas na sua vizinhança. Na cor, a mudança camaleónica em contacto com as demais não vai no sentido da similitude, mas no de uma maior diferença. Na natureza, é fascinante a possibilidade que os machos possuem de mudar de cor, durante a época da reprodução, para atraírem as fêmeas. De cinzento baço, ou de super-preto, os machos podem ficar com o ventre turquesa cintilante e os olhos azuis durante a "época de caça". Estes são apenas exemplos que mostram como as estratégias da cor são perturbantes. Neste livro, a expressão "a louca da casa" põe em evidência a complexidade esplendorosa da cor.
Embora "As cores das coisas" seja resultado de anos a fio de investigação e estudo, procurou convocar também olhar da poeta?
Esse olhar está, em princípio, em cada coisa que olho. Não o convoquei, mas o olhar da poeta sobre as coisas está inscrito em mim e reflete-se na linguagem. A paixão da escrita é tão envolvente que às vezes já me sentia a voar, enquanto os meus dedos teclavam. Não misturo as águas, a não ser que seja propositado, o que não é o caso.
O meu mestrado e doutoramento foram escritos numa escrita mais "económica", porque cada propósito textual pede uma linguagem adequada. Este livro inclui um trabalho de pesquisa actual e surge depois da maturação de muitas das questões infindáveis que as cores levantam, sabendo que haverá sempre novas descobertas, como a recente descoberta da Roxana Bojak sobre o facto de a geometria riemanniana deixar de ser adequada à percepção da diferença entre as cores, mas não se tendo ainda encontrado a geometria que explica estes aspectos. Isto é excitante! E a pesquisa nunca pode ater-se apenas a livros, mas a práticas e à leitura sistemática de artigos nas principais revistas científicas. Para mim, toda a investigação sobre a cor tem algo de poético. Digamos que não me preocupei com a contaminação do olhar da poeta, pois a cor é a linguagem poética do olho.
Mais de 200 anos depois de Goethe a ter formulado, "A teoria das cores" está hoje muito distante da visão que domina nos nossos dias?
Trata-se de um trabalho notável que Goethe desenvolveu, sobretudo com a intenção de refutar a teoria de Newton, mas mesmo na época, nunca foi inteiramente aceite no meio dos físicos, sobretudo pelo facto da sua componente de assumida subjetividade. Os estudos no âmbito da luz e da cor são incessantes e vão alterando, inclusive, as ideias consensuais, até agora aceites. A Física Quântica veio mostrar a perceção a uma outra luz. No entanto, alguns dos aspetos das teorias anteriores ainda são aceites. No caso de Goethe, a proporção das cores no contraste de quantidade - em que se procuram as proporções rigorosas das cores para conseguir um equilíbrio lumínico - foi mantida intacta por Johannes Itten, aquando professor na Bauhaus, e continua vigente.
Em que sentido somos mais permeáveis às cores do que pensamos?
Na verdade, penso que não temos muita consciência da nossa extrema sensibilidade à cor, porque a cor não nos avisa: irrompe, toma-nos à revelia, causa-nos emoções, muitas vezes oriundas do inconsciente. Basta pensarmos na diferença em acordar num dia de sol a entrar, ou num dia cinza baço.
A própria publicidade se serve, frequentemente, da cor com a intenção firme de nos manipular. O vermelho causa-nos emoções diferentes das provocadas por outras cores, porque o vermelho é a cor das cores, a mais impactante, a mais vibrante e sensual. Grandes marcas usam o poder manipulador do vermelho, como a Coca-Cola. A atenção das crianças requer cores, não só vivas, mas bem distintas entre si, como as cores usadas pela Lego, sobretudo no Lego duplo, as cores usadas pela Chico, pela Fisher Price, etc. As cores das cidades, das casas, dos seus interiores auferem de um poder enorme sobre os nossos estados de espírito. As cores que vestimos também influem, pois como bem nota a marca Newman num slogan dos anos 70: "A vida é demasiado curta para vestirmos triste". Na própria linguagem, usamos a cor para veicular valores. Hoje, podemos nem compreender o que estamos a dizer, quando usamos, por exemplo o termo "denegrir".
