Realizador apresentou em Cannes novos dados sobre a morte de Kennedy.
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Trinta anos depois de "JFK", Oliver Stone regressa ao que considera o crime mais hediondo da história da América e que continua por resolver. Abordando o tema desta vez no formato do documentário, que já tem utilizado com sucesso, dirigiu agora "JFK revisited: through the looking glass".
A ocasião revelou-se necessária com a libertação de documentação que se encontrava protegida até 2029, mas que foi recentemente disponibilizada para investigadores e para os cidadãos em geral. Trata-se sobretudo de novas imagens dos acontecimentos de 22 de novembro de 1963, em Dallas, no momento dos disparos que mataram John F. Kennedy, e da autópsia, que não foi realizada no local, contrariamente ao que ditava a legislação no Texas, sendo feita já em Washington, para onde o corpo do presidente foi levado.
O documentário centra-se ainda na desmontagem do Relatório Warren, que determinou que a morte de Kennedy se deveu a disparos cometidos apenas por Lee Oswald, sublinhando a teoria da bala mágica, e descartando uma teia de relações entre personalidades da vida política e institucional americana que, na opinião de Stone, não deixam dúvidas sobre a conspiração organizada para liquidar o presidente. Aliás, o documentário revela também dois planos para matar Kennedy, desmantelados antes dos trágicos acontecimentos de Dallas.
Principal responsável: a CIA. Motivo: o plano de Kennedy, bem visível num discurso proferido algumas semanas antes da sua morte, de alcançar a paz no mundo, não uma paz à americana, imposta pela armas. Ao contrário de Kennedy, que se preparava para retirar soldados do Vietname, o seu sucessor, Lyndon B. Johnson, levaria o país para um conflito trágico de que existem ainda sequelas na sociedade americana.
Oliver Stone esteve no Vietname e veio de lá um homem diferente, como se pode bem verificar na sua excelente autobiografia, ainda não editada em português, e na assinatura vários filmes sobre o conflito, como "Platoon - Os bravos do pelotão", sobre a sua experiência, ou "Nascido a 4 de Julho".
Em conversa com o JN, a publicar na íntegra quando "JFK revisited: through the looking glass" chegar às nossas salas, Oliver Stone revelou não ter tido muito apoio da família Kennedy, com a exceção do filho do antigo presidente, Robert F. Kennedy Jr., cujo depoimento vemos no filme, basicamente por o documentário mostrar imagens terríveis do corpo de JFK durante a autópsia. "Mas é um serviço público", disse-nos Oliver Stone. Questionado sobre se tinha medo da CIA, disse: "Já tive. Agora já não. Estou velho. Mas se aparecer morto, não foi suicídio".