"Sanatorium", do mexicano Pedro Reyes, chega ao MAAT, em Lisboa, 10 anos depois da criação. Até 11 de outubro.
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Concebida originalmente em 2011 para o Museu Guggenheim de Nova Iorque, a exposição "Sanatorium", do artista mexicano Pedro Reyes (n. 1972), que mistura arte com psicologia, pode ser encontrada, pela primeira vez em Portugal, no Museu de Arte, Arquitetura e Tecnologia (MAAT), em Lisboa.
Num ano em que continua a luta contra a pandemia de covid-19, a curadora da exposição Inês Grosso revela ao JN que este momento seria a melhor oportunidade para trazer o trabalho de Reyes ao nosso país.
"Com a pandemia, muitas notícias são sobre saúde mental. O tema ganhou dimensão. As pessoas foram afetadas pelo medo, pelo isolamento, pela privação de contacto e por tudo o que veio com esta doença", afirma, para explicar, também, uma intenção de democratizar a saúde anímica.
"A Sanatorium é montada à volta da saúde mental e da necessidade de desconstruirmos tabus em volta da terapia. Portugal ainda tem a mente muito fechada em relação à procura de terapia e ao bem-estar psicológico e emocional. Aqui, como o tema surge envolvido na arte, pode ajudar a mudar uma parte desses pensamentos e mostrar que o recurso à terapia não é algo de que deva ter-se vergonha. Pelo contrário".
Numa mistura de arte e psicologia, a exposição funciona como clínica temporária na qual os visitantes são acompanhados por "terapeutas" não profissionais em diferentes terapias. "São propostos nove tratamentos. Todos eles são criados pelo artista em parceria com um grupo consultivo de pessoas ligadas à psicologia", revela Inês Grosso.
"O visitante chega, é recebido por uma "terapeuta" que lhe fará algumas perguntas, tal e qual como uma triagem. Depois de diagnosticado, são recomendadas três terapias especificamente para aquela pessoa".
Doenças urbanas
"Museu das vidas hipotéticas", "Vacina contra a violência", "Goodoo", "Citileaks", "Ex-voto", "Mudras", "Casino filosófico", "Mirrorring" e "Teste de compatibilidade para casais" são os tratamentos placebo que compõem este projeto e proporcionam espaços de encontro, diálogo, um território para contar histórias de vida que visam curar as doenças associadas à vida contemporânea.
"A ideia é curar as pessoas das doenças urbanas. É um pouco uma chamada de atenção para como o stress da nossa vida pessoal afeta o nosso bem-estar físico e emocional. Mas precisamos que quem visite a exposição esteja aberto a participar, a contar-nos um pouco da sua história, sem medos ou vergonhas. O "jogo" é mesmo para as pessoas conseguirem uma libertação pessoal", insiste Inês Grosso.
Relevante é informar que apesar do tema e da abordagem, a exposição continua a ser constituída por arte. "Uma das coisas de que tínhamos receio era que as pessoas não percebessem que isto é apenas um jogo. É só uma forma de nos fazer pensar de que maneira a saúde mental e o acesso à terapia são essenciais para o bem-estar pessoal. Estamos só a tentar chamar a atenção para este tema que tem cada vez mais importância e que não poderia ser mais atual".
Inês Grosso reconhece estar extremamente feliz com o sucesso que "Sanatorium" está a alcançar em Portugal.
"Estamos muito satisfeitos com o feedback que temos recebido e com a quantidade de histórias que já ouvimos. Tinha um pouco de medo que o povo português ainda não estivesse disponível para algo deste género. É muito gratificante perceber que o nosso objetivo está a ser cumprido e que as pessoas saem da exposição a sentirem-se melhor com elas mesmas".