Ao longo dos últimos dias, temos visto como as autoridades do Catar tentam reprimir o uso de objetos que representam as cores do arco-íris, por estar associado à luta pelos direitos da comunidade LGBT. As cores têm mais poder do que imaginamos?
Há muitas culturas com tabus que são incompreensíveis para culturas que não partilham as mesmas formas de estar no mundo e, por isso, as mesmas interdições. Em relação ao arco-íris, há hoje essa conotação fortemente negativa, interditando a diferença, ou fazendo notar que existe uma diferença, como se todos nós não caminhássemos na margem, em jeito de exploração do que somos. No livro, conto a história do mural que o artista de Street Art, Okuda San Miguel, oriundo de Santander, fez em Moscovo. Começou o trabalho por um círculo cromático, que foi compreendido como sendo um arco-íris, um dos maiores símbolos da homossexualidade, interdita na Rússia. As tentativas para disfarçarem o arco-íris acabaram por dar origem a polémicas, por pôr a claro o tabu e esta agitação chegou à comunicação social. Okuda acabou por chamar a este trabalho "Bandeiras de Liberdade" e foi um processo artístico exemplar, que nos fez perceber o poder do envolvimento social, transformação e inclusão através da linguagem impactante da cor. Nos artefactos, o poder das cores é proporcional às emoções que desencadeiam e às consequentes ações, pois o símbolo confere identidade. Assim, tente imaginar-se o caos se alguém trocasse as cores dos clubes de futebol!
Por muito aperfeiçoado que hoje esteja o estudo das cores, acha que a forma como lidamos com elas ainda pertence sobretudo ao domínio dos sentidos e dos instintos?
Sim, o estudo da cor e a visão da cor constituem duas realidades distintas. A nossa resposta à cor é instintiva, intuitiva e emocional. Mas, se a nossa intuição não for guiada, não tiver sido objeto de aprendizagem, pode originar equívocos. Gostar muito de violeta carregado não significa estender este gosto à pintura das paredes de um quarto. Há áreas em que a planificação da cor é um requisito, como o urbanismo, por exemplo. A liberdade total na aplicação da cor só é possível quando não temos de nos submeter, ou aos outros, à perceção da cor escolhida. Na luz com que iluminamos e com que vestimos os produtos, não há nada de aleatório, mas requer sensibilidade e ciência da cor, visto que o modo como apreendemos as cores pertence ao domínio da sensibilidade e das emoções inconscientes e é por isso que o uso da cor deve ser ético e eficaz.
O espetro cromático abarcado pela publicidade é cada vez mais alargado. Não há cores interditas na publicidade?
Hoje há, sobretudo, cores menos utilizadas do que outras. As cores interditas correspondem, quase sempre, a ideologias, a tabus. Imagino que neste momento, na Rússia, não será bem aceite conjugar o amarelo com o azul.
Na publicidade, interessa sobretudo que as cores sejam impactantes, ofereçam boa visibilidade e harmonia. Por exemplo, para assinalar um supermercado, desde uma certa distância, interessa saber que o vermelho é a cor que tem maior velocidade de leitura e uma boa visibilidade, pelo que é muito usada nos sinais de trânsito. Além de que é uma cor que ordena, como no sinal de stop e nos semáforos.
O espetro está hoje muito mais permissivo. Há cerca de 50 anos, o violeta era a cor mais mal amada em publicidade: má visibilidade à distância, cor que se afasta e se dirige mais à razão. As emoções desencadeadas pelo uso de violeta em objetos eram sobretudo de inquietude e mistério. Mas se vivêssemos em Inglaterra, na época vitoriana, mais produtos tenderiam para o violeta, tal como a publicidade aos mesmos, como aconteceu à marca Cadbury, que fornecia cacau e produtos relatos, por mandado, para a casa real. Nestes casos, há estratégias de contextualização da cor para a tornar mais evidente e agradável.
