Sant Jordi: uma festa de livros e rosas na Catalunha que inspirou o Dia Mundial do Livro
O Dia Mundial do Livro e dos Direitos de Autor, que se comemora anualmente a 23 de abril, foi inspirado por uma tradição da Catalunha.
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A efeméride foi proclamada na 28.ª Conferência Geral da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO), em 1995. Mas a sua origem está associada às comemorações do dia de Sant Jordi [São Jorge, em português], que em terras catalãs são vividas nas ruas, a 23 de abril, numa festa de livros e rosas, onde se misturam tendas de livreiros, editoras e escritores, e de floristas.
Barcelona transforma-se, nesse dia, num centro de cultura e romantismo, cruzando duas celebrações numa só:
Uma inspirada na lenda romântica do cavaleiro S. Jorge, que salvou uma princesa das garras de um dragão e de cujo sangue derramado nasceu uma roseira de flores vermelhas, e outra com origem no início do século XX, quando o "Grémio de Livreiros e a Câmara Oficial do Livro" da Catalunha instituíram a comemoração do Dia do Livro a 23 de abril, para assinalar a data em que morreram os escritores William Shakespeare, Miguel de Cervantes y Garcilaso de la Vega. Curiosamente, neste mesmo dia, em anos diferentes, nasceram e morreram outros escritores como Josep Pla, Maurice Druon, K. Laxness, Vladimir Nabokov ou Manuel Mejía Vallejo. Os catalães seguem a lenda do cavaleiro que salvou a princesa do dragão e consideram a data também como Dia dos Namorados.
Casais, amigos e família oferecem entre si livros e rosas e calcula-se que sejam vendidos, neste dia, na Catalunha, mais de 1,5 milhões de livros e mais de 6 milhões de rosas.
“A festa de Sant Jordi é uma das festas mais importantes da Catalunha. Combina elementos de romance, cultura e celebração. É uma espécie de dia dos namorados catalão, onde os homens presenteiam as mulheres com rosas vermelhas, simbolizando o amor, e em troca as mulheres presenteiam os homens com livros em comemoração ao Dia Mundial do Livro”, descreve o delegado do Governo da Catalunha em Portugal, Rui Reis, referindo que a efeméride foi proclamada pela Unesco em 1995 e passou a ser celebrada a partir daí em todo o mundo, mas teve a sua origem na Catalunha.
“A ideia original [de um Dia do Livro em Espanha] partiu de um escritor valenciano, radicado em Barcelona, Vicente Clavel Andrés, que a propôs à câmara oficial do livro de Barcelona em 1926 e que, quatro anos depois, em 1930, passou para o dia 23 de abril para se comemorar que neste mesmo dia morreram William Shakespeare e Miguel de Cervantes”, relata Rui Reis, adiantando que “a festa, que coincidia com o Sant Jordi, criou raízes na Catalunha e quase desapareceu no resto do estado espanhol, onde deixou de ser celebrada em muitos lugares ou permaneceu de forma residual”.
Hoje em dia, a festa catalã de Sant Jordi, refere aquele responsável, é assinalada "com várias atividades culturais, incluindo feiras de livros, eventos literários, além de concertos e apresentações artísticas nas ruas". “As cidades e vilarejos ganham vida e as pessoas estão nas ruas, felizes, com decorações encantadoras e costumam sair para comprar livros e rosas, aproveitando a atmosfera festiva”. São Jorge é "a figura central, representando a luta contra o dragão, que simboliza o triunfo do bem sobre o mal". Reis adianta ainda que, nesta festividade, editoras e escritores aproveitam para lançar as últimas novidades e contactar com o público.
Umas das tradições do Sant Jordi é o Pregão da Leitura por um escritor e Rui Reis lembra que José Saramago, o Nobel da Literatura português, foi responsável pelo referido momento na edição de 2004. Em Portugal, desde 2020, também se celebra a festa dos livros e das rosas, promovida pela Delegação do Governo da Catalunha, e, este ano, o tema escolhido foi "Literatura e Paz". “Quisemos juntar a celebração do Sant Jordi à reflexão sobre um tema de estrita atualidade, como é a paz. E que melhor maneira de o fazer através dos livros, ver como o poder das palavras pode influir na construção da paz”.
O Dia de Sant Jordi celebra-se no próximo 23 de abril, na Biblioteca Palácio Galveias, no centro de Lisboa, e terá entre os convidados a Diretora do Instituto de Estudos Políticos da Universidade Católica Portuguesa, Mónica Dias, a docente de Filologia Portuguesa da Universidade de Barcelona, Isabel Soler, e a violoncelista e musicóloga Anna Mora. A sessão será encerrada pelo violoncelista Daniel Claret, que incluirá no repertório de compositores catalães, como Enric Casals.
A editora LeYa e a Rede de Bibliotecas de Lisboa colaboraram na organização. Serão oferecidos rosas e livros ao público presente.