De que forma a publicidade tem contribuído para ajudar a mudar a perceção que temos de algumas cores?
O exemplo mais marcante é o da cor amarela, a cor mais conotada negativamente, desde a Idade Média até ao século XIX. Era a cor dos proscritos, dos maridos traídos, das prostitutas, dos judeus, de casas onde viviam pessoas com doenças contagiosas, etc.
Na Volta a França, patrocinada e organizada pelo jornal L"Auto, as páginas amareladas do jornal, estiveram na origem da camisola amarela. E hoje, em muitos países, a camisola amarela não se refere apenas ao ciclismo, mas estendeu o seu uso a outros vencedores. No fundo, o amarelo sofreu um volte-face, nitidamente em virtude da publicidade.
Seria muito difícil vermos a Coca Cola ou a Nívea, por exemplo, mudarem de cor. Acredita que a força das cores suplanta a da própria publicidade ou marketing?
Acredito que o poder das cores pode suplantar o marketing e a publicidade, mas é preciso especificar alguns aspetos.
A Coca-Cola fez grande publicidade para mudar a cor do seu conteúdo, de castanho para transparente, depois de considerado que o corante era pouco saudável. A verdade é que as vendas caíram a pique e, em 3 meses, a Coca-Cola voltou a saltar em castanho para a boca. Mas a nossa ideia da Coca-Cola é indissociável da cor vermelha, da velocidade, juventude, desafio, adrenalina, sensualidade, força e impacto que causa em nós.
As embalagens da Nívea, sobretudo se pensarmos na lata que toda a gente trata por tu, está muito bem pensada, pois é azul, um azul primário, vivo e brilhante, aliciante, que simboliza hidratação e frescura, enquanto que o branco, que apresenta um ótimo contraste com o azul, simboliza pureza, cremosidade e, por sinestesia, qualidade de macio. O aspeto que se coloca aqui é a importância do marketing e da publicidade irem de encontro à identidade da marca veiculada pela sua embalagem, ou pela cor do produto, devendo reforçar a identidade do produto ou da marca. No caso já apontado de um clube de futebol, não havia publicidade que fizesse um adepto aceitar uma mudança drástica na cor. Mas se estivermos perante uma identidade que queremos descartar, como a identidade de um banco fraudulento, uma empresa acusada de branquear dinheiro, então a publicidade e o marketing terão como função reverter a identidade da empresa. O aspeto mais pregnante passa sempre pela mudança da cor.
Portugal foi, durante muito tempo, um país associado a cores sombrias, até pelo vestuário dominante. Há uma dimensão sociológica e até política associada à cor?
Há sempre. E outras dimensões, como a ideológica e a religiosa. Mais genericamente, há uma dimensão cultural. Durante a Idade Média, e a Reforma, por exemplo, as pessoas deveriam vestir as cores austeras, o mais possível na escala acromática (preto, branco, cinza), já que a cor, em virtude da sua sedução e de ser tintada artificialmente, era considerada pecaminosa. Politicamente, somos manipulados através da cor, até nos jornais afetos a determinados partidos, o que é muito claro, por exemplo, durante as campanhas eleitorais. A Sociologia da cor é muito interessante, porque as classes dominantes usavam no vestuário tecidos com cores brilhantes, cuja tintagem era muito mais dispendiosa. As cores brilhantes eram mais próximas umas das outras - nem que fossem tão distantes como o verde e o vermelho - do que um azul brilhante e um violeta baço.
A nossa cultura foi sempre pouco exuberante em termos de vestuário, mas também em termos de expressividade gestual e vocal. As pessoas são contidas, relativamente a outros países de cultura mediterrânica, como a Itália. O temperamento que o Eduardo Lourenço atribui aos portugueses no seu livro Labirinto da saudade tem sofrido algumas flutuações, mas continua a fazer sentido. No inverno, o vestuário das pessoas não alegra as ruas, embora o verão traga consigo um colorido estival. Mas as pessoas de mais idade continuam a vestir-se como se a idade lhes impusesse pudor face ao uso da cor no vestuário. E as perdas, os desgostos, refletem-se no vestuário, como se tivéssemos de exibir o sofrimento aos olhos dos outros.
É no entanto uma realidade que os homens já não têm sobre si o peso da exibição da virilidade através das cores sombrias e estão hoje muito mais livres e coloridos. A cor que vestimos envia mensagens na rua e muitos portugueses continuam a gostar de passar desapercebidos.
O livro acaba por ser também um guia cultural, pela forma como apresenta um conjunto de obras literárias, cinematográficas ou musicais, entre outras, que partem da cor. A cor pertence tanto à cultura como pertence à natureza?
Nunca tinha pensado que este livro pudesse ser considerado na vertente de guia cultural, o que me deixa muito feliz. Talvez esse fenómeno advenha da minha escolha de falar sobre as cores, não só na natureza, mas na cultura, tanto material como imaterial. A cor tomada em si, isolada e em abstrato, não nos dá a ver a sua "essência", pois esta encontra-se onde a cor habita, na história do vestuário ou da utilização da luz, no porquê das cores dos mapas da cidade, da Lego, das casas, na linguagem, no supermercado, na antropologia das sombras em diferentes culturas. É nas narrativas, em qualquer âmbito, que as cores nos deixam entrever o seu quê e o porquê em toda a complexidade.
Nesta perspetiva, é impossível não referir exemplos provenientes da literatura, do cinema, da fotografia, da música, das artes urbanas, etc. As artes visuais são, imediatamente, uma narrativa das cores, ainda que estas se possam situar na escala acromática.
Muitas vezes, não se constituem apenas como índice de si, mas também como índice de outra coisa, como valores, costumes, desejo, inquietude, pois a cor simboliza sempre e é conotada com o positivo ou com o negativo. A música tem uma relação privilegiada coma cor, sobretudo através das sinestesias e alguns compositores são, inclusive, sinestetas verdadeiros, i.e., veem certas cores ao som de determinadas composições. Os livros, para além de poderem referir as cores do que descrevem, de sugerirem cores, despoletam a imaginação, que cria lugares, dá formas e cores às personagens e aos lugares. A língua dá a ver com uma facilidade de espantar.
Na natureza, a cor é absolutamente indispensável às espécies que possuem um organismo apropriado para a visão destas, como é o caso de certos animais, como nós próprios. E, neste caso, permite uma distinção muito maior e mais rápida, o que serve à defesa e ao ataque. Os sistemas visuais são diferentes consoante as necessidades de sobrevivência, que não são as mesmas na savana e na estepe, nas serpentes, nas abelhas, nos macacos.
Mas a cor não existe. Ela é sempre originada por um conjunto de fatores, como a luz, o ar e o aparato visual, incluindo as ligações ao cérebro e o cérebro, nomeadamente o córtex occipital, porque para que se vejam coisas coloridas é necessária a transformação dos comprimentos de onda do espetro visível em cor.
A sua relação com a realidade cromática sofreu alguma variação ao longo dos anos?
Sofreu e de forma insólita. Eu sempre adorei a cor. Lembro-me de até alguns anos atrás não ter nada preto, nem carteira ou sapatos. Quando ainda miúda nos mudámos para a casa, que hoje continua nossa, funcionando como Casa das Artes, o meu quarto tinha as paredes verde-garrafa. Mais tarde, descobri, com espanto, que deixei de conseguir vestir roupa verde, nem tê-la no armário, a não ser verde água e verde tropa. Só há uns 3 ou 4 anos é que fiz a ligação entre estes factos, mas a descoberta não me curou do desconforto causado pelo verde. Acho que fui gostando cada vez mais do rosa chá, do rosa seco e do chamado "nude". Inconscientemente, sinto-a como uma cor que me agasalha do ponto e vista das emoções. Mas o amor pelo vermelho, em doses controladas, e pelas gangas azuis, não se alterou
O que dá cor aos seus dias?
A bondade e a boa disposição, o humor e o amor, o encantamento e a solidariedade, as saídas com os amigos e uma flûte de champagne: tudo isto à escrita, tudo isto ao mar.
Para si, a felicidade tem uma cor?
Bem, a felicidade tem cor e isso é um facto indubitável. No que me toca, a cor da felicidade depende de pequenas circunstâncias do dia a dia e das coisas que me causam emoções. Mas também sei que a felicidade é sempre luminosa e nunca escura. É a cor amarela com que a luz branca do sol chega até nós e nos aquece por fora e por dentro, a transparência da cortina de chuva no verão e o cheiro que fica quando se evapora. É o vermelho das flores, das papoilas, dos hibiscos, das rosas e dos sentimentos. O rosa que visto quando quero sentir-me agasalhada. A cor da casa a que chego, a do quarto em que me recolho para sonhar e dormir. Sinto-me aconchegada com um amarelo tão claro que só se distingue bem na vizinhança do tecto. A felicidade é feita da luz que me inunda através do vidro que deixa atravessar a vida das gentes e da luz que me vivifica nas esplanadas do mar, com todas as suas cores líquidas.
Mas, neste pacto urdido entre mim e o mundo, a minha felicidade tem todas as cores do arco-íris, que desvela a variedade visível dos comprimentos de onda que constituem a luz branca, e nos encanta, "somewhere over de rainbow". Ou o próprio branco que é a mistura de todas as cores-luz e simboliza a paz. No branco ou no arco-íris, a minha felicidade tem a cor a paz.
Por último, desafiava-a a escolher cinco produtos que são indissociáveis de uma determinada cor e a comentá-los num parágrafo, para perceber até que ponto a cor interfere com a perceção que temos desses referidos produtos.
Nos produtos de uma marca bem sucedida, todo o branding é pensado até ao mínimo pormenor e a cor é, de longe (cerca e 80%), o factor de mais impacto visual no seu êxito.
1. Ferrari: por mais que existam Ferrari de várias cores, a ideia de Ferrari é vermelha. Aqui a prevalência da cor sobre o produto te a ver com o impacto do vermelho e com o facto de aumentar o ritmo cardíaco, indiciando de imediato a velocidade, aventura, desafio, adrenalina.
Ferrari, o vermelho vibrante da aventura.
2. Impossível pensar em mudar a cor de um logótipo e dos produtos imensos que representam um clube de futebol. Qualquer outra cor é adversária feroz e no futebol as emoções estão ao rubro, seja qual for a cor do "rubro".
Ser aficionado é vestir a cor do clube.
3. No ocidente, o simbolismo implícito no vestido de noiva é o de pureza, que é idealmente, e de facto, representado pelo branco. Mesmo que algumas noivas se vistam de outra cor, a ideia de vestido de noiva continua a ser branca por definição, convicção e costume.
O vestido de noiva tinge o corpo com a pureza do tecido.
4. No centenário da Coca-Cola, o postal de aniversário que foi distribuído era todo vermelho com a silhueta a branco da garrafa icónica, em vidro. As letras impressas na garrafa diziam "Coca-Cola" a vermelho, mas embora se pretendesse reforçar a identidade da marca, esta já estava perfeitamente assegurada. O vermelho da Coca-Cola diz-nos que é uma bebida que estimula a amizade, o companheirismo, a juventude em qualquer idade, a alegria de viver e o dinamismo.
A Coca-Cola corre na garganta a alegria esfusiante.
5. A Waterman sempre esteve ligada à cor violeta da tinta e toda a sua imagem remete para o violeta, que é uma cor muito dirigida ao intelecto.
Waterman: o violeta com que os sentimentos fluem na escrita.